sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

 A “ARTE” EM ARTE MARCIAL.

Quantas vezes você já parou para observar aquilo que você mesmo está fazendo? Não o produto final, mas TODO o movimento, desde o princípio até ao fim de cada movimento. Quantas vezes já apreciou o momento como se fosse uma pintura, escultura ou uma obra prima?

Pois bem, muito se fala e muito se escreve sobre “Artes Marciais”, mas o que é ARTE? Por definição e a grosso modo, entende-se muito superficialmente “Arte” como sendo uma gama diversificada de atividades humanas e seu produto resultante que envolve talento criativo ou imaginativo, geralmente expresso em proficiência técnica, beleza, poder emocional ou ideias conceituais.

A aplicação destes conceitos (técnica, beleza e ideias) às Artes Marciais é o que não se vê nos dias de hoje. Se formos analisar o contexto geral do mundo marcial, independente de estilo ou técnica de combate ensinados ou aprendidos, observa-se uma coreografia desprovida de sentido e entendimento estético como arte. O objetivo onde “o que importa é conseguir uma medalha” ou “copiar este ou aquele modelo de instrutor” impede que cada um de nós atinja ou expresse um entendimento mais amplo no que se refere ao conceito de ARTE.

O simples fato de não nos atermos à beleza dos pormenores, de cada “detalhe” e nuances mais elementares de cada movimento, afasta-nos do que deveria representar a beleza na expressão Artes Marciais. Queremos que “os outros” vejam o que nós próprios não conseguimos ver. Queremos que os outros apreciem o que deveria ser apreciado, antes de mais nada, por nós próprios.

Apreciar um único movimento de pincel ao escrever um ideograma, um sutil deslizar do pé de forma precisa na execução do Kihon, a precisão e intencionalidade de um movimento de mão nos Kata… Isso é ARTE!

Ver e não apenas enxergar cada milímetro, cada milissegundo daquilo que estamos fazendo, como se fôssemos o próprio Leonardo Da Vinci ao pintar a “Mona Lisa” ou “a última ceia”.[1] Mas, mesmo que não sejamos nenhum Leonardo Da Vinci, podemos, ao mesmo nível, criar a nossa própria “arte”, apreciando aquilo que estamos a executar, ampliando a nossa visão, admiração e gosto pela obra prima que estamos a criar, sem obrigações ou pressões externas para fazer deste ou daquele jeito, aproveitando o que podemos fazer de melhor, aprimorando e refinando a cada execução.

Esse conceito de “Arte Marcial” não vai além do “eu próprio”, além da autodescoberta. Este conceito não assina um estilo, não subscreve maneirismos, mas incute-nos a capacidade de melhorarmos o que somos e o que fazemos a cada repetição… imbuindo-nos o gosto e interesse em entender que Kihon, a base, os fundamentos são o alicerce para um todo e que a nossa arte se compõe de pequenos fragmentos “pintados” ou “esculpidos” por todo “artista” que somos nós mesmos.

[1] De acordo com o cientista Watanabe Masataka, “VER” implica aprofundar a visão sobre o objeto visto e analisá-lo mais de perto, enquanto que “ENXERGAR” é apenas olhar sem avaliar atentamente aquilo que se está enxergando.