sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

97. Mais uma investida do Oss.

E quando o assunto da transcrição da palavra japonesa OSU parecia estar completamente fundamentado, eis que surgem mais argumentações para o uso do errado OSS. (^_^)
Mesmo sabendo que em japonês não há consoantes soltas, "etc. etc. etc.".

Agora, com novo ânimo, apegam-se convenientemente a camisetas e pins da JKF e ficam escandalizados por eu afirmar - e continuo a afirmar - que a JKF não é NENHUMA AUTORIDADE LINGUÍSTICA! (Comprovado pelas imagens difundidas como "verdade absoluta" a seguir)


Mas se querem ir por esta via, ou seja, das "camisetas e pins" (^_^), então, também poderiam encontrar as seguintes imagens com a transcrição CORRETA: OSU - em camisetas, revistas, pins, capas para I-pad, campanhas pelo terremoto no Japão, etc. (imagens que não foram difundidas pelos defensores do OSS por irem contra as suas crenças,,por serem imparciais ou por serem inconvenientes àquilo que se propõem):



Ou seja, usar camisetas e pins para justificar uma má transcrição prece-me ser uma teoria muito pouco sustentável!
Mas este pessoal quer lá saber de "sustentabilidade"? (^_^)
Querem porque querem o OSS!!   \ (^o^) / 
Por isso, voltam à carga de tempos em tempos com o mesmo assunto, mas com "novas" ideias! Mas o que o pessoal destas "ideias fixas" sobre o OSS ainda não fez até o dia de hoje foi FUNDAMENTAR o uso OSS como sendo correto! Por que será?
Possivelmente, nem se importam em fundamentar seja o que for! O importante é que marquem a sua posição! "Marcar a posição"... Louvável, pouco racional se não fundamentada, mas louvável.

Eu até poderia sugerir uma "fundamentação" sobre esse "apego desmedido" a este assunto (embora pouco provável a nível linguístico),, mas que deixaria o pessoal do OSS mais feliz: basta dizer que "é um termo mundialmente conhecido e, portanto, justificável por si só!"
Basicamente: continuar com a conveniência e a acomodação! Tão criticadas, mas tão defendidas! 
Há gostos para tudo e muitas pessoas ficariam contentes com esta explicação! 

No meu caso em particular, não aceito uma explicação que não pode ser fundamentada, assim, eu prefiro usar um sistema «oficial» de transcrição fonética das palavras japonesas e, desta forma, apresentar uma informação o mais próxima da realidade possível... Se não é este o seu caso, nada o obriga a ler o que eu escrevo ou se importar com o que eu digo... (^_^) Porque, há muito, eu deixei de ler aquilo com o que eu não concordo!

Nota: Esta entrada no meu Blog apenas serve para dar resposta ao Sensei Inocentes sobre a nova "tendência" do OSS. (^_~) b Deixe-os falar!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

96. SHITŌ-RYŪ, o emblema.


Aos bons instrutores, a todos que pesquisam, estudam ou tem curiosidade sobre Karate, em particular o estilo Shitō-Ryū 糸東流, eis mais um ponto a considerar quando transmitimos informação fundamentada.

Ontem eu estava a ler uma entrada no Facebook onde havia uma explicação sobre o significado do emblema da Shitō-Ryū... estava algo (mais ou menos) assim: "O círculo representa a paz e as linhas compõem os ideogramas para a palavra «pessoas»."

Olhei com mais calma para o emblema e, com boa vontade, com muuuuuuito boa vontade, fui capaz de identificar pelo menos 1 ideograma para a palavra "pessoa(s)"!

Mas, na minha mente, começou a ecoar a seguinte questão: mas será esta a explicação original?

Confuso?! (^_^) Vamos por partes para entenderem a minha dúvida.

Quanto ao círculo, acredito não terem qualquer dúvida onde está.

WA "Paz".

[Curiosidade (^_^) : A palavra WA, em japonês, também pode significar "círculo, roda, aro", daí, penso eu, a associação do círculo com a ideia de paz, porque ambas as palavras - «paz» e «círculo» - são homófonas (têm o mesmo som), mas usam diferentes ideogramas. No sentido de círculo, roda... o ideograma da palavra WA é  ]
Mas encontrar algo que pareça com "pessoa(s)", "ser(es) humano(s)"... isso já fica mais complicado se não conhecermos o ideograma que indica esta palavra em japonês!

Assim, aqui está o ideograma para a palavra «pessoa(s)»: 

JIN, NIN, hito, -ri, -to.

Como eu disse antes, com boa vontade, pode-se ver esse ideograma no lado direito, mas não no esquerdo. Por quê? Porque, de acordo com a ordem correta de escrita dos ideogramas, existe um outro ideograma que se parece muito com o ideograma "pessoas", apenas a ordem dos traços é que diferencia ambos. Este é o caso do ideograma a seguir:

NYŪ, NI(tsu), hairu, iru, ireru = "Entrar", "inserir(-se)", etc.



Como a dúvida é a mãe da pesquisa, fui à procura de respostas à minha questão:

Encontrei o seguinte site:

沖縄の家紋 - OKINAWA NO KAMON
"OS ESCUDOS DAS FAMÍLIAS DE OKINAWA." 


De acordo com este site, este escudo - usado atualmente pelo estilo Shitō-Ryū de Karate-dō - foi criado por Oni-Ufu-gusuku-Ken'yū 鬼大城賢雄 e representa subdivisões de famílias, tais como Mabuni, Shabana, Akena, Uchimine, Kanegusuku, Kôchi, Nakamura, entre outras.

Eu poderia ainda citar outras fontes, mas as duas questões que o assunto agora levanta são:

1. Se o mesmo emblema pode ser usado por várias famílias, é natural que o significado possa variar e, portanto, deve-se saber realmente qual era o significado original (se havia algum) na origem da utilização na família Mabuni.

2. Qual era o significado original que Goeku Ken'yū 越来賢雄 - o autor do escudo - tinha em mente na época da sua criação e verificar se houve "alterações" com o passar do tempo.

Como eu não tenho conhecimento efetivo sobre o estilo Shitō-Ryū, fica o desenvolvimento deste assunto àqueles que têm curiosidade (e gostam de pesquisa e estudo) procurar as respostas o mais verdadeiras possível e apresentá-las de forma fundamentada e consistente.
(^_^)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

95. O "SHIN" de "SHINGITAI".

Em regra geral, em se tratando da transmissão de conhecimento, existem muitos conceitos que causam bastante confusão no meio marcial. E a razão para o aparecimento destes problemas de interpretação (no ocidente) sobre os conceitos japoneses reside na falta de contexto onde estes mesmos conceitos devem ser aplicados.
Um destes conceitos, bastante recorrente, é a expressão SHINGITAI 心技体, literalmente: “Espírito, técnica e corpo”.
Como sempre, vamos – em primeiro lugar – entender a expressão japonesa e só depois tecer os devidos comentários.
Esta expressão é composta por três ideogramas:
SHIN – “Espírito”.
GI – “Técnica(s)”.
TAI – “Corpo” ou “condicionamento físico”.
Antigamente, dizia-se que o treino deveria ser feito de tal forma que a importância em cada área fosse 60%, 30% e 10% respectivamente, dando atenção ao treino do “espírito” em primeiro lugar, depois às técnicas e, por fim, ao condicionamento físico.
É simples entendermos sobre o que tratam as partes da “Técnica” e a parte do “Condicionamento físico”, mas as coisas ficam bastante complicadas quando entramos no terreno “Espírito”.
Antes de tudo, cumpre-me chamar a vossa atenção para o fato do que a abordagem a ser feita a seguir representa a minha opinião e experiência pessoal no ensino desta expressão àqueles com quem partilhei conceitos básicos japoneses e é uma forma bastante simples para fazer entender algo que pode ser bastante complexo, dependendo do grau de profundidade dado a esta expressão. Além disso, testei os conceitos a seguir na vida diária e comprovei que estes correspondem à realidade que eu vivi e vivo.
Colocadas as considerações iniciais, passemos à pergunta fundamental e crucial que origina qualquer discussão ao redor desta expressão: “o que é o espírito?”
É exatamente neste ponto que 99,99% daqueles que abordam este assunto cometem as maiores barbaridades! Por quê? Porque esquecem o mais elementar dos fatores: o contexto! O “contexto” é capaz de explicar praticamente tudo a respeito das artes marciais japonesas, desde que entendido corretamente. Falar sobre “espírito” ou “espiritualidade” implica saber “onde” e “como” esta “espiritualidade” está inserida quando da sua utilização num determinado contexto – neste caso, as artes marciais.
Assim, em primeiro lugar, é necessário “posicionar” o assunto no contexto correto!
Quando autores ocidentais abordam o assunto SHINGITAI, frequentemente o ideograma SHIN “espírito” remete a matéria para o campo da fé, da religiosidade, do misticismo, das “forças invisíveis” e, portanto, “algo” forçosamente DEVE “justificar” esta linha de pensamento!
Como este pensamento orientado à religiosidade exige uma justificativa para a qual não há qualquer fundamentação efetiva que o conecte diretamente com as artes marciais, os disparates começam a surgir: atribui-se o termo “Zen” a quase TUDO que se faça a nível de Budō (pois “algo” TEM DE “justificar” a religiosidade)... nem que seja um devaneio pouco racional!
Assim, de forma bastante grosseira, irrefletida e simplista, abrevia-se «Espiritualidade = Zen», porque no ocidente vemos “espiritualidade” SEMPRE ligada a uma “religião” (católica, budista, judaica, etc). Consequentemente, seguindo esta linha de pensamento, “as artes marciais têm de ter uma “religiosidade” associada"!
ERRADO!
Se alguém com um excelente condicionamento físico for ao chão e não tiver “espírito” (força de vontade) para levantar… de que adianta o condicionamento físico?
Se alguém com uma técnica impressionante não tiver “espírito” (vontade ou determinação) para combater… de que adianta a técnica?
O que comprova que o treino do “espírito” (aquilo que nos faz avançar e a superar as nossas próprias dificuldades) é «ou deveria ser», realmente, o ponto mais importante a ser trabalhado.
Se estivermos em mau ou péssimo condicionamento físico, mas a nossa mente (“espírito”) disser para levantarmos e continuar, então levantamos e continuamos! Se as nossas técnicas não forem boas o suficiente, mas a nossa mente (“espírito”) disser para continuarmos a lutar, então continuaremos a lutar!
Enquanto o “espírito” ocidental está direta ou indiretamente ligado, realmente, a uma corrente “religiosa” (seja ela qual for), a IDEIA de “espírito” a nível marcial pode ser direcionada a determinado campo de atividade e NÃO implica necessariamente uma religião ou filosofia específica. Por exemplo, no oriente, pode-se muito bem passar uma vida inteira atrás da “iluminação” espiritual e nunca a atingir (devido a fatores diversos) e – simultaneamente – ser um excelente guerreiro! Porque o “espírito” marcial” nada tem a ver com o “espírito religioso”! É justamente a respeito do “espírito marcial”, do “espírito de guerreiro” que faz referência a expressão SHINGITAI… Não está escrito em parte alguma que o SHINGITAI tem a ver com alguma religião ou filosofia em particular! Esta “suposição” pouco refletida é coisa “recente”.
O “espírito marcial” a que se refere a expressão SHINGITAI é a nossa determinação, é a nossa vontade, o nosso empenho particular. É a nossa honra, a nossa moral, a nossa ética, a nossa “retidão espiritual”. E isso é visível nas palavras dos mestres antigos:

佛神は尊し佛神をたのます。“Mesmo que Buda e os Deuses sejam importantes, não dependa das suas providências.”
Miyamoto Musashi – in "Os 21 preceitos do Dokkōdō."

正勝吾勝勝速日“A vitória será verdadeira, justa ou correta na medida em que for sobre nós mesmos e todos os dias temos a chance de alcançá-la.”
Ueshiba Morihei – Fundador do Aikidō.

      力必達“Se alguém se esforçar (realmente), atingirá os seus objetivos.”
            Kanō Jigorō – Fundador do Jūdō.

            Nestes casos há referência ao esforço pessoal, sendo que Miyamoto vai mais longe e diz que (na hora do combate) o melhor é contar consigo mesmo. Mas, também é sabido que a cultura do “esforço pessoal” tem sido bastante menosprezada nestes últimos tempos… “A Lei do menor esforço”, dizem.
            Portanto, o SHIN, o “espírito” de SHINGITAI não traz em si qualquer religiosidade, é apenas a expressão do nosso esforço diário, dentro ou fora do Dōjō, ajudando-nos a levantar a cada queda, com determinação e empenho - tornando-nos mais fortes a cada dia, independente da idade, sexo, constituição física ou grau técnico, pois é isso que se espera de um guerreiro e, de forma bastante simples, nada tem a ver com uma religião ou filosofia específica (sendo que estas podem, na realidade, auxiliar o processo de fortalecimento mental do praticante).
            Para finalizar, por SHIN "espírito" entenda-se a seguinte expressão: 倒れて後止む。”Só pare de lutar DEPOIS de morto!”

domingo, 11 de novembro de 2012

94. Reflexões - Exames de Graduação.


            Não há escola de artes marciais japonesas – a nível mundial – que não tenham exames de graduação. E esta afirmação é válida para diversas artes, tais como: o Karate-dō 空手道, Jūdō 柔道, Aikidō 合氣道, Kenpō 拳法, Ninpō 忍法 (superficialmente chamado de Nin-jutsu), Shin-jūjutsu 新柔術 (“o Neo-jūjutsu”) etc..
            Independente das razões – plausíveis ou não – a realidade dos exames de graduação parece ser a mesma nos quatro cantos do planeta, isto é, os resultados são normalmente bastante previsíveis.
Assim sendo, para esta “breve” reflexão, vou dividir o assunto da seguinte maneira:
1. Os requisitos mínimos para o exame.
2. O programa do exame.
3. O exame propriamente dito.
4. O resultado do exame.
Portanto, vamos ao que interessa:

1.      OS REQUISITOS MÍNIMOS PARA O EXAME.

Os problemas começam aqui…
O que se entende REALMENTE por “requisitos mínimos”?
Vamos começar pelo “elementar”: não existe duas pessoas iguais, portanto, o que pode ser mínimo para um pode ser o máximo para outro (em termos bastante exagerados). Contudo, é indiscutível que as pessoas não têm a mesma velocidade de aprendizado e, por isso, dificilmente se conseguiria um “requisito mínimo” que satisfizesse todas as condições existentes em um determinado Dōjō.
Alguém agora vai contrapor:
“Os requisitos mínimos foram feitos com base em uma média ponderada do número de alunos existentes dentro de determinada modalidade!”
Ao que eu vou responder:
Isso é uma explicação estúpida!!
E por que eu digo isso? Basicamente, a ser verdade essa treta da “média ponderada” (eu já ouvi tal desculpa algumas vezes), a estatística a respeito dos requisitos mínimos deveria ser feita de forma dinâmica, isto é, alterada periodicamente a fim de refletir os alunos novos que entram e alguns alunos que saem.
Sejamos honestos: isso NUNCA é feito!
No decorrer da linha temporal de um determinado estilo, alguém determinou os requisitos mínimos e estes vieram para ficar, sem que tenham qualquer fundamentação lógica. Assim, dizer que os requisitos mínimos refletem alguma “média geral” é um disparate completo!
Mas, quer gostemos ou não, os requisitos mínimos existem (em algumas escolas). Portanto, o que vem a seguir é:
“Para que servem tais requisitos mínimos?”
«Teoricamente» os requisitos mínimos seriam aquelas condições limites que, se não satisfeitas, impediriam ao candidato o acesso ao exame de graduação.
Isso é bastante questionável tendo como base o fato de as pessoas serem diferentes entre si e, portanto, seria necessária uma tabela de requisitos flexível…
Mas, na vida real, estas condições são “obedecidas” com base no que está definido e pronto. Assim, mesmo que pouco racionais, os requisitos servem para impedir determinados embaraços em se tratando de nivelar os candidatos a determinada graduação.

2.      O PROGRMA DO EXAME.

A situação continua a deteriorar a cada instante que avançamos neste assunto, porque, por incrível que isso possa parecer, o assunto “PROGRAMA DO EXAME” ainda é tabu em algumas escolas! A falta de transparência e mistério que apresentam algumas escolas e instrutores a respeito do programa de exame é, por si só, um sinal alarmante de que algo não está bem.
E qual é o motivo deste “véu de mistério” que envolve o programa do exame? Isso é simples: porque muitas escolas realmente não têm um programa de graduações definido! Nestes casos, o exame é uma mistura de coisas feitas às pressas (nas coxas) com um punhado de coisas pedidas ao acaso… onde aqueles alunos que são “mais amiguinhos” do instrutor (ou submetidos a outras situações mais obscuras) sempre saem com a graduação pretendida, infelizmente.
Novamente, vamos começar pelo princípio respondendo à pergunta:
“O que é um programa de exame?”
«Teoricamente» um programa de exame é a descrição do conhecimento e técnicas fundamentais que um candidato à determinada graduação deve saber. Sendo progressivo e acumulativo, isto é, o programa indica de forma sequencial todo o conhecimento que deve possuir o candidato para o exame a que se propõe sendo que este sempre irá acumular os programas precedentes.
Até aqui, nada de novidade…
A questão agora é:
“A respeito de que «conhecimento» estamos a falar?”
Eis um dos pontos fulcrais dos exames de graduação!
Na esmagadora maioria das escolas de artes marciais japonesas a nível MUNDIAL, quando falamos de «conhecimento» referimo-nos apenas às questões “práticas” de determinada arte, sendo que as questões “teóricas” são apenas raramente mencionadas ou não existem de todo (e, quando existem, apenas aparecem nos exames para faixas pretas)!
Nas boas escolas, aquelas que seguem uma linha tradicional de ensino japonês, o programa inclui «conhecimento» teórico e prático, pois é a teoria fundamenta a prática. Nas “outras” escolas, o aspecto “prático” dita 100% do exame.
Não quero dizer que as “outras” escolas estejam “erradas”, apenas contemplam 50% daquilo que deveria ser ensinado a respeito de determinada arte marcial, mas isto já é uma questão de escolha de cada instrutor em particular. Como tudo, é minha opinião pessoal que há bons instrutores e que existem os “outros”.
Não vou comentar sobre isso, porque é um assunto que pode ser amplamente visto aqui no meu blog na parte de Bunbu-ichi e a sua respectiva fundamentação.

3.      O EXAME PROPRIAMENTE DITO.

Bem. Sem blá blá blá inútil e tretas transcendentais:
“O que vemos na realidade (excetuando as boas escolas)?”
Marca-se um final de semana para serem verificados apenas os aspectos “práticos” de uma determinada arte e... fim!
Mesmo que pareça «só isso», há de se saber ler nas “entrelinhas” do que acabou de ocorrer! Para começar, existem três tipos de exames identificáveis à partida:

1.      O exame de Kyū (faixas coloridas). **
2.      O exame de Shodan (faixa preta inicial). **********
3.      O exame de Dan (faixas pretas subsequentes). *****
(Os asteriscos são os graus de dificuldade de 0 a 10.)

Observem que eu nem vou entrar no assunto sobre as diferenças entre “graduações de faixas pretas" e as “graduações de instrutor”… (^_^)
Pois bem, em «regra geral», os exames das graduações coloridas são bastante flexíveis e, em certa medida, bastante adaptáveis. O grau de exigência é baixo ou baixíssimo e não se dá a importância aos detalhes.
Quando o candidato chega à faixa marrom/castanha deverá ser submetido ao exame para a faixa preta inicial… aqui as coisas ficam mesmo feias! Deixa-se um período de uma certa liberdade e facilitismo e entra-se no “ritual de passagem”, quando o aluno deixa as faixas coloridas para trás (literalmente) e passa a ser um Sensei (sem saber o que isso significa realmente). Ao faixa marrom é exigido tudo e mais além.
Por fim, chega-se aos exames de Dan, novamente o grau de exigência cai consideravelmente e assim será até ao final da vida de praticante.
Estas são «regras gerais», ou seja, aquilo que é mais fácil de encontrar quando se assiste a um exame de artes marciais japonesas. Naturalmente, as exceções confirmam as regras, portanto, não é algo “absoluto” (piores e melhores exemplos são encontrados).

4.      O RESULTADO DO EXAME.

Considerando-se todo o universo dos praticantes de artes marciais japonesas a nível mundial, pode-se afirmar – com certeza – que estatisticamente, o número de reprovações num exame de graduações tende à inexistência. Mesmo que reprovações ocorram, elas não são – nem de longe – um número a ser considerado em comparação ao número de aprovações.
Sendo isto verdade, analisemos os casos de reprovação.
Tenho visto, em exames de diversas artes marciais japonesas, os instrutores chegarem perto do candidato e dizerem: “falta-te isto, falta-te aquilo…”Mas até hoje, eu NUNCA ouvi um instrutor dizer: “faltou-me ensinar-te isto, faltou-me treinar-te mais naquilo.” no final de um exame...
Atribuem-se más notas, maus desempenhos aos alunos, mas sendo uma dinâmica conjunta, o duo instrutor/aluno são, ou deveriam ser, ambos avaliados... por ser esta a forma mais justa!
Quando alguém vai a exame, as coisas que se esperam são. “nervosismo” (por saber (ou não) o que está em jogo), precipitação e pressa em fazer as técnicas ou responder às questões teóricas. Coisas pelas quais todos nós passamos. Quando fazemos exame com instrutores que nos conhecem, alguns levam em consideração tais fatores, outros instrutores (para passar uma imagem de "duros"), nem por isso. Mas pode-se contar sempre com pessoas "estranhas" nos exames para faixas pretas e, nestes casos, a compreensão do instrutor de nada irá valer e, portanto, apenas o conhecimento e treinos efetivos serão realmente úteis.
Agora vem a minha opinião pessoal, aquilo que eu "acho" que deveria ser feito (^_^)… Quando de um exame, tanto o aluno como o instrutor respectivo deveriam ser chamados ao centro do Dōjō, sendo que o "examinado" seria o aluno e o resultado do exame seria atribuído a ambos (aluno e instrutor), porque o aluno é o produto do (bom ou mau) ensino de determinado instrutor em particular.
Isso lembra-me o caso de Ōyama Masutatsu, no campeonato mundial aberto de artes marciais em 1973, onde ele disse que cometia seppuku (matava-se) se o seu estilo não vencesse a competição. Retirou a espada da bainha, colocou ao seu lado e ficou sentado à espera do resultado final. Naturalmente, os seus alunos venceram a competição porque ele sabia o que ele tinha ensinado! Foi como um tapa com luvas de pelica na esmagadora maioria dos instrutores de hoje em dia (ocidentais ou orientais): “Eu sei o que eu ensinei e garanto o resultado dos alunos que formei!”
Face o exposto acima, para concluir esta breve reflexão, resta-me apenas lembrar que o produto, o bom ou mau aluno também depende do bom ou mau instrutor e o desempenho ou resultado de um candidato a um exame de graduação (seja a graduação que for) está na razão direta do ensino recebido e determinação em fazer um bom exame demonstrada pelo aluno.
Concluo, portanto, que não ensinar e cobrar é estupidez (pura e dura)!

domingo, 30 de setembro de 2012

93. "Mokusō 黙想 - #1"

Bem. Hoje resolvi criar uns "desenhitos" para passar o tempo, por isso vão como estão...(^_^)

Não basta entitular-se "sensei", há de SER Sensei!

sábado, 29 de setembro de 2012

92. Falemos sobre... Tatuagens!

Hoje vamos "aliviar a pressão" e falar de um outro assunto relacionado com as culturas orientais, isto é, tatuagens que envolvam ideogramas que se referem aos signos do zodíaco.

Há algum tempo atrás, um conhecido veio mostrar-me a sua tatuagem que representava o seu signo zodiacal oriental... 

Ele estava todo feliz por ter tatuado "Tigre" no braço... 

Mas como é que se diz para uma pessoa que ela não tem tatuado no braço exatamente aquilo que pensava?
Algo que vai ficar para a vida (ou para remover vai ser uma chatice).

Isso leva-nos a............. exatamente: mais PESQUISA!

Tecnicamente falando, "pesquisa" não por parte de quem quer uma tatuagem, mas por parte de quem FAZ a tatuagem.

A nível de escrita Chinesa ou Japonesa, há uma grande diferença entre o "signo zodiacal" e o "animal real"... basta ver no quadro a seguir.


Pois bem. Este meu conhecido tinha o "animal real" tatuado no braço e não o signo zodiacal.

Não sei se era exatamente isso que ele queria, mas a verdade é que, ao entrar na loja para ser tatuado, ele tinha em mente o seu signo zodiacal, mas levou tatuado o animal real.

Naturalmente, não dei a minha opinião, pois o rapaz estava muito feliz com a sua tatuagem! (^_^)

Como podem ver, os problemas de pesquisa não são exclusivos das artes marciais... estão em todos os assuntos que envolvam a cultura nipônica.

Conforme dito na entrada anterior: se não sabe, pergunta para quem sabe!
PRINCIPALMENTE se o assunto envolver tatuagens!

Outro "motivo" bastante procurado pelos ocidentais quando da tatuagem são os seus nomes próprios... Aqui a situação fica mesmo "fora de controle".

Existem regras específicas a serem observadas a respeito da escrita de palavras estrangeiras (não japonesas) utilizando os caracteres japoneses (estas regras podem ser encontradas nas publicações de Fundação Japão).

A não observação destas regras ortográficas leva a que muitas pessoas tenham tatuado coisas que não refletem os seu nomes verdadeiros e, consequentemente, aparecem "distorções"... o problema é que - teoricamente - a tatuagem vai ser para toda a vida!

Esse assunto traz-me à memória outra matéria bastante cheia de "problemas" de escrita japonesa...

Não vi ainda isto acontecer em Jūdō (talvez por os estágios com mestres Japoneses serem bastante restritos) e tendo pouquíssima experiência em Aikidō, também não vi este fenômeno acontecer nesta arte, mas no Karate... isso é bastante comum acontecer: 

Quem é que ainda não viu em estágios de Karate com mestres japoneses, os ocidentais levarem as faixas para que os mestres escrevam os nomes dos praticantes em Japonês na mesma?

Pois bem, como poucos ocidentais têm conhecimento sobre as diferenças ortográficas entre japonês e as línguas com alfabeto latino, o que acontece na maioria das vezes é terem os seus nomes mal escritos (não intencionalmente ou por falta de zelo do mestre japonês, mas porque o idioma japonês não tem consoantes soltas, consoantes isoladas frequentemente encontradas nos nossos nomes ocidentais... e faltam também alguns fonemas (sons) para que se possa escrever corretamente alguns nomes ocidentais) pelos referidos mestres japoneses.

Portanto, na eventualidade de entregar a sua faixa para colocar o seu nome em japonês, esteja ciente de que há uma grande probabilidade de o seu nome ser escrito errado (inadvertidamente).

Esta situação pode ser vista, como eu disse, nos estágios de Karate ou... (aqui a coisa fica mais "estranha") em CERTIFICADOS de graduações que apresentam os nomes dos seus detentores ocidentais mal escritos em japonês.

Existem sites que convertem os nomes ocidentais em KATAKANA (o silabário japonês antigo) que é o conjunto de caracteres utilizados para escrever nomes "não japoneses". 

Portanto, mais uma vez, um pouquinho de pesquisa prévia pode resolver, minimizar ou prevenir alguns destes problemas.

(^_^)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

91. Uma brincadeira... séria.

No decorrer desta semana, durante o treino de Aikidō, estávamos a conversar (eu e o Luís) sobre apresentação de informação básica que o Luís estava a preparar para nos dar (a mim e aos demais alunos do nosso clube), quando o Luís, em tom de piada disse: “Será que o Joséverson Goulart aprova este trabalho?” Achei que, para manter o espírito de brincadeira, deveria criar um “selo de qualidade” para fornecer ao trabalho do Luís… e assim o fiz!


Portanto, como brincadeira, coloquei um ”selo de qualidade” no trabalho do Luís – e, aproveitando a ocasião – coloquei um selo no trabalho do Denis Andretta também. (^_^) [Acreditem-me, não o fiz de ânimo leve.]
Porém, o que eu não podia esperar era que um assunto que começou por brincadeira tomasse as proporções que tem tomado, desde o seu começo há dois dias atrás até ao momento.
Alguns autores de obras diversas sobre artes marciais (Karate e Jūdō na sua maioria) , amigos no Facebook, perguntaram-me – também em tom de brincadeira – se os trabalhos deles também levavam um “selo de qualidade Joséverson Goulart”…
Caros amigos, gostaria de deixar uma coisa bastante clara a respeito da “brincadeira” com o Luís e o modo como eu vejo as publicações, blogs, sites etc. a respeito da cultura japonesa (da qual eu gosto mesmo MUITO): mesmo que seja uma brincadeira despropositada (naquele momento), o Luís e o Denis SÓ receberam o selo porque os trabalhos deles preenchem TODOS os requisitos que eu considero importantes em trabalhos sobre a cultura japonesa e, neste ponto, eu não brinco!
Deixem-me, então, “explicar” a brincadeira e, só então, poderão entender que de “brincadeira” só tem o contexto.
Pois bem… os requisitos para receber o “Selo de Qualidade Joséverson Goulart” (indicados na figura do próprio selo) têm dois aspectos essenciais:
  • 1 - A exatidão cultural japonesa. (Dos pontos 1 ao 5 nos requisitos.)
  • 2 - A exatidão do conteúdo da informação. (Ponto 6 nos requisitos.)
Se não satisfeitos TODOS os requisitos, mesmo a brincar, eu não considero o trabalho como sendo BOM e, portanto, não vou mentir ou validar algo que eu mesmo não acredito, nem indicaria tal trabalho como fonte de pesquisa efetiva ou fidedigna (porque na realidade não o é).
Consequentemente, dado o meu compromisso com aquilo que eu acredito e com os princípios que eu defendo, cumpre-me lembrar algo que também encontrei no Facebook há alguns dias (^_^):

“O errado é errado, mesmo quando todos o estiverem fazendo, o certo é certo, mesmo quando ninguém o estiver fazendo.”

Nada podia estar mais dentro do que eu penso!
Neste sentido, apesar de eu não gostar de mostrar trabalhos mal feitos (por uma mera questão de educação) é necessário – dado o pouco crédito que algumas pessoas dão ao que eu digo (^_^) – dar um exemplo de vida real às pessoas que gostam de escrever livros, publicar artigos, criar blogs e sites sobre assuntos que dizem respeito à cultura japonesa para que as mesmas tenham em mente constantemente que os seus trabalhos estão sempre a ser vistos por quem sabe menos, o mesmo ou mais do que elas.

Há alguns anos atrás, houve aqui em Portugal um estágio Internacional de Shitō-Ryū, para o qual eu fui convidado. O convidado principal era um Mestre japonês – não vou citar nomes dos intervenientes por questões óbvias (a não ser que os mesmos queiram que eu os identifique). 
Estávamos na casa do organizador do evento momentos depois do estágio, entre uma conversa e outra, o Mestre e eu estávamos a ver os imensos livros sobre artes marciais na biblioteca do organizador do estágio. Entre tantos livros, de repente, o mestre japonês paga o seguinte livro...



E diz (suas palavras EXATAS foram): “Isso está errado!”

(É fácil lembrar uma frase tão curta e tão acertada! (^_^) )

Passa-me o livro e continua: “Este Kanji está errado!”



Para quem escreve artigos, livros, etc. sobre este estilo de Karate, o erro é - ou deveria ser - evidente!



De fato, falta um traço no ideograma! O Ryū  da palavra Shitō-Ryū 糸東流 é composto por 10 traços, este que está na capa do livro tem apenas 9 traços!
O Kanji apontado pelo Mestre está MESMO errado! E não há voltas a dar! Não há desculpas, não há palavrinhas mansas para encobrir um trabalho mal feito! E, podem ter certeza, este não é um caso isolado! Há muuuuuuuuuitos mais!
Se cobramos, exigimos a correção dos movimentos a respeito dos Kata, das técnicas… porque também não somos rígidos na apresentação da informação correta?

Alguém agora vai dizer:

- “Mas eu não sei japonês!”

Se vai publicar um livro, escrever um artigo, criar um site, ou difundir um Blog sobre cultura japonesa, não precisa - necessariamente -  saber japonês! Basta perguntar para quem sabe! 
Nesta altura da evolução onde estamos ligados por redes sociais, basta procurar o nome de alguém e fazer a pergunta diretamente! 
Não se justifica apresentar trabalhos com erros grosseiros por causa de pouca informação e da falta de verificação da mesma.

- “Mas eu não quero perguntar! Eu já sei isso!”

O fato de “não perguntar”, talvez apenas comprove que quem diz tal disparate não sabe mesmo nada a respeito do que supostamente está a difundir... Não é de admirar, pois, a quantidade de trabalhos medíocres difundidos por todo o mundo!

Voltemos aos trabalhos sérios e vejamos cada um dos requisitos (Ah! Não é necessário perguntar-me o que é necessário para receber o “Selinho”, basta ler os requisitos e ver se o seu trabalho se enquadra em cada um dos os pontos):

1 - Apresentar sistema de transcrição fonética oficial.
2 - Palavras japonesas sem terminação “S” no plural.
3 - KANJI (ideogramas japoneses) corretos.
4 - KANA (caracteres japoneses) corretos.
5 - Tradução correta das palavras e expressões japonesas.
6 - Informação fundamentada em pesquisa efetiva.

            Como eu disse anteriormente, dos pontos 1 ao 5 são "o respeito pela cultura japonesa e a forma correta de expressar o idioma".
            Novamente: se não sabe japonês, pergunte para quem sabe! O que não pode é apresentar informação “ao calhas”, sem qualquer fundamentação válida.
            O ponto 1: existem três sistemas oficiais para passar os ideogramas e caracteres japoneses para as letras do nosso alfabeto, a saber: KUNREI, NIHON e HEPBURN. Basta escolher aquele que mais gostar!
O ponto 2: não há coisa mais frustrante do que ver as regras ortográficas portuguesas sendo aplicadas à língua japonesa! Nenhuma palavra japonesa tem plural acabado pela consoante “S”… Nenhuma!
Os pontos 3 e 4: Estes dois pontos são opcionais, porque não há, em se tratando de publicações ocidentais, a obrigação de se apresentar ideogramas ou caracteres japoneses – DESDE QUE o sistema de transcrição fonética seja obedecido!
Contactou-me um autor dizendo que a sua editora não permitia a inserção de ideogramas e caracteres japoneses porque isso iria aumentar os custos da edição. Exposto isto, nestes termos, nada mais natural do que manter apenas a transcrição das palavras e expressões japonesas.
O ponto 5: neste ponto há muita coisa “convenientemente inventada” a ser partilhada como sendo informação correta. Vou dar apenas um outro mal exemplo, onde uma única expressão foi colocada num livro de Karate representando um significado completamente “estranho” ao significado original. Eis o que estava no livro:

気本 Kihon – “Espírito fundamental”.

Eis o que deveria estar no livro:

基本 Kihon – “Fundamento(s), Base(s)”.

A explicação para o número de problemas que este livro levantou daria para escrever outro livro, porque, em primeiro lugar, o autor não se deu ao trabalho de verificar se o ideograma era o correto (o que definitivamente não o fez); em segundo lugar, lançou uma tradução que partindo de ideogramas isolados (e errados) fez com que o próprio autor entrasse em divagações (acredito que, se no preciso momento em que estivesse a escrever Kihon, tivesse perguntado a si mesmo: “Eu sei o significado disso?” e feito uma pesquisa breve, esse problema teria sido resolvido!) ; em terceiro lugar, lançou o assunto para o mundo da espiritualidade (coisa que apaixona os amantes das artes marciais) e tantas outras coisas que advém de um erro básico… o que nos leva, por fim, ao…
Ponto 6: Pesquisa! Eis a “pedra no sapato” de todo autor sério! (Porque também há autores pouco sérios.)
Atirar informação na internet, qualquer um faz! Eu digo “qualquer um” MESMO!
Contudo, questionemo-nos: “o que de fato pode ser fundamentado nas publicações que encontramos difundidas pelos meios de comunicação, os “media”, livros, revistas, jornais, blogs e sites?”
(^_^)

Assim, para concluir esta abordagem ao “Selo de Qualidade Joséverson Goulart” (^_^) uma coisa que inicialmente era uma brincadeira a nível do clube onde pratico Aikidō, está profundamente baseada em requisitos válidos para TUDO que se difunda como informação fundamentada e correta sobre a cultura japonesa, quer sejam artes marciais, cerimônias do chá, criação de carpas, cultivo de bonsai, manufatura de armaduras, pinturas em blocos de madeira, religiões, danças etc..

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

90. Para faixa amarela… NINGUÉM REPROVA!


*** Artigo destinado a instrutores de Vias Marciais japonesas. ***

No mundo das Vias Marciais japonesas, o contexto é muito importante… o contexto histórico, o contexto social etc.. Neste sentido, as graduações não são exceção. Elas também estão ligadas ao “contexto”. Um exemplo disso é a afirmação, muito conhecida entre instrutores de Jûdô, Karate, Aikidô etc. de que “para faixa amarela ninguém reprova”. Essa afirmação é completamente válida se levarmos em consideração o contexto de atribuição de uma graduação como incentivo para que o aluno continue o treino.
Foi pensando neste contexto em particular – do incentivo – que se desenvolveu o Sistema Kawaishi de graduações, amplamente difundido no ocidente (neste sistema existem as faixas: Branca, Amarela, Laranja, Verde, Azul, Marrom (Castanha) e Preta – essencialmente para manter o interesse dos ocidentais no treino… e foi bastante acertada esta alteração das cores das faixas) em contraste com o sistema original japonês: Branca, Marrom (Castanha) e Preta.
Assim, como “incentivo” – e por ser “incentivo” – as exigências foram reduzidas ao mínimo e, confirmando a regra, ninguém, na realidade, reprova para a faixa amarela!

Contudo, será que essa afirmação é realmente válida num outro contexto?

Por exemplo, esta “não exigência” técnica (notem bem que eu nem estou a falar na exigência teórica!) é extremamente prejudicial para o praticante a longo prazo porque o aluno acostuma-se à “brandura” e a “não necessidade de buscar sempre mais” do exame de graduação e, numa graduação mais avançada, se não aprovado, culpará sempre o instrutor… por não o ter incluído na lista de exame, por não o ter aprovado e assim por diante... E, se os alunos são pequenos (crianças), os próprios pais encarregam-se de fazer pressão sobre o instrutor para "agilizar" a graduação - venha ela como vier! (^_^) Fazendo com que as graduações, além de incentivo, passem a ter um "caráter obrigatório"!
Eu sei que neste ponto alguém vai colocar o dedo no aspecto “sócio-económico” da coisa, mas o meu interesse está, à partida, no "conhecimento" efetivo do aluno e o seu desenvolvimento gradual e constante. De fato, são inegáveis os diversos aspectos de gestão do Dôjô… mas os alunos também não o são?
Esta "brandura", esse “deixa lá porque ele(a) é amarelo (laranja, verde ou azul)…”, além de permitir muitas situações constrangedoras nos exames de graduação, cria a situação mais patética que pode ser vista constantemente nos exames de graduação para Shodan (“Nível inicial” – quando se recebe a primeira faixa preta): são as exigências técnicas quase às raias da irracionalidade ao faixa marrom (castanha) para que o mesmo tenha um desenvolvimento técnico ao nível dos faixas pretas – só então será aprovado!
Todos os instrutores de Vias Marciais japonesas sabem exatamente do que eu estou falando em se tratando de exame para Shodan! Aquele venerado "ritual de passagem" do mundo dos Kyû para o mundo dos Sensei... Mas vamos usar o cérebro um pouquinho: se o instrutor é brando nas faixas que antecedem à faixa marrom (castanha) – isto é: amarela, laranja, verde e azul – como pode o instrutor esperar um desempenho elevado num faixa marrom (castanha) quando o próprio instrutor não manteve este nível elevado desde o começo?

“Os faraós tinham razão, a solidez está na base!”

Se determinados níveis de exigência fossem mantidos desde cedo, um faixa marrom (castanha) chegaria a um exame de faixa preta sem qualquer problema (técnico e teórico) e as exigências ridiculamente elevadas e impostas não existiriam. É tão simples como isso! Porque, se mantido um nível de instrução elevado, seria um exame a mais entre tantos feitos pelo aluno e o orgulho por ser aprovado para faixa amarela seria idêntico ao orgulho de se tornar faixa preta, uma vez que toda faixa  (tenha ela a cor que for) representa – ou deveria representar – o grau de conhecimento efetivo dos alunos.
Infelizmente, essa forma leviana e descompromissada de ver os Kyû é comum para mais de 98% dos instrutores… estes mesmos instrutores que irão exigir um exame irracional para faixa preta como se o aluno faixa marrom (castanha) tivesse a obrigação de saber TUDO sobre a parte técnica da arte que pratica!
Conclui-se que atribuir maus desempenhos aos faixas marrons (castanhas) talvez seja apontar o problema na direção errada e talvez uma (re)avaliação de como se conduz o ensino técnico (e teórico) nas graduações preparatórias (faixas coloridas) talvez seja muito mais benéfico e efetivo para a arte que se ensina a curto e longo prazos.
Cumpre-me, porém, lembrar que a forma como orientamos os nossos alunos é uma questão de escolhas: queremos o melhor a nível técnico e teórico para os nossos alunos ou “seja lá o que Deus quiser”? Qual realmente é a nossa motivação no ensino das Vias Marciais japonesas? Tem-se ou não interesse sobre a "qualidade" do ensino que prestamos?

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

89. Shuri-te, Naha-te e Tomari-te.

Antes de tecer qualquer comentário a este respeito, vou colocar o artigo (muito bom) escrito pelo Denis Andretta a este respeito como ponto de partida para posteriores observações.

"Ah! Pensar... Eis uma ferramenta interessante.

Vejamos... Se 
“Em Okinawa [沖縄], Tōde [唐手] sempre foi Tōde [唐手]... toda e qualquer alteração, seja ela qual for, ocorre a partir do momento em que os mestres do arquipélago decidem expandir/divulgar sua arte fora do conjunto de ilhas” (ANDRETTA, Denis).
Até a chegada da Arte Marcial de Okinawa [沖縄] as ilhas principais do Japão não havia distinção de estilos. Em Okinawa [沖縄] cada mestre tinha sua ênfase de trabalho baseado em suas experiências pessoais e na instrução que haviam recebido de seus mestres, porém não nomeavam seus conhecimentos.

Façamos um pequeno resumo do que circula a cerca deste tema por aí...

Desde tempos remotos existia em Okinawa [沖縄] uma arte marcial conhecida como Te [手][1]. Esta arte marcial recebe influências do Quán-fǎ[2] (Kenpō) chinês e passa a ser conhecida como Tōde [唐手], nome que reconhece a influência da China dentro da arte praticada em Okinawa [沖縄]. 

Na maioria das bibliografias menciona-se que havia três grandes centros de treinamento de Tōde [唐手] em Okinawa [沖縄] no final do século XVIII, que um deles situava-se na cidade de Shuri [首里][3], (...) outro se situava na cidade de Naha [那覇][4], (...) e o último ficava na cidade de Tomari [泊][5] (...). 

Diz-se ainda que por volta deste período cada uma destas cidades teria passado a desenvolver um estilo próprio de Tōde [唐手], distinto dos demais. Sendo assim, os estilos teriam passado a ser conhecidos pelo nome da cidade na qual era praticado, ou seja: Shurite [首里手][6], Nahate [那覇手][7] e Tomarite [泊手][8].

Na história que nos contam sobre a origem dos estilos de Karatedō [空手道] há algo de estranho, não acham? Por quê?

Mesmo se nós admitirmos que isso tenha acontecido assim... há um problema aqui... Por que “Shurite”, “Nahate” e “Tomarite” e não “Shuri-tōde”, “Naha-tōde” e “Tomari-tōde”? Nesta época (alías há muito tempo), a arte já não era conhecida simplesmente como o Te [手] (como foi outrora)... mas sim Tōde [唐手].

Não senhores! O Tōde [唐手] NÃO deu origem a três grandes centros de treinamento. Isso foi mais uma, entre tantas outras, “estratégias” políticas... que buscava agradar as autoridades japonesas da época visando uma única coisa: A ACEITAÇÃO DA ARTE POR PARTE DOS JAPONESES.

“O que? Tá louco?” Alguém deve estar pensando a esta altura.

Calma lá... vamos entender como a “coisa” se deu.

Infelizmente, a história do Karatedō [空手道] não é clara e, geralmente, as questões políticas, sociais e culturais não têm sido levadas em consideração pela maioria dos historiadores (em grande parte por tratar o Karatedō [空手道] como uma arte marcial japonesa). 

Esta distinção, Shurite [首里手], Nahate [那覇手] e Tomarite [泊手], surge apenas em 1927 e como tantos outros aspectos que cercam a história do Karatedō [空手道] possui cunho político.

Quando da segunda viagem de Jigorō Kanō [治五郎嘉納] a Okinawa [沖縄], por convite da Yūdansha-kai [有段者会] de Jūdō [柔道], o então Prefeito de Okinawa [沖縄] teve a ideia de apresentar o Tōde [唐手] ao ilustre visitante, porém para eliminar os perigos políticos resolveu fazê-lo apresentando a arte como sendo produto das cidades onde eram praticadas. Foi assim, que na ocasião Kenwa Mabuni [賢和摩文仁] apresentou o “Shurite [首里手]”, Chōjun Miyagi [長順宮城] demonstrou o “Nahate [那覇手]” e Chomō Hanashiro [長茂花城] mostrou o “Tomarite [泊手]”. Porém, até este momento da história o nome genérico usado por todos os mestres de Okinawa [沖縄] era mesmo Tōde [唐手] (inclusive por Gichin Funakoshi [義珍船越] que nesta época já estava instalado no japão). 

Resumindo, estas denominações “Cidade+TE” surgem para agradar o influente mestre japonês Jigorō Kanō [治五郎嘉納]... e só foram conhecidas - como disse antes - a partir de 1927. Fora esta "politicagem", o Tōde [唐手] nunca deixou de ser Tōde [唐手].

"Tōde [唐手]" como sendo o termo genérico é um fato que pode ser comprovado por Gichin Funakoshi [義珍船越] o ter inserido nas suas publicações em 1922 e 1925. Apenas em 1935 é que aparece o termo Karatedō [空手道]. 
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Notas:

[1] Te [手] – Mão ou técnica.
[2] Quán-fǎ [拳法] em Chinês (sistema Hànyǔ Pīnyīn [漢語 拼音]) é lido Kenpō [拳法] em japonês (Sistema Hepburn). Literalmente significa "lei(s), regra(s), doutrina(s) dos punhos". O termo mais conhecido hoje em dia - e errado - para designar esta arte é Kung-fu [功夫] (na realidade Gong-fu [功夫] {sistema Hànyǔ Pīnyīn [漢語 拼音]} como arte marcial não existe). Gong-fu [功夫] significa literalmente "Homem com mérito(s)" basicamente é qualquer pessoa que faça bem o seu trabalho... um professor, um dentista, um carpinteiro... qualquer um que cumpra bem o seu ofício ou que tenha mérito em alguma coisa é Gong-fu [功夫].
[3] Shuri [首里] – Cidade de Okinawa [沖縄].
[4] Naha [那覇] – Cidade de Okinawa [沖縄].
[5] Tomari [泊] – Cidade de Okinawa [沖縄].
[6] Shuri-te [首里手] – Mão ou técnica de Shuri [首里].
[7] Naha-te [那覇手] – Mão ou técnica de Naha [那覇].
[8] Tomari-te [泊手] – Mão ou técnica de Tomari [泊]."

Artigo original: Karatedō.net - Dōjō Virtual.

Concordo plenamente com o raciocínio do Denis... e agora, passemos a algumas fundamentações do seu artigo:
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*** Fundamentação 1: ***

"In preparation for Kano Jigoro's monumental visit to Okinawa in January of 1927, the prefecture recommended using a name that might characterize Toudi-jutsu as a martial tradition more closely associated  with Okinawa rather than the existing name, which accented its foreign origins. In doing so the terms Shuri-te, Naha-te, and Tomari-te (meaning the te disciplines that were native to Shuri, Naha and Tomari) were born."
In Ancient Okinawan Martial Arts, by Patrick McCarty and Yuriko McCarty.
Página 131, ponto 13.

Apenas para tornar as coisas ainda mais claras... 

"Em preparação para a visita monumental de Kanō Jigorō (fundador do Jūdō) a Okinawa em Janeiro de 1927, a prefeitura (de Okinawa) recomendou a utilização de um nome que caracterizasse o Tōde-jutsu como uma tradição marcial mais aproximadamente associada a Okinawa do que ao nome existente, o qual acentuava as suas origens estrangeiras. Ao fazer isso, os termos Shuri-te, Naha-te e Tomarite (significando as disciplinas TE que eram nativas de Shuri, Naha e Tomari) nasceram (foram criados)."
No livro "Ancient Okinawan Martial Arts" escrito por Patrick e Yuriko McCarty. Página 131, ponto 13.
Artigo original: Ancient Okinawan Martial Arts.
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*** Fundamentação 2. ***

"Ma fu nel 1927 che il karate conobbe una svolta. Fu in questa data infatti che il grande maestro Jigoro Kano pianificò una visita ad Okinawa. Per l’evento si prepararono delle celebrazioni di benvenuto, tra le quali era compresa una dimostrazione di to-de. Non era la prima volta che Kano visitava Okinawa. Secondo la testimonianza di Gima Shinkin (1896-1989, studente di Itosu prima e di Kentsu Yabu poi: fu il presidente degli istruttori di karate delle scuole di Okinawa; fu lui ad assistere Funakoshi a Tokio nelle sue dimostrazioni del 1922, sia alla “Prima Esibizione Nazionale di Atletica” poi al Kodokan davanti a Jigoro Kano), già nel 1926 Kano era venuto 4 volte ad Okinawa per tenere dei seminari, ma non aveva mai assistito ad una dimostrazione di to-de. Questa volta, a Mabuni e Miyagi fu chiesto di organizzare una dimostrazione per illustrare la loro arte. In questa occasione, venne chiesto a Mabuni di cercare un nome alternativo a to-de, che suonava troppo cinese. Senza tenere in considerazione il precedente tentativo di Hanashiro Chomo, che aveva intitolato ‘karate kumite’ utilizzando i kanji per ‘mano nuda’ quella che forse è la prima pubblicazione sul karate, ci fu generale accordo sul fatto di inquadrare il to-de a secondo delle zone geografiche dove era stato principalmente coltivato, ossia shuri-te, tomari-te, naha-te. È sempre Gima Shinkin a testimoniare che prima di allora mai si era parlato di shuri-te, tomari-te e naha-te, ma che l’arte si chiamava genericamente to-de. Nel 1928, furono Miyagi e Mabuni ad informare Funakoshi del cambiamento. Dal momento che la dimostrazione del 1927 venne allestita dal Ministero dell’Educazione, venne chiesto a Mabuni di illustrare i principi dello shuri-te (fondamentalmente i kata pinan e naianchi), mentre a Miyagi spettò il compito di illustrare il nahate. Mabuni era convinto che una simile dimostrazione non avrebbe facilitato l’espansione del karate, e pregò Kano di voler assistere ad una dimostrazione offerta dai maestri più abili dell’epoca. Fu così che la mattina dopo Kentsu Yabu, Hanashiro Chomo, Chutoku Kian, Miyagi e Mabuni dimostrarono i kata e le loro applicazioni in privato a Jigoro Kano. (...)"
Artigo original: Federazione Italiana Arti Marzial.

(Italiano é fácil de entender, por isso não vou traduzir.)
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Agora, mais alguns comentários a este respeito:

1. É incontestável que na esmagadora maioria das obras publicadas sobre Karate, esta "manobra política" não é mencionada... (^_^) É-nos passada a informação de que "Shuri, Naha e Tomari seriam os três grandes centros de prática, blá, blá, blá..." sem que isso seja verdade.
Mais uma vez estamos diante de transmissão de informação errada ou "bastante obscura" sobre o Karate, sem qualquer fundamentação histórica.
Resumindo essa história "CIDADE+TE": 1927 e ponto final!

2. Não menos numerosos são os instrutores que não conseguem associar a história do Karate a Kanō Jigorō (o fundador do Jūdō), chegando mesmo a dizer coisas do tipo: "Não podemos comparar o Jūdō ao Karate porque são coisas completamente diferentes".
Errado!
Sem reconhecer a ligação direta entre o desenvolvimento do Karate no Japão [Atenção aqui! Eu disse "no Japão"!] e Kanō Jigorō, a história do Karate mais parece um queijo suiço! Não é de ficar surpreso o fato de haver várias "lacunas" na história do Karate, criadas por elementos que tentam dissociar o Karate do Jūdō por motivos que só a eles dizem respeito.

3. Novamente, e não me canso de repetir isso, enquanto não houver pesquisa e esforço sérios a respeito da transmissão do conhecimento marcial, tretas, informação errada e misticismos continuarão a ser difundidos como informação correta apenas para mascarar a falta de conhecimento efetivo por parte de um grande número de indivíduos.

4. Não é a cor da faixa, nem os "milhares" anos de prática de uma pessoa que trazem o "CONHECIMENTO" a respeito de qualquer arte marcial. O conhecimento vem com a PRÁTICA e o ESTUDO (pesquisa, análise e verificação da informação transmitida).

5. Sentir-se "ofendido" e ficar a se lamentar ou choramingar porque alguém nos fez cair na realidade de que nada sabemos é uma atitude patética! Antes de tentar "parecer" honestos aos olhos dos outros, devemos "ser" honestos com nós próprios e com aquilo que sabemos realmente.
Aparência, meus amigos, não é competência!

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Nota: 
Caso fique "ofendido" com algo que eu tenha escrito (seja onde e quando for)... há sempre outros Blogs com informação menos direta e com "palavrinhas mais bonitinhas"! (^_^)
(In)felizmente não sei usar "floreios" ou subterfúgios para coisas que são mesmo diretas.
Se "errado" é pior do que "incorreto" ou se devia ter usado "menos correto"... só perde tempo com estas tretas quem NÃO "perde tempo" com pesquisa e estudo! Porque, estas pessoas, com esse "estratagema" (da importânica do uso de "palavrinhas lindinhas") "fogem" à questão fundamental do assunto tratado!
Contudo, se a informação que eu coloco for útil, então o uso de palavras "mais (ou menos)" bonitinhas não faz sentido, pois não? (^_^)

sábado, 11 de agosto de 2012

88. Apoio Olímpico.

Eis a minha própria campanha Olímpica...

I support any Martial Art as Olimpic Sport because there's no Art better than other.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

87. KIAI, por Neri Satter de Mello.


EXPLICAÇÃO DO PROCESSO DE FUNCIONAMENTO CAUSADO PELO KIAI.

   KIAI quer dizer união dos espíritos, pode ser um fenômeno psicofisiológico ou puramente fisiológico. Ao executá-lo, o indivíduo reúne todas as forças internas e externas, resultando no máximo de energia do corpo. Mas o KIAI não é um som comum, é um som impregnado de vontade e, dependendo da sua intensidade, pode atuar de várias maneiras. Ao gritar com o seu cão que corre, você poderá fazê-lo diminuir a marcha, parar ou mesmo fazê-lo voltar. Esses gritos são KIAIS, assim como são KIAIS o grito do pai para que o filho obedeça, o grito do guerreiro ao atacar o inimigo, o grunhido que se emite ao levantar algo demasiadamente pesado, o HAN do lenhador ao aplicar a machadada. Enfim, poderíamos citar inúmeros exemplos de que as pessoas usam o KIAI sem o saber.
   O KIAI atua no cérebro do adversário e dependendo do tom e da determinação que é desenvolvida, pode momentaneamente paralisá-lo pelo medo e pela surpresa e, em consequência, ocasionar um desequilírio corporal. Sobrepondo-se aos fenômenos da influência física que a intensidade  do KIAI pode causar, com o efeito da surpresa ou do temor, a síncope surge com mais facilidade. Mas os efeitos do KIAI podem ainda ir mais longe do que se pode imaginar. Por meio do KIAI é possível fazer uma pessoa acometida de um desmaio, recuperar os sentidos. Trata-se de um KIAI diferente. Não, para melhor explicação, daremos o seguinte exemplo: um choque elétrico pode fazer desmaiar uma pessoa e até causar-lhe a morte. Entretanto, sabemos que por meio de choques já foram recuperadas e salvas muitas vidas. Nos casos de reanimação, deve-se usar os tons mais agudos e altos e, ao contrário, para provocar a síncope deve-se usar os tons mais graves e baixos.
   KIAI é a denominação para explicar o fenômeno, os tons emitidos podem ser variados, mas os mais usados são os que se seguem: YAAA, SAAA, OOOS, HAAA.

A SÍNCOPE PELO KIAI.

   Por intermédio do ouvido médio, um som brutal intenso pode provocar uma contração repentina e muito viva da cadeia de ossinhos e acarretar ao mesmo tempo uma certa dor, um reflexo vegetativo inibidor, embaraçando as vias que vão desde o ouvido interno até o sistema cardíaco que, em consequência, causa a diminuição da pressão arterial e do ritmo cardíaco. Este fenômeno vindo a juntar-se com a surpresa e temor, causa a síncope com mais facilidade. Mesmo usando tons iguais pode-se causar síncope e reanimação. No caso de reanimação, o KIAI age de maneira oposta ao de provocar  síncope, ou seja, provoca a excitação e a aceleração das funções respiratórias e cardíacas. Entenda-se que neste caso o KIAI deixa de agir por influência psicofisiológica, pois estando o paciente em síncope consequentemente está fechado a todas as manifestações mentais.

in SINOPSE DO JUDÔ (1976).
Neri Satter de Mello, página 7.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

86. Considerações sobre Shitei Kata de Okinawa.


Carta de Nagamine Shoshin à JKF sobre os Shitei Kata:

To: Zen Nihon Karate-do Renmei (= JKF), Takagi Fusajiro, Managing Director.
From: Okinawa-ken Karate-do Renmei (Okinawa Karate Federation), Nagamine Shoshin, President.

Date: November 1st, 1982

"Regarding the shitei kata (designated kata) of Karate-do at the National Athletic Meet.
At the 36th National Athletic Meet held in Shiga Prefecture last year (1981), the JKF for the first time carried out competition in the kata of Karate-do. For this purpose a total of 8 kata were designated as shitei kata by the JKF; namely Bassai-Dai, Chinto, Kanku-Dai and Jion from the Shuri-te system, and Seishan, Seiinchin, Seipai and Saifa from the Naha-te system.
At this year's National Athletic Meet, however, we received a great shock.
These appointed shitei kata were not only borrowed from us, but were also in a completely miserable condition!
We, the members of the Okinawa Karate Federation, are unable to be satisfied with this decision and are having difficulties in understanding the situation. Thus, we now offer a full report of our opinion. Candidly discussed among the board of directors of the Okinawa Karate Federation, we hereby sincerely request your organization's careful handling and consideration for improving this matter, with no preconceived notions.
Okinawa is the birthplace of Karate. Therefore we, the Okinawan people, are proud of, and responsible for, maintaining the pure traditional kata and handing them down as such to our posterity. However, we are aware of the present trend in which Karate has been regarded as a kind of sport for competition to some extent, and we are not reluctant in supporting this contemporary demand. We also want to clarify that we are not assuming an air of importance because of our long tradition, or the fact that Okinawa was the cradle of Karate. Our only wish is that your organization, the JKF, should pay more attention in selecting a reasonable method in the transition of Karate from a martial art to a sporting event.
Going back in history, we can look at the the Dai Nippon Butokukai [Japanese Martial Arts Federation] which was established in 1895 in order to modify the ancient Japanese martial arts into the modern-day Budo sports of Judo and Kendo, respectively. Not longer limiting their practise and subsequent mastering to the samurai class, these lethal techniques were made accessible to regular people. Ever since these days, the traditional Japanese martial arts became one of the three pillars of national education (moral education, intellectual training and physical education) in Japan.
Along with this development, refined kata of modern Judo and Kendo were born in 1906 and 1911 respectively, paving the way for further development in this new era.
However, the completion of these kata for Judo and Kendo required a time of 14-15 years. After long debate and occasionally tumultuous discussion among some 40 or 50 great masters representing the different Koryu Bujutsu (antique martial styles) of Japan who took part in the planning and extracting their piled up wisdom, these ultimate forms were finally devised. The details of which were decided by public opinion in a fair and democratic setting.
But, although already thirty-odd years have passed since the adoption of Karate sparring for competition (kumite), several revisions of the rules for Karate have come and gone. Still to this day no unified rules have been established and/or sanctioned by all! Moreover, for the competition of kata, the wisdom of the many masters of Okinawa has not been sought after (similar to Judo or Kendo), but rather it has been decided upon these borrowed shitei kata – which really is a flaw in the JKF's authority, isn't it?
They say, "better late than never", so we once more earnestly beg the JKF to look back on the historical facts, drawing a parallel to the modernization of the ancient styles of Jujutsu and Kenjutsu into today's Judo and Kendo. In the same manner, rather than to keep acknowledging the various offensive and defensive techniques of sport kumite only, we hope you can restore the fundamental kata of Okinawa too, so that Karate enthusiasts from all over the world, without exception and under equal conditions, may willingly participate in the nonpartisan and impartial kata competition.
To recapitulate our request to the JKF: We earnestly advise that you not only use the names of kata originating in Okinawa, but also the physical kata themselves as currently practiced in Okinawa, for future Karate competitions throughout Japan. By giving effect to the above mentioned ideas, we are confident that the interchange of ancient Okinawan kata with the new mainland kata of JKF will be realized, resulting in the "development of new ideas based on study of the past" [here Nagamine sensei uses the famous proverb "On-Ko-Chi-Shin"], the fruition of perfectly blending old and new techniques of Japanese Karate."

Signed:

Adviser: Uehara Seikichi
Adviser: Higa Yuchoku
Adviser: Takamine Choboku

Vice-president: Miyahira Katsuya
Vice-president: Arakaki Seiki
Vice-president: Iraha Choketsu

Chairman of the board: Miyazato Ei'ichi

Board member: Nagamine Tadayoshi
Board member: Higa Seikichi
Board member: Akamine Eisuke
Board member: Shimabukuro Zenpo
Board member: Uehara Ko
Board member: Shimabukuro Eizo
Board member: Shiroma Seihan
Board member: Kise Fusei
Board member: Bise Joman
Board member: Shimabukuro Kichiro
Board member: Irei Takeshi
Board member: Sakumoto Tsuguo
Board member: Inamine Seijin
Board member: Kaneshi Eiko
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Resposta da JKF à Okinawa Karate Federation, January 1983:

To: Nagamine Shoshin, President of the Okinawa-ken Karate-do Renmei (Okinawa Karate Federation).
From: Fusajiro Takaki, General Manager, Central Technical Division of the Japan Karate Federation.

Date: January 10th, 1983

"Re: Your opinion on the designation of shitei kata.

The standing committee meeting of the Central Technical Division of the JKF was held on December 11th to discuss the matters presented in your November 1st letter of opinion. The following is the official answer of the organization:

Concerning the existing designated shitei kata, they are the product of hard work among the members of JKF and adopted not only for the domestic events such as the National Athletic Meet, but also for international meets.

JKF is not of the opinion that the present methods are the best ones, and we are considering that your views might be adopted in future tournaments. However, in promoting National Athletic Meets as one way of competition, we are determined to continue to use the present kata, while maintaining the kumite as it is practised today.

Therefore, we intend to have a discussion with you in the future for a satisfactory solution of the problem.”
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O comentário de Nagamine Sensei sobre a resposta da JKF, quando indagado em 1991, foi:

"The letter said that the JKF will have a discussion for a satisfactory solution of the matter, but nine years have already passed. Ever since that reply, not a word has been heard. This discredits the authority of the JKF, who is responsible for the unification of the global Karate kata. Again I repeat the phrase "better late than never". I am still looking forward to a quick correction on the part of the JKF."
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Fonte:A eliminação dos Shitei Kata - Karate by Jesse.