domingo, 22 de dezembro de 2013

202. Como chegamos até aqui?

Pode-se resumir os problemas das Artes Marciais Japonesas a fatos concretos:

Vou começar pelo "ensino base"...

1 - 文武一 BUNBU ICHI. Este é o primeiro pilar das artes marciais japonesas: "O estudo da literatura (marcial) e a prática (marcial) são uma única coisa". Não há necessidade de ser um "Einstein" para simplesmente ler e interpretar o que significa esta expressão. Mesmo assim, vou explicar de forma simples: «ESTUDAR» e «TREINAR» têm a mesma importância! Agora...

2 - 心技体 SHINGITAI. Este é o segundo pilar das artes marciais japonesas: "Espírito, Técnica e Corpo". Esta é a sequência CORRETA daquilo que importa no treino marcial. Mas este conceito é muito mais difícil de entender e por em prática... porque a maioria esmagadora dos instrutores não faz a menor ideia do que seja "Espírito" e como desenvolvê-lo. Para piorar a situação, para "ensinar" este conceito, deve-se "viver" o conceito! Daí, o número de instrutores que têm esta formação serem extremamente raros! (Consigo contar, usando os dedos de uma única mão, aqueles instrutores que eu conheci e que são capazes de o fazer.)

Portanto, o erro começa na base!

Agora, passemos para o "ensino elementar"...

1 - Falta PESQUISA e, por isso, um grande número de instrutores "inventa", acrescenta "interpretações pessoais" e "verdades" que inicialmente nunca existiram nas artes marciais originais.
*** Resolução do problema: ESTUDO e PRÁTICA!

2- Em consequência do número anterior, alguns fatos vão sendo transmitidos e retransmitidos de forma errada, aumentando a distância entre o que é correto e o que "parece correto".
*** Resolução do problema: ESTUDO e PRÁTICA!

3 - A vida É no seu dia a dia... quero dizer, DEVERIA SER um prolongamento do comportamento no Dōjō. Infelizmente, hoje em dia vê-se apenas "Faz o que eu digo, não faz o que eu faço".
Este tipo de instrutor esquece que o ensino/aprendizagem também é feito através de EXEMPLO.
Ou seja, deve-se "viver e demonstrar" o que se ensina!
Mais uma vez, "infelizmente", muitos Instrutores só pensam em "aparentar ser um mestre Zen" no Dōjō, mas são vistos frequentemente a serem completos inaptos à realidade cotidiana.
*** Resolução do problema: VIVER aquilo que se está a transmitir. Para VIVER é necessário SABER. Para SABER são necessários QUESTIONAMENTO, ESTUDO e PRÁTICA. Não basta "parecer ser", deve-se "ser" realmente.

4 - "Ensinar apenas o que se sabe". Isto pode parecer um pouco mais complexo, mas pode ser "avaliado" de forma simples. Basta fazer uma pergunta a nós mesmos: "Eu SEI aquilo que eu estou a ensinar sem sombra de dúvida?" Ou "Tenho respostas para as minhas dúvidas (ou dúvidas dos meus alunos)?".
Na verdade, sabemos pouco e queremos ensinar muito. Aprende-se um par de técnicas e, "voilá"... domina-se uma arte marcial.
Eu costumo dizer que se não somos capazes de explicar algo de forma simples é porque não sabemos o que estamos a explicar. Até este preciso momento em que estou a escrever esta entrada no meu blog, a minha afirmação continua a ser completamente válida!
*** Resolução do problema: QUESTIONAMENTO, ESTUDO e PRÁTICA!

5 - Há uma grande diferença entre REALIDADE e ILUSÃO. Muitas vezes, alguns instrutores são induzidos a acreditar que o que ensinam é REAL ou o mais correto possível... porque foi mesmo assim que aprenderam!
Não há nada mais natural e é mesmo desta forma que isto se processa! Porque é assim que se desenvolve o ensino, a transmissão de uma pessoa para outra. Contudo, IMITAR faz parte dos primeiros passos de qualquer iniciante, mas QUESTIONAR e SABER fazem parte do mundo de quem ensina.
A maioria dos instrutores acomoda-se convenientemente na desculpa grosseira de que "o meu mestre disse que era assim" e, desta forma, justificam a NÃO necessidade de questionar seja o que for.
A esta atitude, meu amigo, chama-se ACOMODAÇÃO... Uma pessoa acomodada não busca respostas e, consequentemente, não evolui. Simples como isto.
A ilusão de que "tudo vai bem" desmorona com o primeiro questionamento... e só lhes resta uma alternativa: dizer que "o meu mestre disse que era assim" (basicamente porque não sabem a resposta ao questionamento feito)... Ou, como já vi acontecer, quando não têm respostas para os questionamentos feitos, "inventam" uma na hora!
Pior! O problema que advém com este tipo de atitude é que se criam "Deuses", "Santos", "veneráveis", verdadeiras "Vacas sagradas", pessoas inquestionáveis!
Este tipo de "indivíduo divino", quando entra em um Dōjō, é como se fosse um sol a iluminar o lugar... para alguns, evidentemente. Estas "estrelas" (bastante oportunistas, diga-se de passagem), sabem que o questionamento é inexistente e, portanto, sua posição "celeste" continua (e continuará) garantida: a perpetuação do estado das coisas.
Meu amigo, não há santos sobre a terra! Não há Deusas sobre a terra! Existe apenas outro ser humano! Que pode ou não ter as respostas que procuras.
As respostas destas pessoas, destes outros seres humanos às suas dúvidas irão demonstrar o quanto estas pessoas realmente entendem do que falam.
*** Resolução do problema: QUESTIONAMENTO, ESTUDO e PRÁTICA!

Para concluir, noventa e nove por cento dos problemas do ensino atual de artes marciais japonesas pode ser resolvido com pesquisa efetiva e aplicação real do conhecimento adquirido através da TEORIA e PRÁTICA, compreensão correta, vivência correta, exemplo correto, aprendizagem e ensino corretos. Sem enganos, sem falcatruas, sem tretas, sem desonestidade... Mas trasnmitir apenas a "verdade" da dualidade aprendizagem/ensino das Artes Marciais Japonesas como preconiza a segunda diretiva do Dōjōkun da Shōtōkan:

一、誠の道を守る事。
HITOTSU, MAKOTO NO MICHI O MAMORU KOTO.
"IMPORTANTE, PROTEGER O CAMINHO DA VERDADE.

(Falar é fácil, fazer...)

Pode-se, portanto, parafrasear Neil Armstrong no que diz respeito ao estudo e prática marcial: "É um pequeno passo para o instrutor, mas um grande passo para o universo do ensino marcial"!

Relembrando...


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

201. UVAS #23 - Conceito de "ILUSÃO".


* ATENÇÃO!!! SE É SENSÍVEL A TERMOS GROSSEIROS NÃO LEIA OS MEUS POSTS! *

Tenho visto, ao longo dos anos, pessoas que ao pisarem dentro do Dōjō sofrem uma transformação radical!
De repente, há um código de conduta a ser seguido, regras, normas e etiquetas a serem obedecidas e o respeito pelo outro ser humano tem de ser mantido a todo custo. Estas pessoas - como se por magia - passam a ser "outras pessoas"... Não há nada de errado nisto...

(No fundo, questiono-me frequentemente o quanto disto será "mera atuação teatral para uma plateia mais ou menos seleta" ou "sincero desejo de que este tipo de comportamento social fosse realidade".)

Mas a questão que eu mais observo é que, ao sair do Dōjō, estas mesmas pessoas esquecem todos os valores (aprendidos há alguns minutos atrás) através das artes marciais japonesas e voltam a desrespeitar os outros seres humanos, voltam a achar que a má educação faz parte da cultura local e que aquilo que está aprendendo numa escola de artes marciais só serve para quando esta pessoa estiver "representando o seu papel" de artista marcial.

Esta é a razão pela qual eu afirmo que os Dōjōkun NUNCA irão funcionar! Porque as pessoas não sabem levar para fora do Dōjō os princípios mais elementares e básicos de civismo e conduta marcial da cultura japonesa.

Não adianta envergar um Karategi, um Jūdōgi, uma Hakama, um Ninja Ishō etc. e "armar-se" em seguidor do Bushidō, quando em casa é um mau filho (uma má filha), um mau marido (uma má esposa) ou um mau pai (uma má mãe)... um mau ser humano. ISTO É SER HIPÓCRITA! E vai contra o que defendem as artes marciais japonesas.

Eu afirmo que é hipocrisia porque EU JÁ VI, com os meus próprios olhos, instrutores, fora do Dōjō, a cairem pelas ruas de tão bêbados e estarem a incitar outras pessoas à violência. 
EU TAMBÉM JÁ VI, com os meus próprios olhos, instrutores a espancarem pessoas mais fracas... 
Eu poderia continuar a citar muitos outros maus exemplos de conduta social por parte de instrutores e praticantes que - na MELHOR das hipóteses - não fazem a menor, a mínima ideia do que se trata realmente aquilo que treinam - aprendem ou ensinam.

Ser "um exemplo" a ser seguido?! Só se alguém estiver a olhar, caso contrário, pode-se ser tão trafulha e irresponsável quanto possível! Isto é o que pensam alguns indivíduos cuja formação moral é bastante questionável.

Passemos, então, à questão principal sobre este assunto: de quem é a responsabilidade pela falta de orientação marcial das escolas contemporâneas? (Eis uma boa questão!)

Federações? Associações? Clubes? Instrutores? Alunos? Será que há um excesso de instrutores cuja formação está voltada - de forma conveniente - apenas para valores que visam apenas alto rendimento (econômico)? (Omitindo as orientações mais básicas como a pesquisa e a comportamento moral e, daí, o fraco desempenho nestas áreas). Será uma falta de conhecimento efetivo para transmitir o verdadeiro significado do que sejam realmente artes marciais? Se é que se sabe de verdade o que as mesmas significam...

Eu acho - e isto é a minha opinião pessoal - que este é um dos erros mais grosseiros a nível do que seja a cultura marcial japonesa!

Como eu disse antes, é mesmo por isto que os DōJōkun NUNCA irão funcionar ou serão postos em prática,,, basicamente porque aqueles que deveriam seguir o ensino correto e comportamento irrepreensível e dar bons exemplos, são os primeiros a fazer "vista grossa" aos "desvios" de orientação pedagógica.

Portanto, assim como o interesse pela pesquisa e pelo estudo das artes marciais japonesas, os valores morais, de hombridade e honestidade destas artes são "convenientemente deixados de lado". E sabem por quê? Porque é mais fácil "cair na garrafa" (ou em "outras coisas" menos abonatórias), ser um mau filho(a), um mau pai (uma má mãe), um mau marido (uma má esposa) ou mau ser humano quando os outros não estão olhando, porque é mais simples "parecer marcial" do que "ser marcial". Isso é inquestionável!

Vive-se na "aparência" das coisas, naquilo sobre "o que os outros vão pensar" como se fosse a forma correta de viver as artes marciais. Mentimos descaradamente e de forma vergonhosa para nós mesmos e para os outros como se fosse a coisa mais natural deste mundo!

Portanto, para resolver o estado das coisas, aqui vai um resumo simples:

TREINAR as Artes Marciais.
ESTUDAR as Artes Marciais.
PESQUISAR as Artes Marciais.
VIVER as Artes Marciais... Tudo isto implica ESFORÇO!

Enquanto não formos realmente HONESTOS (com nós próprios em primeiro lugar e depois para com os demais) e não agirmos com determinação, então não há solução à vista e o estado das coisas só tende a se perpetuar.

Sejamos pelo menos um pouquinho sinceros: na realidade, isto não é absolutamente nenhuma novidade ou que já não se soubesse há muito tempo... mas isso é mais uma daquelas coisinhasas que "o melhor a estar calado" porque, caso contrário, será necessário fazer algum "esforço" qualquer... e a "Lei do Menor Esforço" SEMPRE vai falar mais alto!

Assim, vivemos na ilusão de ser "samurai"...  de estarmos "perpetuando os valores do Bushidō" (estes estão escritos em todos os cantos da internet... como se algum dia venham a ser vividos realmente), quando na realidade estamos caladinhos a manter as coisas exatamente de acordo com as nossas conveniências.

Isto é ILUSÃO!

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

200. ORE - por Miyamoto Musashi.



ORE em japonês significa "EU". Assim...

"Quando tudo estiver difícil, eu sou que sou. Quando tudo estiver bem, eu sou o que sou."

O que reforça as palavras de Miyamoto Musashi:

一、佛神は尊し佛神をたのます。
Hitotsu, busshin wa tattoshi busshin wo tanomasu.
Importante, mesmo que Buda e os Deuses sejam importantes, não dependa das suas providências.

独行道 二十一箇条
Dokkôdô Nijûichi-kajô.
"Os 21 preceitos do Dokkôdô."

宮本武蔵
Miyamoto Musashi. 

199. FACEBOOK-DÔ.

A partir de hoje irei colocar aqui aquilo que eu denomino FACEBOOK-DÔ (FBD).
E o que é isto?! FACEBOOK-DÔ é aquela "Via filosófica virtual" que difunde uma ideia ou conceito SEM aprofundar a questão.
Portanto, irei colocar aqui aquilo que eu julgo necessitar de uma reflexão, mas que, por ser própria do FACEBOOK, passa como "filosofia de vida".

[FONTE: Todas as imagens usadas no FBD têm como fonte o FACEBOOK.]
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FACEBOOK-DÔ #001.
Esta frase pertence ao Dôjôkun do Shôtôkan. O que esta imagem, feita com o intuito de mostrar as "virtudes" do Karate NÃO DIZ é "COMO" isto é feito na realidade dentro das escolas de Karate Shôtôkan.
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FACEBOOK-DÔ #002.

"Um faixa preta é um faixa branca que nunca desistiu!"
Um faixa amarela, um faixa laranja, um faixa verde, um faixa azul, um faixa marrom também não o são?!
Esta má interpretação do real valor das graduações é que fazem da faixa preta um "objetivo máximo a atingir", quando na realidade não passa de um processo natural de evolução técnica (e supostamente teórica).
Cria-se na faixa preta (e ao redor da mesma) uma aura de mistério e explicações místicas abundam!
Basicamente, esta frase é um disparate completo, infelizmente apenas muito difundida quando não se tem a mínima ideia do que seja realmente arte marcial japonesa ou sistemas de graduação!
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198. CARTAZES...

* Duas pequenas observações sobre CARTAZES de Artes Marciais Japonesas. *
[Nota: Estas observações são apenas para os bons instrutores. (Porque também existem maus instrutores.)]

Um cartaz, um panfleto, um anúncio a respeito de um curso, estágio, festival, ação de formação... ou até mesmo promoção da própria escola, associação ou Federação de artes marciais japonesas SEMPRE reflete o maior ou menor grau de preocupação com a informação fundamentada e honesta das pessoas envolvidas na elaboração da informação escrita.

Alguém disse: "SE NÃO ESCREVES BEM O QUE FAZES, NÃO FAZES BEM O QUE ESCREVES!"

Nada é mais verdadeiro do que isto!

Vou, portanto, estabelecer dois pontos essenciais na elaboração de cartazes de Artes Marciais Japonesas para que os bons instrutores tenham um parâmetro válido de comparação e possam ajustar os seus cartazes para que fiquem o mais corretos possível.

1. AS PALAVRAS JAPONESAS DEVEM SER CORRETAMENTE "ACENTUADAS".
PERGUNTA: podemos escrever um livro, fazer um cartaz, criar uma obra gráfica (escrita) em PORTUGUÊS sem usar qualquer acento ou símbolo de nasalação (o til)?
RESPOSTA: sem dúvida alguma, podemos!
PERGUNTA: mas a obra estará correta?
RESPOSTA: Absolutamente, NÃO! Este trabalho, graficamente, estará completamente ERRADO!

A mesma ideia aplica-se ao idioma japonês. O idioma japonês usa vogais longas e vogais breves. Esta distinção é feita fácil e corretamente em JAPONÊS ESCRITO, contudo, em qualquer outro idioma, esta distinção é feita através de sistemas de transcrição fonéticos oficiais japoneses.
***De forma breve: não quer aprender os sistemas fonéticos oficiais? Então pergunte a quem sabe! Pois é preferível perguntar a apresentar um trabalho mal feito!

2. SAIBA O QUE ESTÁ A COLOCAR NO SEU TRABALHO!!
Pode parecer impensável ou até excessivamente exagerado, mas a realidade é que algumas escolas utilizam ideogramas e caracteres japoneses sem terem a menor ideia do que estão a utilizar nos seus livros, cartazes, revistas, "blogs", "vlogs", "sites" etc.
Acham que eu estou a ser exagerado?
Apesar de os ter guardado no meu computador, não os vou mostrar por uma questão de educação... mas eu tenho cartazes onde os elementos responsáveis pela elaboração e verificação de obras sobre artes marciais japonesas:
- usaram os ideogramas "inverno, verão, outono e primavera" para dar um "ar japonês" aos seus cartazes.
- escreveram num certificado uma determinada graduação de um indivíduo em Português e OUTRA graduação em Japonês!
- colocaram o nome de um estilo de Karate no cartaz quando o evento era a respeito de outro estilo!
- utilizaram ideogramas errados para o nome da arte a que se destinava o cartaz...
E assim por diante!
*** De forma breve: quer utilizar palavras escritas em Japonês no seu trabalho, mas não quer aprender os caracteres necessários? Então pergunte a quem sabe! Pois é preferível perguntar a apresentar um trabalho mal feito!

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Não adianta ficar ofendido com uma crítica negativa por um trabalho mal feito! O trabalho mal feito está mal feito! Não há voltas a dar... Aprenda o certo, faça o certo, ensine o certo.
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Voltamos - mais uma vez - ao "estado das coisas" no mundo marcial onde (repetidamente) deparamo-nos com a questão de falta de pesquisa e fundamentação da informação que é transmitida (ensinada).

PERGUNTA: quem é o responsável pela manutenção deste "estado" de má transmissão da informação?
Cabe a cada um - em particular - responder a esta questão, mas uma coisa é certa: "não fazer nada" também é ser conivente com mau ensino!

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

197. SAÍDA ou SAIDA? Qual está ERRADA?



Hoje, no FACEBOOK (FB), lancei esta pergunta e disse que a pergunta tinha uma "armadilha"...



A armadilha escondida na pergunta tem algumas partes, baseadas na frase FORA DO QUADRO, isto é, "PERGUNTA AOS PRATICANTES DE QUALQUER ARTE MARCIAL «JAPONESA»":

1ª parte: Ficou evidente que, ao vermos as palavras SAÍDA e SAIDA, somos capazes de SABER o que é CERTO e o que é ERRADO, porque aprendemos o certo previamente, então sabemos distinguir um do outro quando vemos a palavra escrita de forma errada.

2ª parte: Também ficou evidente que ao "justificarmos" a nossa resposta (ou escolha) demonstra que somos capazes de FUNDAMENTAR algo com base no estudo prévio. Portanto, o conhecimento não aparece do nada, necessita esforço, dedicação e tempo...

3ª parte: É fato que ninguém nasce sabendo. Há a necessidade de aprendermos as artes marciais japonesas de forma gradual. Assim como o idioma português, as regras de educação cívica ou convívio social - que aprendemos primeiro em casa - as artes marciais japonesas também se aprendem de forma racional e fundamentada.

Portanto, ao decidirmos entre as palavras SAÍDA (CORRETA) ou a SAIDA (ERRADA) em grande parte teve a ver com o que aprendemos, com a base cultural que tivemos.

A Armadilha, portanto, não está no quadro, mas na compreensão verdadeira do que sejam Artes Marciais "Japonesas", na nossa percepção de "certo" e "errado" e em SABER e FUNDAMENTAR com base nesta nova cultura e não na bagagem (Portuguesa ou Brasileira) que tivemos. Era ver quem era capaz de associar as artes japonesas com a gramática portuguesa e a nossa capacidade de identificar o certo e o errado.

Por isso coloquei FORA DO QUADRO: "Pergunta aos praticantes de QUALQUER arte marcial JAPONESA", porque a cultura japonesa implica "outra cultura", "outro saber" e "outras coisas para fundamentar".

E porque vemos tudo como o idioma nacional, com base no que aprendemos anteriormente: sabemos e aplicamos estas regras com propriedade, mas, infelizmente, com as artes marciais "japonesas" achamos que podemos aplicar as mesmas regras e isso, em regra geral, nem sempre é verdade ou dá bom resultado.(^_^)

Portanto: "a resposta é a B, mas sendo praticante de uma arte "japonesa" sabe-se que esta é uma cultura sobre a qual também se "aprende" e "fundamenta"". Consciente de que esta aprendizagem é gradual e contínua.

Isto tudo leva-nos a uma questão bastante pertinente: se todas as pessoas conseguem dizer categoricamene se algo é CERTO ou ERRADO ao ver a acentuação das palavras Portuguesas, por que não acentuam também as palavras japonesas a fim de que elas fiquem corretas? (Acentos que têm sido indicados há anos!)

Qual é a desculpa agora para continuarmos a escrever SAIDA (sem acento) quando sabemos que o correto é SAÍDA (com acento)? 

Qual é a desculpa agora para continuarmos a escrever KARATEDO (sem acento) quando sabemos que o correto é KARATEDŌ ou KARATEDÔ (com acento)? 

Qual é a desculpa agora para continuarmos a escrever JUDÔ ou JUDO (sem acento) quando sabemos que o correto é JŪDŌ ou JÛDÔ (com acentos)?

E assim por diante...

A única explicação que consigo imaginar é o fato de que "aprender" ou "fundamentar" esta nova cultura não faz parte do aprendizado das Artes Marciais Japonesas feitas nas escolas que conhecemos.

Só isso!

Agora, coloquemos as coisas da seguinte forma:



sábado, 26 de outubro de 2013

196. 虎之巻 O símbolo do Shōtōkan.

虎之巻 TORA NO MAKI - O SÍMBOLO DO SHŌTŌKAN.

O que começou como uma mera curiosidade, levou-me a descobrir coisas interessantes sobre o símbolo do Shōtōkan, conhecido por TORA NO MAKI - o que significa literalmente: "pergaminho do Tigre"..

O início da minha curiosidade foi o interesse que tenho pela escrita japonesa e o fato de eu não conseguir ler o ideograma que estava no símbolo desta escola! 
A minha dúvida era apenas saber (nada mais, nada menos): o que estará escrito realmente no canto superior direito do símbolo do Shōtōkan?!?


Como é meu costume, se há uma dúvida, há pesquisa!

A Teoria sobre a criação do desenho do Tigre que se tornou o símbolo do Shōtōkan Karatedō é (resumidamente) a seguinte:

"Teria sido um desenho criado por um artista (e aluno) de Funakoshi Gichin 富名腰義珍 Sensei chamado Kosugi Hōan 小杉放庵 para ilustrar o livro Karatedō Kyōhan 空手道教範. Além disso, diz-se que o ideograma na parte superior direita seria o nome do próprio artista."

Pesquisa preliminar feita (porque eu não queria aprofundar este assunto, mas apenas satisfazer a minha curiosidade) ... a grande verdade disto tudo é que vim a descobrir que esta "teoria da criação do desenho" não é necessariamente verdadeira ou como geralmente é contada nas mais diversas fontes.(Vou direto ao assunto porque esta matéria levanta algumas outras questões que vão além da minha dúvida inicial e eu - definitivamente - não quero seguir por este caminho!) 

A realidade é que o desenho original do tigre encontra-se na China e chama-se 西方白虎 (Xī Fāng Bái Hǔ) "O Tigre branco do Ocidente" - Um dos quatro pontos cardeais Chineses "etc. etc. etc.". Portanto, a única coisa que Kosugi fez adaptar o desenho, colocar um ideograma na parte superior direita da mesma e trocar a orientação da cauda do tigre - conforme mostram as figuras a seguir.

Quanto ao ideograma na parte superior, <que era a minha dúvida inicial> pus-me a observar com bastante atenção a uma ilustração onde se pode ver o referido ideograma bem de perto:                                                  

Descobri, então, que há duas teorias que são aceites no mundo do Karate Shōtōkan (mesmo que eu prefira apenas a segunda destas):

1ª Teoria: "O ideograma é o nome do artista que desenhou o tigre."
Vamos verificar se esta teoria tem fundamento ao revermos o nome do autor do desenho:
KO
SUGI
HŌ
AN
HŌ

Bem. O único ideograma que poderia ser usado (e que pode se parecer com o que lá está escrito) seria o HŌ 放, mas este ideograma sozinho significa "atirar, expelir, libertar" e não me parece - esta é minha opinião pessoal - que o artista quisesse ser reconhecido ou ser relembrado por um verbo sem sentido na figura em questão.

2ª Teoria: O suposto "ideograma" é, na realidade, uma composição de dois ideogramas distintos, a saber: DAI = "Grande" 大 e MON = "Obra literária" 文, ou seja, DAIMON 文. O que eu julgava ser "um" único ideograma, na realidade eram "dois"! (^_^)


DAIMON

Esta teoria parece-me muito mais plausível, uma vez que o desenho estava a ser feito como ilustração da capa do Livro Karated
ō Kyōhan de Funakoshi Sensei, ou seja, uma "grande obra literária (sobre o Karatedō)" - o que, para mim, faz todo o sentido (apesar de a caligrafia estar um tanto "feiosa").

Portanto, dado este "pontapé de saída" e a minha dúvida já tendo sido respondida de forma bastante consistente, deixo o resto da pesquisa ao pessoal desta escola de Karatedō que tenha o mínimo interesse em descobrir o que ainda não foi descoberto... porque eu sei que ainda há mais coisas por descobrir, material por pesquisar a respeito deste símbolo! (^_^)






Fontes:
 Club Yoshitaka - España.
朱雀 玄武 青龙 白虎
四方神兽

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

195. 唐手に非ず空手なり

攻防拳法・空手道入門
"Técnicas de Combate Ofensivas e Defensivas - Introdução ao Karatedô."

摩文仁賢和・仲宗根源和 著

Autores: Mabuni Kenwa e Nakasone Genwa. (Páginas 43 e 44.)

第九節 唐手に非ず空手なり 

"9ª Cláusula - Apesar de ser Tōde, tornou-se Karate."

▲さて、『からて』といふ名稱は、明治三十四、五年頃から學校教育に採用される様になつたとき、「唐手」と云ふ字を書いて「からて」と読ましたのがはじまりで、それまでは沖縄に於ては拳法のことを「からて」と云つたことはありません。たゞ單に「手」と云つて居たのであります。沖縄拳法のことを單に「テ」と稱するのたいして、支那拳法を「トーデ」と稱して區別して居りました。(一時代前までは一般にトーデと云つたといふ説もありますが、これには多少疑問があります。假にさうだつたとすれば、まだ十分消化されない時代は「トーデ」と稱し、これを十分沖縄化したときには「テ」といふ名稱を用ゐたことになります。)

▲Assim, a designação『からて』KARATE, era utilizada na instrução escolar por volta dos anos 34 e 35 da era Meiji (1901 e 1902), escrevia-se「唐手」TŌDE mas começou-se a ler「からて」KARATE. Até então, em Okinawa, o 拳法 KENPŌ não era conhecido por「からて」KARATE. Havia apenas a simples denominação de「手」TE. A distinção era feita de tal forma que enquanto o KENPŌ de Okinawa era simplesmente「テ」TE (N.T.: atenção para o uso de Katakana no lugar do Kanji), o KENPŌ Chinês era denominado 「トーデ」TŌDE. 
Durante um longo período houve uma teoria de que, em geral, (em Okinawa) apenas o termo TŌDE era utilizado, mas isto é um tanto questionável.
Se isto foi assim, foi por pouco tempo, uma vez que a denominação TŌDE que não era muito utilizada naquela época, sendo que na cultura de Okinawa se passou a utilizar apenas a denominação TE.


▲何れにしても支那拳法を「トーデ」と稱し沖縄拳法「テ」と稱して區別したことは、非常に重大な意義のあることゝ思ひます。「テ」とは「術、業、技、兵士の隊、部下、配下、計略」等其他多くの兵法上の意味を有する日本語でありまして、日本民族の分家於て支那拳法を消化攝取して自分のものとなし、兵法上の日本語「テ」といふ名稱を之に附したところは甚だ意味の深いものがあるのであります。然るに之を學校教育に採用する際此處まで思ひ及ばずして「テ」と單に手足の手だ位に考たか折角祖先が本能的選擇によつて名づけた立派な母國語を捨てて『唐手』なる字を用ゐたために、祖先の苦心を無にしてしまひ、ひいては今日多少とも「唐」の字が誤解のもととなつてゐるのは、返す返すも惜しいことゝ云はなければなりません。

▲Em todo caso, acreditava-se que diferenciar as denominações de Kenpô Chinês (TŌDE) do Kenpô de Okinawa (TE) era de extrema importância.
Enquanto que no idioma japonês o termo「テ」TE poderia ter o significado de "arte", "técnica", "estratégia", "subordinados" ou mesmo "truque", "plano", "estratagema" etc., ou seja, inúmeros significados estratégico-militares, para o povo japonês o termo "Kenpō Chinês" não trazia nada em acréscimo ao pensamento nacional.
Assim, o termo「テ」TE passou a representar e ter um enorme e profundo significado, sendo este incorporado aos termos marciais japoneses, particularmente quando da sua adoção no ensino escolar.
Até este momento, o termo 「テ」TE era simplesmente imaginado como o「手」na expressão「手足」TE-ASHI ("mãos e pés"), ou uma denominação feita através de escolha "instintiva", legitimada pela língua-mãe.
Devido ao abandono da utilização dos ideogramas『唐手』TŌDE/KARATE, o trabalho árduo dos (mestres) ancestrais de Okinawa foi perdido! Consequentemente, nos dias de hoje o ideograma「唐」é ainda algo pouco compreendido e deveria ser, repetidamente, alvo de maior atenção.


▲参考
一、先手ノ大将。寄セ手。討手。攻手。守手。
二、先手。後手。
三、手ホドキ。奥ノ手。
四、「アレニシグラウテ見エルハ誰ガ手ヤラム、甲斐ノ一條次郎殿ノ御手トコソ承リテ候ヘ」(平家物語)
五、射手。騎手。ナカナカノ使ヒ手(劍ヤ槍等ノ場合)手筋ガニ善イ悪ヒ。
六、「郎等數多ニ手ヲ負ハセ」(保元物語)。「賤奴ガ手ヲ名ヒテヤ死ナム」(古事記)。
七、痛手。薄手。深手。淺手。手疵~すべて刀矢等にて受けたる創傷を云ふ。
八、「手ニ立ツカタキノ戀ヒシサヨ」(謠曲橋辨慶)~「手ゴタヘノアル相手ガ欲シイ」の意味。
九、手合セ。手ゴワイ。手ガ出ナイ。手ニ餘ル。
十、手ヲ廻ハス。手ガハイル。
十一、其ノ手ハ食ハナイ。其ノ手ニ乗セラレタ。
其他いくらでも實例を擧げることが出来ますが、これ位で止めておきます。すべて武術や兵法に關する言葉であることは明白であります。

▲Referências:
01. Sente no Taish
ō, Yosete, Tōde, Semete, Mamorite.
02. Sente, Gote.
03. Te-hodoki, Oku no te.
04. "Are ni shigura ute mieru wa dare ga te yaramu, kai no ichij
ō Jirō dono no ote tokon ukerite sōrō e" (Heike monogatari)
05. Ite, Kishu, naka naka no tsukai te (Ken ya Yari nado no baai) tesuji ga ni yoi warui.
06. "R
ōtō amata ni te o owase" (Hōgen monogatari). "Sendo ga te o na hite ya shinamu" (Kojiki)
07. Itade, usude, fukade, sente, tekizu, subete katana ya nado ni te uketaru sōshō o iu.
08. "Te ni tatsu kataki no kohishisayo" (música "nō" de Kanze Motoshige) com o significado de "Tegotae no aru aite ga hoshii".
09. Te-awase, Te-gowai, Te ga denai, Te ni amaru.
10. Te o mawasu, Te ga hairu.
11. Sono te ha kuwanai, sono te ni noserareru.
Existem muitos outros termos que se podem aprender através da prática real, mas vou parar por aqui. Mas as palavras que conectam todas as artes marciais e estratégias são bastante óbvias.


▲此等の外無數の實例から推して考へましても「テ」といふ名稱は決して「手足」の「テ」ではなく、沖縄拳法そのものゝ固有名詞として、そのまゝ保存すべきであつたと思ひます。若し「テ」といふ一音だけで不便だとしたら、沖縄語の中に拳法を現はす立派な「武士手」と云ふ語があるのでありますから、これを採用してもよかつたらうと思ひますが、今更らどうともすることは出来ません。故に我等は「唐手」といふ文字を廢し「空手」を採用して徒手空拳の意味で用ひて行きたいと思ひます。これがまた、日本民族の一分家たる沖縄の先人が日本民族化した拳法に日本語「テ」を以て名稱とした趣旨にも合致し、日本武道として發展する偉大なる将来性を持つ所以でもあらうと思ひます。
▲Mesmo que possamos conjecturar que fora destes significados existam ainda incontáveis exemplos práticos, é certo que o「テ」TE nunca fez parte da expressão「手足」TE-ASHI (mãos e pés), sendo um substantivo inerente à própria cultura do Kenp
ō de Okinawa e assim deveria ser preservado.
Supondo que a utilização da palavra monosilábica 「テ」TE fosse incoveniente (na época da alteração do nome da arte), acreditava-se que seria possível o uso de um outro termo com o mesmo fim, porque há no idioma de Okinawa a palavra - completamente válida idiomaticamente - conhecida por "BUSHI-TE" ("Mãos do/de Guerreiros"). Apesar de que isto agora não seja mais possível de ser feito, é natural acreditar que com a eliminação da expressão「唐手」TŌDE e a utilização da expressão「空手」KARATE com o significado de "ter mãos ou punhos vazios" deva continuar. Isto ainda está de acordo com o significado da denominação 「テ」TE no idioma japonês reforçando as técnicas de combate nativas japonesas com aquilo que foi deixado pelos mestres ancestrais de Okinawa.
Portanto, somos da opinião que isto é razão suficiente para termos boas perspectivas de um futuro de grandeza para o desenvolvimento do Budō japonês.

▲「唐手」の唐は「支那」を意味するので假に「日本武道唐手」と稱すると其の意味は「日本武道支那拳法」といふことになり頗る不見識な矛盾が生じて來ます。其點より観ても「空手」とすべきであります。
▲Como o KARA 唐 de KARATE「唐手」significa "China", se escrevêssemos 「日本武道唐手」O "Karate (pertencente ao) do Budō Japonês" passaria a ter o significado de "As técnicas de combate Chinesas (pertencentes ao) do Budō Japonês"「日本武道支那拳法」. O que resultaria numa contradição que prejudicava (o KARATE) pela falta de bom senso. A partir deste ponto foi necessária a alteração para os ideogramas「空手」KARATE.

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NOTAS:
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1. A primeira coisa que nos salta à vista ao ler esta passagem do livro de Mabuni Kenwa é o seguinte termo: 拳法 ("romanizado" - passado de ideogramas para letras do nosso alfabeto - por mim como KENPŌ). Mas vamos observar esta expressão de mais perto...
Os ideogramas 拳法 - lidos em Chinês como Qúan-fà, em japonês como Kenpō e em Coreano como Gweon-beob - têm na realidade uma tradução mais específica, isto é, "Técnicas de combate com os punhos (primariamente)".
Onde:
拳 Qúan / Ken / Gweon = "Punho(s)".
法 Fà / Pō / Beob = "Lei", "regra", "doutrina", etc..
Isto é importante saber! Por quê? Porque esta definição original em Chinês vai migrar para Okinawa e, posteriormente, Japão.
Como a própria tradução indica, em Okinawa as "Técnicas de combate com os punhos" estavam divididas em dois grupos distintos:
唐手 TŌDE - as "Técnicas de combate com os punhos (primariamente)" de origem Chinesa.
手 TE (Tii) - as "Técnicas de combate com os punhos (primariamente)" nativas de Okinawa.
Insisto no "primariamente", porque todos sabemos que além das mão, punhos vazios, também usavam os pés, canelas, joelhos, cabeça, cotovelos...
Estas denominações mantiveram-se inalteradas em Okinawa até a difusão desta arte no Japão.
Foi então que a "política" começa...
Adicionemos, então, mais uma informação pertinente:


"Em preparação para a visita monumental de Kanō Jigorō (fundador do Jūdō) a Okinawa em Janeiro de 1927, a prefeitura (de Okinawa) recomendou a utilização de um nome que caracterizasse o Tōde-jutsu como uma tradição marcial mais aproximadamente associada a Okinawa do que ao nome existente, o qual acentuava as suas origens estrangeiras. Ao fazer isso, os termos Shuri-te, Naha-te e Tomarite (significando as disciplinas TE que eram nativas de Shuri, Naha e Tomari) nasceram (foram criados)."
In "Ancient Okinawan Martial Arts" escrito por Patrick e Yuriko McCarty. Página 131, ponto 13.

O que é feito dos "famosos e históricos pólos de prática de Okinawa"? (Tão falados em obras diversas e de renome!) Basicamente: as denominações "ciddade+TE" só surgem em 1927! Nunca houve três "focos" de treino em Okinawa...
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2. Outro ponto que o artigo levanta são as traduções de Tōde / Te vs. Karate.
Este assunto, com certeza vai causar comoção, mas devemos usar o cérebro para pensar!
Antes de mais nada, vejamos as traduções literais para cada expressão envolvida:
唐手 Tōde = "Mãos chinesas", "Técnicas chinesas", etc..
手Te = "Mãos", "técnicas", "arte" etc..
空手 Karate = "Mãos vazias".
Não resta a menor dúvida que em Okinawa tanto o Kenpō Chinês como o Kenpō nativo referiam-se às "técnicas de combate com os punhos (primariamente)", mas, numa reviravolta histórica, ao chegar ao Japão e com a adoção do ideograma KARA 空 "vazio", de repente as "tecnicas de combate com os punhos (primariamente)" passaram a ter uma conotação religiosa! 
Associaram, imediatamente este KARA 空 com a vacuidade, "o vazio" do Zen...
Ôôôôôah! Vamos lá com calma!!
Por gerações e gerações em Okinawa a arte referia-se apenas às "técnicas de combate" e, subitamente, ao chegar ao Japão passa a ter um simbolismo religioso?! Isto não é uma informação difícil de digerir?! 
Para mim, isto é minha opinião pessoal, há algo "muito estranho" nesta migração "religiosa" de Okinawa para o Japão!
Por outro lado... (olhemos pelo lado bom da coisa) a adição da religiosidade ao TŌDE ou TE fez, faz e fará muitas pessoas praticarem a arte tendo em vista uma suposta iluminação espiritual o que - indireta e inconscientemente - fará com que elas procurem mais a paz, a harmonia (mesmo que muitas vezes pouco sincera) do que andarem simplesmente à porrada! 
Isto é um contributo positivo desta "divergencia" de orientação marcial original, uma vez que o outro nome proposto para KARATE「空手」era BUSHI-TE「武士手」("Mãos de Guerreiros")... algo NADA ZEN!!
Mesmo que ilusória, esta religiosidade (muitas vezes exagerada) tem os seus aspectos positivos.
Se esta religiosidade existia em Okinawa na prática do TŌDE ou TE, não há nada até ao momento que sustente tal afirmação... O que havia, de fato, eram princípios elementares de "educação cívica" baseadas nos ensinamentos filosóficos Chineses da época (contexto).
Portanto, separando a história de estória e usando o cérebro para somar 1+1, conclui-se que "há algo de podre no reino do Karate", mas através de trabalhos sérios de pesquisa, algum dia a verdadeira história do Karate venha ser conhecida realmente.
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3. Como se pode ver, em Okinawa havia apenas Tōde / Te... e foi só isso que sempre existiu!
Há, em publicações diversas, um "floreio", um "embelezamento", "retoques" na narrativa da história do Karate. Coisas foram (são) adicionadas para dar "volume", coisas são omitidas (geralmente de forma "conveniente" a fim de que um determinado autor ou estilo fiquem com o protagonismo histórico) etc..
Daí a necessidade de se procurar, pesquisar em fontes diversas e de estilos diversos que apresentem o desenvolvimento do mesmo assunto a partir de ângulos distintos.
É necessário verificar qual fonte apresenta o maior rigor de informação...
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4. Sobre "traduções" (ditas "rigorosas" ou não): o idioma Japonês usa "ideogramas" (representação gráfica de ideias, sendo que cada ideia é diferente para cada indivíduo) e é uma língua contextual (depende do "todo" para fazer sentido), pode-se, então, afirmar que alguma tradução do japonês para qualquer outro idioma estrangeiro é "rigorosa"?
Definitivamente: NÃO! Na melhor das hipóteses é uma "aproximação" à ideia do autor japonês.
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5. Portanto. sabe-se que, só no momento em que o TŌDE/TE vai para o Japão, houve a necessidade de retirar o sentido "Chinês" dos ideogramas e assim surgiu o que hoje conhecemos por KARATE... (Mesmo que as opiniões dos mestres de "TE" de Okinawa divergissem se deveria ser mesmo "Karate".) (^_^)

===========================================(Saber distinguir história e estória vem com os anos de pesquisa!)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

193. "Trolls" e "Fanboys"

"TROLLS" e "FANBOYS" do Karatedô.

Não é novidade para ninguém que ainda há muita coisa errada sendo transmitida como correta no mundo do Karatedô.

O grande problema desta questão está no fato de que não menos considerável é o número de pessoas que defendem o errado com unhas e dentes. A este tipo de atitude, no mundo dos video-jogos, criou-se uma classificação para identificar determinados jogadores como: "Trolls" e "Fanboys".

A diferença entre o "Troll" e o "Fanboy" é que o "Troll" não está interessado em fazer nada de jeito, a não ser incomodar os outros, sem que ganhe ou partilhe qualquer cosia útil com os demais... a não ser a própria satisfação de "chatear" ou simplesmente "incomodar" quem tem a infelicidade de cruzar o seu caminho.

Por sua vez, o "Fanboy" é aquele jogador que considera um jogo, uma empresa específica de jogos como sendo "a melhor do mundo" e vai aos limites extremos para fazerem valer o seus pontos de vista - sempre restritos ao jogo ou marca que utilizam e cegos em relação às demais empresas ou jogos.

Esta analogia pode ser facilmente aplicada no mundo do Karatedô, onde temos os mesmos "trolls" que não querem saber de aumentar o seu conhecimento, achando que o que sabem já é o suficiente e, a partir deste ponto entram em forums, facebook, blogs apenas para incomodar os outros sem trazer nada de útil à discussão e temos também os "Fanboys" que consideram as suas escolas, os seus estilos, os seus mestres fundadores "os melhores do mundo", sendo estes quase elevados à categoria de "santos" ou "deuses".

Esta questão é facilmente verificável quando Miyagi Chôjun Sensei e Mabuni Kenwa Sensei colocam em causa as classificações dos Kata feitas por Funakoshi Gichin Sensei, mostrando as discrepâncias nos livros publicados pelo próprio Funakoshi Sensei dizendo que tais classificações não existiam em Okinawa antes da migração do Karatedô para o Japão; sendo estas classificações meras "invenções" de Funakoshi Sensei! 
O problema é que... Miyagi Sensei e Mabuni Sensei têm razão!

Os "Fanboys" de Funakoshi Sensei acham um "sacrilégio", "heresia" alguém duvidar da idoneidade do seu mestre fundador (mesmo que sejam outros mestres fundadores de outros estilos que, por incrível que pareça, fundamentaram as suas desconfianças baseadas nas inconsistências das obras do próprio Funakoshi Sensei) e começam a lançar ataques desesperados e disparatados em todas as direções, tentando provar e comprovar o quão "perfeito" era o seu mestre.

O que os "Fanboys" esquecem é que os mestres fundadores eram - antes de mais nada - seres humanos e, sendo seres humanos, também erravam!

Mas... para o "Fanboy", "o mestre nunca errou", o "estilo é inquestionável"!

E, sendo assim, o que vinha errado dos tempos antigos, vai continuar errado... "PORQUE O MESTRE DISSE QUE ERA ASSIM".

Para o "Fanboy", a utilização do cérebro fica relegada para segundo plano e "pesquisar o estilo que se pratica" é algo que não se faz "porque pode por em causa os ensinamentos do mestre fundador".

Esta idolatria desmedida, quase às raias da insanidade, e a falta de discernimento entre o "santo" e o "ser humano" no que diz respeito aos antigos mestres de Okinawa continuarão a impedir que se tenha uma visão mais correta do mundo do Karatedô e uma possível correção de muita informação como um todo.

Entre tantos fatores, a pesquisa, com base em fontes diversas, deveria ser uma característica dos tempos modernos, de pessoas mais esclarecidas... Mas, novamente, não é isto que ocorre na realidade.

«Eu uso "traduções rigorosas" para fundamentar esta ou aquela informação...»

Permitam-me lançar uma questão sobre "traduções rigorosas": se o idioma japonês utiliza "ideogramas" na sua escrita, sendo "ideogramas" a "representação de ideias" e sendo as "ideias" diferentes para cada indivíduo, podemos dizer que existe uma "tradução rigorosa" quando não sabemos o que pensava o autor exatamente? 

Sem ter necessidade de muito esforço mental, pode-se afirmar que "traduções rigorosas" em se tratando do idioma japonês, na melhor das hipóteses, quer dizer que a tradução foi feita o mais próximo do contexto possível. Por quê? Porque, além de usar ideogramas, o idioma japonês é contextual, ou seja, depende do contexto do que se está a expressar.

Assim, quando lemos "traduções" é quase 100% certo que algumas coisas serão perdidas do original japonês, quer pela falta de correspondência na linguagem estrangeira, pela má tradução (por causa dos ideogramas e ideias) ou pela má interpretação (devido aos erros de contexto).

Portanto, como pode ser visto, o desenvolvimento do Karatedô tem vários aspectos: políticos, sociais, regionais etc.. Contudo, se não levarmos em consideração a pesquisa aprofundada, sem idolatrias desmedidas ou preconceitos, baseada na pluraridade de fontes e fatos verificáveis, então a única hipótese que o Karatedô teria para se afirmar como verdadeira arte marcial foi em vão... e mesmo para isto, não há a necessidade de "trolls" ou "fanboys".

domingo, 20 de outubro de 2013

192. UVAS #22. Bandeiras nacionais.


Minha opinião é que, se optar pela colocação de bandeiras nacionais, esta deveria ser feita da seguinte maneira:
- Bandeira de Okinawa (à esquerda de quem vê).
- Bandeira Portuguesa (ao centro).
- Bandeira do Japão (à direita de quem vê).

Mesmo que Okinawa não seja um "país", foi exatamente onde o Karatedō nasceu! Portanto a sua colocação é mais uma menção histórica do que territorial.

Além disso, quantos instrutores de Karatedō NUNCA viram a bandeira de Okinawa?
Serve também como cultura geral! (^_^)



191. UVAS #21. Sonhar ou Viver?


Para que usar um Dōjōkun se não vivemos o Karatedō que ensinamos?

Tal como o suposto "Zazen" feito nos treinos de Karatedō, a utilização do termo "tradicional" justifica os mais variados disparates, maluquices e tolices no mundo das artes marciais japonesas.

Inventam-se mil e uma "interpretações bastante particulares" deste "tradicionalismo", levando ao aparecimento de um "neo-bushidō", cheio de "japonesisses tresloucadas".


"Não! Eu agora estou na esfera do Zen...Eu flutuo entre o universo dos Buda e dos meros mortais abaixo de mim!", dizem uns... "Eu recebo os ensinamentos direto dos Kami (espíritos) dos mestres ancestrais japoneses!", dizem outros - apontanto para uma absurda religiosidade "neo-Shintōniana".

E as trafulhices não são mesmo assim?!?!

Ah, não?! 

Eu "VI", com os meus próprios olhos, escolas onde os alunos veneravam um cabide de madeira!! "É a expressão pura da religiosidade e tradicionalismo daquele Dōjō e respectivo instrutor..." (segundo eles!) Até mesmo a tratar instrutores como "veneráveis mestres"!

Depois disso, "eu" estou errado?! Então o que eu "vi" é ser "tradicional" ou é "estupidez" pura e dura?

Não é necessário dizer que este "japonesismo tresloucado" é muito conveniente para um determinado tipo de comerciante que vive de "aparências" quando isso é mesmo TUDO que ele tem a oferecer... e, assim, continua a "vender o seu peixinho tradicional"!

Um dia, talvez, o Karatedō volte ao seu rumo original, sem tretas, sem falsas interpretações de "Mikka-bōzu" (pseudo-monges iluminados pela radiante aura mística e mágica do Zen no seu esplendor)...

Se eu estiver errado, digam-me como irão ensinar aos alunos estes valores definidos pelos Dōjōkun (sem estar com demagogias, naturalmente).

Para aqueles que amam a religiosidade no mundo marcial, fica a citação do próprio Buda:

"Não acredite na verdade dos mais velhos, baseado apenas nas suas experiências pessoais, porque o medíocre também envelhece!"

Pesquisem, estudem, treinem e aprendam... acreditem apenas na vossa própria experiência pessoal.

No Karatedō verdadeiro não há enganos: é ou não é, sabe-se ou não se sabe!