sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

201. UVAS #23 - Conceito de "ILUSÃO".


* ATENÇÃO!!! SE É SENSÍVEL A TERMOS GROSSEIROS NÃO LEIA OS MEUS POSTS! *

Tenho visto, ao longo dos anos, pessoas que ao pisarem dentro do Dōjō sofrem uma transformação radical!
De repente, há um código de conduta a ser seguido, regras, normas e etiquetas a serem obedecidas e o respeito pelo outro ser humano tem de ser mantido a todo custo. Estas pessoas - como se por magia - passam a ser "outras pessoas"... Não há nada de errado nisto...

(No fundo, questiono-me frequentemente o quanto disto será "mera atuação teatral para uma plateia mais ou menos seleta" ou "sincero desejo de que este tipo de comportamento social fosse realidade".)

Mas a questão que eu mais observo é que, ao sair do Dōjō, estas mesmas pessoas esquecem todos os valores (aprendidos há alguns minutos atrás) através das artes marciais japonesas e voltam a desrespeitar os outros seres humanos, voltam a achar que a má educação faz parte da cultura local e que aquilo que está aprendendo numa escola de artes marciais só serve para quando esta pessoa estiver "representando o seu papel" de artista marcial.

Esta é a razão pela qual eu afirmo que os Dōjōkun NUNCA irão funcionar! Porque as pessoas não sabem levar para fora do Dōjō os princípios mais elementares e básicos de civismo e conduta marcial da cultura japonesa.

Não adianta envergar um Karategi, um Jūdōgi, uma Hakama, um Ninja Ishō etc. e "armar-se" em seguidor do Bushidō, quando em casa é um mau filho (uma má filha), um mau marido (uma má esposa) ou um mau pai (uma má mãe)... um mau ser humano. ISTO É SER HIPÓCRITA! E vai contra o que defendem as artes marciais japonesas.

Eu afirmo que é hipocrisia porque EU JÁ VI, com os meus próprios olhos, instrutores, fora do Dōjō, a cairem pelas ruas de tão bêbados e estarem a incitar outras pessoas à violência. 
EU TAMBÉM JÁ VI, com os meus próprios olhos, instrutores a espancarem pessoas mais fracas... 
Eu poderia continuar a citar muitos outros maus exemplos de conduta social por parte de instrutores e praticantes que - na MELHOR das hipóteses - não fazem a menor, a mínima ideia do que se trata realmente aquilo que treinam - aprendem ou ensinam.

Ser "um exemplo" a ser seguido?! Só se alguém estiver a olhar, caso contrário, pode-se ser tão trafulha e irresponsável quanto possível! Isto é o que pensam alguns indivíduos cuja formação moral é bastante questionável.

Passemos, então, à questão principal sobre este assunto: de quem é a responsabilidade pela falta de orientação marcial das escolas contemporâneas? (Eis uma boa questão!)

Federações? Associações? Clubes? Instrutores? Alunos? Será que há um excesso de instrutores cuja formação está voltada - de forma conveniente - apenas para valores que visam apenas alto rendimento (econômico)? (Omitindo as orientações mais básicas como a pesquisa e a comportamento moral e, daí, o fraco desempenho nestas áreas). Será uma falta de conhecimento efetivo para transmitir o verdadeiro significado do que sejam realmente artes marciais? Se é que se sabe de verdade o que as mesmas significam...

Eu acho - e isto é a minha opinião pessoal - que este é um dos erros mais grosseiros a nível do que seja a cultura marcial japonesa!

Como eu disse antes, é mesmo por isto que os DōJōkun NUNCA irão funcionar ou serão postos em prática,,, basicamente porque aqueles que deveriam seguir o ensino correto e comportamento irrepreensível e dar bons exemplos, são os primeiros a fazer "vista grossa" aos "desvios" de orientação pedagógica.

Portanto, assim como o interesse pela pesquisa e pelo estudo das artes marciais japonesas, os valores morais, de hombridade e honestidade destas artes são "convenientemente deixados de lado". E sabem por quê? Porque é mais fácil "cair na garrafa" (ou em "outras coisas" menos abonatórias), ser um mau filho(a), um mau pai (uma má mãe), um mau marido (uma má esposa) ou mau ser humano quando os outros não estão olhando, porque é mais simples "parecer marcial" do que "ser marcial". Isso é inquestionável!

Vive-se na "aparência" das coisas, naquilo sobre "o que os outros vão pensar" como se fosse a forma correta de viver as artes marciais. Mentimos descaradamente e de forma vergonhosa para nós mesmos e para os outros como se fosse a coisa mais natural deste mundo!

Portanto, para resolver o estado das coisas, aqui vai um resumo simples:

TREINAR as Artes Marciais.
ESTUDAR as Artes Marciais.
PESQUISAR as Artes Marciais.
VIVER as Artes Marciais... Tudo isto implica ESFORÇO!

Enquanto não formos realmente HONESTOS (com nós próprios em primeiro lugar e depois para com os demais) e não agirmos com determinação, então não há solução à vista e o estado das coisas só tende a se perpetuar.

Sejamos pelo menos um pouquinho sinceros: na realidade, isto não é absolutamente nenhuma novidade ou que já não se soubesse há muito tempo... mas isso é mais uma daquelas coisinhasas que "o melhor a estar calado" porque, caso contrário, será necessário fazer algum "esforço" qualquer... e a "Lei do Menor Esforço" SEMPRE vai falar mais alto!

Assim, vivemos na ilusão de ser "samurai"...  de estarmos "perpetuando os valores do Bushidō" (estes estão escritos em todos os cantos da internet... como se algum dia venham a ser vividos realmente), quando na realidade estamos caladinhos a manter as coisas exatamente de acordo com as nossas conveniências.

Isto é ILUSÃO!

2 comentários:

  1. E iludidos são muitos que acham a sua verdade é absoluta e querem que outros os sigam. É preciso tirar a venda dos olhos para enxergar todas as nuances.
    Concordo com o artigo.
    Osu!

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    1. Marcelo, é necessário criar um "post" para responder a este teu comentário que possa explicar alguns pontos de forma mais abrangente.

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