sábado, 12 de maio de 2012

68. As regras WKF e o Jūdō.

Vou recomeçar este Blog com um pequeno conto que fiz para traçar uma analogia a respeito da evolução histórica do que conhecemos como "Karate moderno".

Para quem CONHECE a história do Karate, a analogia vai ser completamente evidente...

--- UMA FAMÍLIA FELIZ. ---

O Sr. Budō encontrou a D. Butokukai, casaram e tiveram um filho chamado Jūdō... Tudo corria bem para a família Dō.
Um dia apareceu à porta da família Dō um rapazinho feioso, mal vestido e, aos olhos da família Dō, um tanto mal educado. Contudo, demonstrando o seu bom coração, o filho Jūdō pede para os pais que adotem o recém chegado.
Naturalmente, o senhor Budō fez cara feia, a senhora Butokukai lançou aquele olhar de desaprovação, mas, por insistência do filho Jūdō, resolveram acolher no seu lar aquele menino que ali havia aparecido.
-"Qual é o teu nome?" pergunta a senhora Butokukai àquele menino tão esquisito.
-"Meu nome é Tōde." Responde o menino.
-"Mas que raio de nome é esse?" Pergunta o senhor Budō.
-"É o nome que me deram na terra onde nasci." Responde o cabisbaixo rapazinho.
Tanto o senhor Budō quanto a senhora Butokukai aparentavam sinais de certa repulsa àquela situação invulgar.
-"Papai, mamãe. Seria tão bom ter mais um membro nesta casa." Diz o Jūdō - fazendo "olhinhos".
Diante do pedido sentido do Jūdō, os pais decidiram aceitar o novo membro na família.
-"Em primeiro lugar..." diz a senhora Butokukai "... temos de mudar este nome! A partir de hoje vais te chamar Karate!"
-"Em segundo lugar... este Kimono não lembra o diabo!" Continua a senhora Butokukai. "Jūdō , traz lá um Dō-gi e vê se o mesmo se adapta ao nosso novo membro" já torcendo o nariz.
O Jūdō, como havia simpatizado com Karate desde o princípio, cedeu gentilmente alguns Dō-gi para que a sua mãe ficasse feliz.
-"Em terceiro lugar..." agora continuava o senhor Budō "... não podes estar com o Dō-gi sem indicar o teu grau social! Precisas urgentemente de uma graduação! Jūdō , meu filho, arranja uma faixa para o Karate."
Rapidamente, Jūdō - já com um sorriso de aprovação - traz algumas faixas e entrega ao Karate.
-"Por fim..." conclui o senhor Budō "... para pertencer a nossa casa, temos que adicionar o meu nome de família a este teu novo nome, ou seja, a partir de hoje passas a ser conhecido por Karate-dō!"
Assim, o Karate-dō passou a ter um irmão mais velho chamado Jūdō, a viver sob as mesmas diretivas estabelecidas pelo pai Budō e mãe Butokukai.
E, a partir desse dia, viveram felizes para sempre!

FIM.

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A grande realidade é que mesmo que este conto, sendo uma analogia bastante estúpida, reflete o que deveria acontecer em nível de relacionamento entre estas artes marciais, ou seja, deveriam comportar-se como artes irmãs, filhas dos mesmos pais (Budō e Butokukai).

O desconhecimento efetivo da história do Karate faz com que a maioria dos instrutores vejam o Karate e o J
ū como artes divergentes quando na realidade, sem o apoio resoluto de Kanō Jigorō - fundador do Jūdō - o Karate possivelmente ainda estivesse restrito tão somente à ilha de Okinawa. 

A recente alteração das regras de World Karate Federation (WKF), agora utilizando uma nomenclatura de competição do Jūdō
, só serviu para demonstrar a falta de conhecimento sobre o desenvolvimento histórico do próprio Karate-dō no Japão e posteriormente no mundo  por parte de um grande número de instrutores. 

Naturalmente, o Karate-dō
 tem a sua individualidade, mas não é por um mísero punhado de termos japoneses (que geralmente nem se sabe a tradução correta) que agora se atirariam pedras no Jūdō como sendo o lobo mau da história.

Devemos, antes de sairmos a disparatar pela internet, ter a consciência da evolução histórica do Karate e adaptar a evolução do "pequenote" às experiências de sucesso do "irmão mais velho" ao invés de inventar um "amor exacerbado" (geralmente sem qualquer fundamentação literária e um tanto extremista) a respeito do Karate.

"Eu amo o Karate [apesar de não saber quase nada a seu respeito]" é uma afirmação bastante perigosa, pois faz com que os fatos não sejam observados num cenárioio mais amplo e explícito.
Mesmo que irmãos consanguíneos sejam - na maioria dos casos - completamente diferentes entre si (o que éverdadeiro no caso do Jūdō e do Karate), devemos admitir que o Jūdō é um irmão mais velho bem sucedido na vida, com uma base Olímpica solidamente reconhecida e com uma divulgação e maturação consistente...

O Karate-dō
, como irmão mais novo, não teria muito a ganhar se seguisse as pegadas do irmão mais velho Jūdō?

Se ambas as artes já partilharam tanto em comum, qual é o problema em partilhar mais uma coisinha ou outra?

(o_0?)

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