segunda-feira, 28 de abril de 2014

204. Pensar não custa nada...

Para começar a falar sobre "pensar", preciso do diagrama de KATA da Gōjūkai...


Esta é a lista dos Kata da Gōjūkai... porque eu acho que está na hora de eu voltar a ver "o básico". (^_^)
Assim sendo, nesta lista estão:
Fukyū no Kata - criados por Yamaguchi Gōgen.
Kihon no Kata - criados por Miyagi Chōjun.
Heishu no Kata - criados por Higaonna Kanryō (1) e Miyagi Chōjun.
Kaishu no Kata - criados (2) por Rū Rū Kō.
Tokutei no Kata - criados por Yasmaguchi Gōshi.

-----------

(1) Na verdade, Higaonna Kanryō não "criou" o Sanchin, apenas alterou o kata original para se adaptar às suas ideias. Ideias que foram passadas a Miyagi Chōjun... que, por sua vez, incorporou-as no seu estilo de Karate Gōjūryū.

(2) "Criados por Rū Rū Kō" é uma expressão bastante "forte" usada por muitas fontes de consulta. É "forte" porque, historicamente, estes Kata foram apenas retransmitidos a Higaonna Kanryō por Rū Rū Kō (sendo, este último, uma figura marcial sobre a qual não se tem qualquer informação oficial exata).

========================================


O que nos leva a algumas questões bastante óbvias sobre o Gōjūryū e o posterior Gōjūkai (apesar de estas perguntas não serem, convenientemente, debatidas):

a) Uma vez que "alterar" o original ou "adicionar" interpretações pessoais parecia não trazer qualquer problema para os mestres antigos, podemos afirmar com 100% de certeza que Rū Rū Kō também não teria alterado ou adicionado suas ideias ao que ensinou a Higaonna Kanryō?

b) Com que autoridade Higaonna Kanryō altera o Kata Sanchin "original" (?) que havia aprendido na China através de Rū Rū Kō?

c) Com que autoridade Miyagi Chōjun "simplificou" o Sanchin que havia sido "alterado" por Higaonna Kanryō após o ter aprendido de Rū Rū Kō?

d) Com que autoridade Yamaguchi Gōgen copia e altera os Taikyoku (originalmente "adicionados sem autorização prévia" por Funakoshi Gichin ao Karate que veio de Okinawa)?

e) Com que autoridade Yamagushi Gōshi "adiciona" os Tokutei no Kata ao estilo Gōjūkai que também já havia sido alterado por Yamaguchi Gōgen?

Existem muitas outras perguntas que não são feitas, como as recentes "revisões" aos estilos de Karate e alterações com objetivo de padronizar de uma ou outra forma os inúmeros estilos que se dizem tradicionais etc.. Mas nós NÃO questionamos os "mestres antigos" (isto é, não questionamos mestre algum)!

Sacrilégio?! Heresia? Blasfémia? (^_^) Eu chamo de "questionamento válido".

Acho apenas "interessante" o fato de algumas pessoas ainda ousarem dizer que os seus estilos são "tradicionais" quando é mais do que sabido que, em regra geral, não há estilo de Karate que não tenha sido alterado, comparando-se com a sua versão praticada "originalmente", em algum momento da sua história. 

Por outro lado, não nego a necessidade de terem sido implementados os "Kata de base" (KIHON NO KATA) e os "Kata de difusão" (FUKYŪ NO KATA) com a necessidade de abranger maior fatia social á pratica do Karate nas épocas em que foram criados a fim de facilitar a vida dos japoneses com aquela nova arte que vinha de Okinawa. 

Contudo, custa-me aceitar as adições dos TOKUTEI NO KATA porque, por si só, estas adições partem de princípios pouco racionais: "são Kata com «profundos significados» e que só podem ser compreendidos por 6º Dan ou graduações superiores"

Isto tem como base premissas profundamente questionáveis:

1º - Parte do princípio muito duvidoso que ao atingir uma graduação elevada, uma pessoa, automaticamente, cairia num nível de "iluminação marcial"... Os incontáveis exemplos na vida real já demonstraram que isto não é verdade. (Nem é necessário citar exemplos.)

2º - Parte de outro princípio bastante duvidoso que pessoas com graduações inferiores a 6º Dan são incapazes de interpretar ou entender o que Yamaguchi Gōshi quis transmitir ao criar estes Kata... Eu acredito que se formos capazes de explicar tudo de forma simples é porque entendemos o que explicamos. Transformar o Karate em assunto "pomposo" é, ao meu ver, obra de quem realmente não percebe o que está a transmitir (seja a pessoa que for). "Mas ele é um super-hiper-mega-giga-mestre..." Pode até ser, mas que não sabe transmitir o Karate, lá isso não sabe!

3º - Esse tipo de "elitização" dos Kata apenas aumenta a miserável "corrida aos Dan", aquela coisa do "eu tenho mais Dan do que tu" ou "olha quantos diplomas que eu tenho pendurados nas paredes"... uma vez que para aprender estes novos kata deve-se, obrigatoriamente, ter uma graduação elevada (e traz ainda tudo que é inerente a esta prática pouco honesta de ensino marcial, tais como "politicagens", "politiquices" e muito "comer e calar ou bajular e ganhar"!

Eu próprio estive a ver as execuções do Genkaku e Chikaku... Tenho certeza que, numa vida, eu não tenho tempo suficiente para dominar os Kata de base do meu estilo! Estes "novos" kata para "pessoas especiais" estão fora da minha prioridade de aprendizagem (mesmo porque eu não tenho graduação elevada o suficiente para atingir a tal "iluminação marcial").

A minha esperança é que não se adicionem ainda mais coisas ao que já foi alterado, para que não se complique ainda mais o que antigamente era mais simples! 

Alguns podem dizer que o Karate "evoluiu" e, por isso, as alterações necessárias... Se isto é verdade, cada novo presidente de uma organização de Karate irá deixar o seu cunho no estilo que dirige e, dentro de alguns anos, não seremos capazes de identificar a linhagem e características do estilo que praticamos nem o que supostamente foi deixado como legado pelos mestres que criaram o estilo que praticamos. (Não preciso falar sobre a omissão do Ibuki nos Kata da Gōjūkai... ou preciso?)

Isto tudo, de fato, vem a comprovar inequivocamente que os estilos de "Karate originais", por terem menos "adições ou interpretações pessoais", podiam dar-se ao luxo de dizer coisas "absurdas", tal como:

一型參年
"HITO KATA SAN NEN!"
"Um Kata, três anos"! 

A ser assim e pensando apenas um pouquinho, só de Taikyoku seriam 30 anos de treino!!!! (^_^)

Nenhum comentário:

Postar um comentário