terça-feira, 22 de outubro de 2013

193. "Trolls" e "Fanboys"

"TROLLS" e "FANBOYS" do Karatedô.

Não é novidade para ninguém que ainda há muita coisa errada sendo transmitida como correta no mundo do Karatedô.

O grande problema desta questão está no fato de que não menos considerável é o número de pessoas que defendem o errado com unhas e dentes. A este tipo de atitude, no mundo dos video-jogos, criou-se uma classificação para identificar determinados jogadores como: "Trolls" e "Fanboys".

A diferença entre o "Troll" e o "Fanboy" é que o "Troll" não está interessado em fazer nada de jeito, a não ser incomodar os outros, sem que ganhe ou partilhe qualquer cosia útil com os demais... a não ser a própria satisfação de "chatear" ou simplesmente "incomodar" quem tem a infelicidade de cruzar o seu caminho.

Por sua vez, o "Fanboy" é aquele jogador que considera um jogo, uma empresa específica de jogos como sendo "a melhor do mundo" e vai aos limites extremos para fazerem valer o seus pontos de vista - sempre restritos ao jogo ou marca que utilizam e cegos em relação às demais empresas ou jogos.

Esta analogia pode ser facilmente aplicada no mundo do Karatedô, onde temos os mesmos "trolls" que não querem saber de aumentar o seu conhecimento, achando que o que sabem já é o suficiente e, a partir deste ponto entram em forums, facebook, blogs apenas para incomodar os outros sem trazer nada de útil à discussão e temos também os "Fanboys" que consideram as suas escolas, os seus estilos, os seus mestres fundadores "os melhores do mundo", sendo estes quase elevados à categoria de "santos" ou "deuses".

Esta questão é facilmente verificável quando Miyagi Chôjun Sensei e Mabuni Kenwa Sensei colocam em causa as classificações dos Kata feitas por Funakoshi Gichin Sensei, mostrando as discrepâncias nos livros publicados pelo próprio Funakoshi Sensei dizendo que tais classificações não existiam em Okinawa antes da migração do Karatedô para o Japão; sendo estas classificações meras "invenções" de Funakoshi Sensei! 
O problema é que... Miyagi Sensei e Mabuni Sensei têm razão!

Os "Fanboys" de Funakoshi Sensei acham um "sacrilégio", "heresia" alguém duvidar da idoneidade do seu mestre fundador (mesmo que sejam outros mestres fundadores de outros estilos que, por incrível que pareça, fundamentaram as suas desconfianças baseadas nas inconsistências das obras do próprio Funakoshi Sensei) e começam a lançar ataques desesperados e disparatados em todas as direções, tentando provar e comprovar o quão "perfeito" era o seu mestre.

O que os "Fanboys" esquecem é que os mestres fundadores eram - antes de mais nada - seres humanos e, sendo seres humanos, também erravam!

Mas... para o "Fanboy", "o mestre nunca errou", o "estilo é inquestionável"!

E, sendo assim, o que vinha errado dos tempos antigos, vai continuar errado... "PORQUE O MESTRE DISSE QUE ERA ASSIM".

Para o "Fanboy", a utilização do cérebro fica relegada para segundo plano e "pesquisar o estilo que se pratica" é algo que não se faz "porque pode por em causa os ensinamentos do mestre fundador".

Esta idolatria desmedida, quase às raias da insanidade, e a falta de discernimento entre o "santo" e o "ser humano" no que diz respeito aos antigos mestres de Okinawa continuarão a impedir que se tenha uma visão mais correta do mundo do Karatedô e uma possível correção de muita informação como um todo.

Entre tantos fatores, a pesquisa, com base em fontes diversas, deveria ser uma característica dos tempos modernos, de pessoas mais esclarecidas... Mas, novamente, não é isto que ocorre na realidade.

«Eu uso "traduções rigorosas" para fundamentar esta ou aquela informação...»

Permitam-me lançar uma questão sobre "traduções rigorosas": se o idioma japonês utiliza "ideogramas" na sua escrita, sendo "ideogramas" a "representação de ideias" e sendo as "ideias" diferentes para cada indivíduo, podemos dizer que existe uma "tradução rigorosa" quando não sabemos o que pensava o autor exatamente? 

Sem ter necessidade de muito esforço mental, pode-se afirmar que "traduções rigorosas" em se tratando do idioma japonês, na melhor das hipóteses, quer dizer que a tradução foi feita o mais próximo do contexto possível. Por quê? Porque, além de usar ideogramas, o idioma japonês é contextual, ou seja, depende do contexto do que se está a expressar.

Assim, quando lemos "traduções" é quase 100% certo que algumas coisas serão perdidas do original japonês, quer pela falta de correspondência na linguagem estrangeira, pela má tradução (por causa dos ideogramas e ideias) ou pela má interpretação (devido aos erros de contexto).

Portanto, como pode ser visto, o desenvolvimento do Karatedô tem vários aspectos: políticos, sociais, regionais etc.. Contudo, se não levarmos em consideração a pesquisa aprofundada, sem idolatrias desmedidas ou preconceitos, baseada na pluraridade de fontes e fatos verificáveis, então a única hipótese que o Karatedô teria para se afirmar como verdadeira arte marcial foi em vão... e mesmo para isto, não há a necessidade de "trolls" ou "fanboys".

Um comentário:

  1. Joseverson San, não resisto a parabenizá-lo por colocar o dedo na ferida.

    Mas pode ter a certeza que continuará a haver "Trolls" e "Fanboys" no Karate - eles REPRODUZEM-SE!

    Grande abraço!

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