segunda-feira, 9 de julho de 2012

85. Mitori-geiko 見取稽古 vs. Teletreino.

Não há qualquer dúvida que muita coisa mudou desde as origens das Artes Marciais japonesas até aos dias de hoje, quer dentro do Japão como no estrangeiro. Nesse contexto de permanente "evolução", alguns conceitos quase desapareceram por completo.

Hoje vou falar sobre um destes conceitos que - nos círculos do Jūdō, Aikidō e Kendō - ainda é ouvido (mesmo que raramente). Este é o caso de Mitori-geiko, ou seja, aprender apenas através da observação.

Literalmente, Mitori-geiko 見取稽古 significa "treinar obtendo (a informação) através do ato de olhar" ou "treinar através da visão".

A tradução pode parecer um tanto "vaga", mas, em regra geral, isso funciona da seguinte maneira: ao observarmos alguém a executar uma técnica estamos a aprender e depois praticamos esta técnica para fixar a ideia aprendida.

Na prática, o que se vê é o seguinte: por alguma infelicidade, infortúnio ou incidente qualquer ficamos incapacitados de treinar (quebramos qualquer coisa... um osso da mão, do braço, da perna, do pé etc.) e "teoricamente" devemos nos afastar do treino por um determinado tempo. Mas, o fato de estarmos incapacitados fisicamente para treinar não quer dizer que não possamos ir ao Dōjō e... participemos do treino (naturalmente, tendo os devidos cuidados com o membro fraturado ou quebrado).

Quando formos incapazes de treinar alguma técnica, entra em ação o Mitori-geiko (treino por observação): estaremos com a mesma atenção que teríamos se estivéssemos a praticar a referida técnica ou ensinamento e, assim fazendo, continuamos - indiretamente - o treino, sem interrupções.

Contudo, na última década apareceu uma nova forma de treino: o Teletreino, isto é, compra-se um conjunto de DVDs (ou quaisquer outros meios audio-visuais) que supostamente habilitam-nos a executar determinadas técnicas a respeito das mais variadas Artes que existem... O praticante vê e imita o que vê.

Se uma pessoa compra estes "suportes didáticos" e se ainda tiver a sorte de ter um companheiro com quem treinar, é bem possível que adquira um conjunto de técnicas talvez bastante sólidas, dependendo do grau de dedicação de cada um.

Mas antes que alguém comece a rir ou fazer pouco caso do "Teletreino", deixem-me lançar a seguinte questão: Não é exatamente isso que faz o Mitori-geiko, isto é, observar e aprender?!
E a resposta é simples: Sim, é exatamente isto que faz o Mitori-geiko!


A pergunta pertinente neste momento seria: Então, qual é a diferença entre o Mitori-geiko e o Teletreino?

A diferença principal entre o Mitori-geiko e o Teletreino reside no fato de que o Mitori-geiko permite um acompanhamento e orientação individualizada enquanto que o Teletreino é feito para um público generalizado levando em consideração apenas uma faixa "média" relativa.

Vejamos esta situação de uma forma mais simples...

No Mitori-geiko há um instrutor que irá corrigir o movimento se cometermos um erro, instruindo-nos de acordo com o nosso problema individual - muitas vezes bastante específico (já que duas pessoas não são iguais, portanto os "vícios" do treino, as "formas de fazer", "as manias" são individuais e diferentes de pessoa para pessoa).

No Teletreino, se alguém interpreta um movimento de forma errada, não terá um instrutor para corrigir esta má interpretação e isso irá fazer com que os "vícios" do treino sejam assumidos como movimentos corretos, quando na realidade não o são. Isso, dependendo do que se está a treinar pode vir a ser muito perigoso!

Melhor ou pior? A diferença fundamental entre treinar com orientação de um instrutor ou treinar só e sem orientação (de qualquer espécie) é que, enquanto o primeiro método permite melhorar a técnica constantemente, o outro método tem visíveis limitações a nível de correção dos erros individuais ou particulares. Contudo, "melhor ou pior" vai depender de cada caso em particular.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

84. Um trabalho bem feito!

A grande maioria dos instrutores de artes marciais japonesas que lêem os meus artigos geralmente acham que eu só sei dizer mal das coisas e apontar deficiências!

Infelizmente isso é quase sempre verdade! (^_^) Porque, na realidade, há muita coisa errada, mal ensinada, mal transmitida e que estes mesmos instrutores defendem com unhas e dentes (pois é sempre mais fácil defender um erro do que admitir que não sabemos e termos de estudar... a tal "acomodação").

CONTUDO... Contrariando esta vertente de pensamento, hoje eu vou apresentar um trabalho 100% correto!
Sem uma única falha a apontar!

É o livro - ainda em fase de desenvolvimento - do Tiago Frosi:


E por que este trabalho está excelente?

1. Apresenta um sistema de transcrição fonético japonês oficial - o que implicou estudo.
2. Palavras japonesas não têm plural acabado em "S" porque não seguem as regras ortográficas portuguesas (assim, "Kata Básicos", a palavra Kata sem "s" no final).
3. Ideogramas para os nomes dos Kata estão corretos - o que implicou pesquisa.

À antiga pergunta: "Pode-se ou não julgar um livro pela capa?"
A resposta é óbvia: SIM! Podemos, de fato, julgar um livro pela capa! (PRINCIPALMENTE se for um livro sobre artes marciais japonesas!)

Porque o Tiago - independente da informação que estiver no interior do seu trabalho - já demonstrou, à partida, que "perdeu" tempo em pesquisa e apresentação de informação correta ao seus leitores.

É um trabalho que simplesmente pela sua capa aguça a curiosidade, dada a exatidão visível na sua apresentação.

Diz-se que "a primeira impressão é a que fica". No meio de tantos trabalhos medíocres publicados e amplamente difundidos, sem qualquer pesquisa, sem verificação, sem cuidado quanto a exatidão da informação apresentada, aqui está uma excelente "boa impressão".

Digam-me agora, quantos trabalhos - que conhecem - apresentam estas características?

Eu sou capaz de indicar o número de trabalhos com estas características usando apenas os dedos de uma única mão.

Portanto, falo mal quando as coisas estão más!
Se um trabalho é bem feito... só um estúpido diria mal do mesmo!

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« Bom trabalho, Tiago! » (^_^)b