sexta-feira, 28 de setembro de 2012

91. Uma brincadeira... séria.

No decorrer desta semana, durante o treino de Aikidō, estávamos a conversar (eu e o Luís) sobre apresentação de informação básica que o Luís estava a preparar para nos dar (a mim e aos demais alunos do nosso clube), quando o Luís, em tom de piada disse: “Será que o Joséverson Goulart aprova este trabalho?” Achei que, para manter o espírito de brincadeira, deveria criar um “selo de qualidade” para fornecer ao trabalho do Luís… e assim o fiz!


Portanto, como brincadeira, coloquei um ”selo de qualidade” no trabalho do Luís – e, aproveitando a ocasião – coloquei um selo no trabalho do Denis Andretta também. (^_^) [Acreditem-me, não o fiz de ânimo leve.]
Porém, o que eu não podia esperar era que um assunto que começou por brincadeira tomasse as proporções que tem tomado, desde o seu começo há dois dias atrás até ao momento.
Alguns autores de obras diversas sobre artes marciais (Karate e Jūdō na sua maioria) , amigos no Facebook, perguntaram-me – também em tom de brincadeira – se os trabalhos deles também levavam um “selo de qualidade Joséverson Goulart”…
Caros amigos, gostaria de deixar uma coisa bastante clara a respeito da “brincadeira” com o Luís e o modo como eu vejo as publicações, blogs, sites etc. a respeito da cultura japonesa (da qual eu gosto mesmo MUITO): mesmo que seja uma brincadeira despropositada (naquele momento), o Luís e o Denis SÓ receberam o selo porque os trabalhos deles preenchem TODOS os requisitos que eu considero importantes em trabalhos sobre a cultura japonesa e, neste ponto, eu não brinco!
Deixem-me, então, “explicar” a brincadeira e, só então, poderão entender que de “brincadeira” só tem o contexto.
Pois bem… os requisitos para receber o “Selo de Qualidade Joséverson Goulart” (indicados na figura do próprio selo) têm dois aspectos essenciais:
  • 1 - A exatidão cultural japonesa. (Dos pontos 1 ao 5 nos requisitos.)
  • 2 - A exatidão do conteúdo da informação. (Ponto 6 nos requisitos.)
Se não satisfeitos TODOS os requisitos, mesmo a brincar, eu não considero o trabalho como sendo BOM e, portanto, não vou mentir ou validar algo que eu mesmo não acredito, nem indicaria tal trabalho como fonte de pesquisa efetiva ou fidedigna (porque na realidade não o é).
Consequentemente, dado o meu compromisso com aquilo que eu acredito e com os princípios que eu defendo, cumpre-me lembrar algo que também encontrei no Facebook há alguns dias (^_^):

“O errado é errado, mesmo quando todos o estiverem fazendo, o certo é certo, mesmo quando ninguém o estiver fazendo.”

Nada podia estar mais dentro do que eu penso!
Neste sentido, apesar de eu não gostar de mostrar trabalhos mal feitos (por uma mera questão de educação) é necessário – dado o pouco crédito que algumas pessoas dão ao que eu digo (^_^) – dar um exemplo de vida real às pessoas que gostam de escrever livros, publicar artigos, criar blogs e sites sobre assuntos que dizem respeito à cultura japonesa para que as mesmas tenham em mente constantemente que os seus trabalhos estão sempre a ser vistos por quem sabe menos, o mesmo ou mais do que elas.

Há alguns anos atrás, houve aqui em Portugal um estágio Internacional de Shitō-Ryū, para o qual eu fui convidado. O convidado principal era um Mestre japonês – não vou citar nomes dos intervenientes por questões óbvias (a não ser que os mesmos queiram que eu os identifique). 
Estávamos na casa do organizador do evento momentos depois do estágio, entre uma conversa e outra, o Mestre e eu estávamos a ver os imensos livros sobre artes marciais na biblioteca do organizador do estágio. Entre tantos livros, de repente, o mestre japonês paga o seguinte livro...



E diz (suas palavras EXATAS foram): “Isso está errado!”

(É fácil lembrar uma frase tão curta e tão acertada! (^_^) )

Passa-me o livro e continua: “Este Kanji está errado!”



Para quem escreve artigos, livros, etc. sobre este estilo de Karate, o erro é - ou deveria ser - evidente!



De fato, falta um traço no ideograma! O Ryū  da palavra Shitō-Ryū 糸東流 é composto por 10 traços, este que está na capa do livro tem apenas 9 traços!
O Kanji apontado pelo Mestre está MESMO errado! E não há voltas a dar! Não há desculpas, não há palavrinhas mansas para encobrir um trabalho mal feito! E, podem ter certeza, este não é um caso isolado! Há muuuuuuuuuitos mais!
Se cobramos, exigimos a correção dos movimentos a respeito dos Kata, das técnicas… porque também não somos rígidos na apresentação da informação correta?

Alguém agora vai dizer:

- “Mas eu não sei japonês!”

Se vai publicar um livro, escrever um artigo, criar um site, ou difundir um Blog sobre cultura japonesa, não precisa - necessariamente -  saber japonês! Basta perguntar para quem sabe! 
Nesta altura da evolução onde estamos ligados por redes sociais, basta procurar o nome de alguém e fazer a pergunta diretamente! 
Não se justifica apresentar trabalhos com erros grosseiros por causa de pouca informação e da falta de verificação da mesma.

- “Mas eu não quero perguntar! Eu já sei isso!”

O fato de “não perguntar”, talvez apenas comprove que quem diz tal disparate não sabe mesmo nada a respeito do que supostamente está a difundir... Não é de admirar, pois, a quantidade de trabalhos medíocres difundidos por todo o mundo!

Voltemos aos trabalhos sérios e vejamos cada um dos requisitos (Ah! Não é necessário perguntar-me o que é necessário para receber o “Selinho”, basta ler os requisitos e ver se o seu trabalho se enquadra em cada um dos os pontos):

1 - Apresentar sistema de transcrição fonética oficial.
2 - Palavras japonesas sem terminação “S” no plural.
3 - KANJI (ideogramas japoneses) corretos.
4 - KANA (caracteres japoneses) corretos.
5 - Tradução correta das palavras e expressões japonesas.
6 - Informação fundamentada em pesquisa efetiva.

            Como eu disse anteriormente, dos pontos 1 ao 5 são "o respeito pela cultura japonesa e a forma correta de expressar o idioma".
            Novamente: se não sabe japonês, pergunte para quem sabe! O que não pode é apresentar informação “ao calhas”, sem qualquer fundamentação válida.
            O ponto 1: existem três sistemas oficiais para passar os ideogramas e caracteres japoneses para as letras do nosso alfabeto, a saber: KUNREI, NIHON e HEPBURN. Basta escolher aquele que mais gostar!
O ponto 2: não há coisa mais frustrante do que ver as regras ortográficas portuguesas sendo aplicadas à língua japonesa! Nenhuma palavra japonesa tem plural acabado pela consoante “S”… Nenhuma!
Os pontos 3 e 4: Estes dois pontos são opcionais, porque não há, em se tratando de publicações ocidentais, a obrigação de se apresentar ideogramas ou caracteres japoneses – DESDE QUE o sistema de transcrição fonética seja obedecido!
Contactou-me um autor dizendo que a sua editora não permitia a inserção de ideogramas e caracteres japoneses porque isso iria aumentar os custos da edição. Exposto isto, nestes termos, nada mais natural do que manter apenas a transcrição das palavras e expressões japonesas.
O ponto 5: neste ponto há muita coisa “convenientemente inventada” a ser partilhada como sendo informação correta. Vou dar apenas um outro mal exemplo, onde uma única expressão foi colocada num livro de Karate representando um significado completamente “estranho” ao significado original. Eis o que estava no livro:

気本 Kihon – “Espírito fundamental”.

Eis o que deveria estar no livro:

基本 Kihon – “Fundamento(s), Base(s)”.

A explicação para o número de problemas que este livro levantou daria para escrever outro livro, porque, em primeiro lugar, o autor não se deu ao trabalho de verificar se o ideograma era o correto (o que definitivamente não o fez); em segundo lugar, lançou uma tradução que partindo de ideogramas isolados (e errados) fez com que o próprio autor entrasse em divagações (acredito que, se no preciso momento em que estivesse a escrever Kihon, tivesse perguntado a si mesmo: “Eu sei o significado disso?” e feito uma pesquisa breve, esse problema teria sido resolvido!) ; em terceiro lugar, lançou o assunto para o mundo da espiritualidade (coisa que apaixona os amantes das artes marciais) e tantas outras coisas que advém de um erro básico… o que nos leva, por fim, ao…
Ponto 6: Pesquisa! Eis a “pedra no sapato” de todo autor sério! (Porque também há autores pouco sérios.)
Atirar informação na internet, qualquer um faz! Eu digo “qualquer um” MESMO!
Contudo, questionemo-nos: “o que de fato pode ser fundamentado nas publicações que encontramos difundidas pelos meios de comunicação, os “media”, livros, revistas, jornais, blogs e sites?”
(^_^)

Assim, para concluir esta abordagem ao “Selo de Qualidade Joséverson Goulart” (^_^) uma coisa que inicialmente era uma brincadeira a nível do clube onde pratico Aikidō, está profundamente baseada em requisitos válidos para TUDO que se difunda como informação fundamentada e correta sobre a cultura japonesa, quer sejam artes marciais, cerimônias do chá, criação de carpas, cultivo de bonsai, manufatura de armaduras, pinturas em blocos de madeira, religiões, danças etc..

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