Justificativa para utilização de termos e comandos japoneses no Karatedō
Que Karateka não pensou em alguma ocasião porque sendo ocidentais usamos termos japoneses nas classes de Karatedō? Pois isto pode ser respondido de várias formas.
A primeira maneira poderia ser: para preservar a tradição e seguir mantendo a ordem estabelecida pelos mestres que nos antecederam, embora esta justificativa não convença à todos.
O segundo motivo poderia ser porque ao utilizar termos desconhecidos pelos alunos o professor adquire um halo de misticismo ou de superioridade mal entendida que deriva da utilização de uma linguagem difícil de entender ou desconhecida pelo principiante. Algo semelhante ocorre em algumas associações profissionais, que ao possuir uma linguagem própria podem mostrar-se inacessíveis ou simplesmente proteger suas informações. Contudo, aqueles que adotassem esta conduta cairiam por seu próprio peso.
Um terceiro argumento, provavelmente o mais real e convincente, é que ao utilizar um vocabulário japonês no Karatedō permite que as expressões, termos e comandos desta arte marcial tenham um caráter universal e possam ser compreendidas e utilizadas por todos igualmente, ainda mais quando estas palavras ou comandos têm um significado de origem simbólica.
Porém, devemos esclarecer algo muito importante: Se perguntássemos a um japonês não praticante de Karatedō o significado das palavras Bassai Dai, Kime, Bunkai, etc... com certeza ele, por não conhecer o contexto, não saberia defini-las corretamente e provavelmente nos diria algo que não teria nada a ver com o Karatedō.
Portanto, a utilização de termos japoneses na prática do Karatedō, possibilita que os Karateka de qualquer nacionalidade possam entender- se entre si e praticar em harmonia sem ter o idioma como uma barreira.Da mesma forma, a nomenclatura japonesa permite que um Sensei possa dirigir-se a um grupo de praticantes de diferentes nacionalidades e mediante um simples termo poder fazer-se entender por todos. Isto é possível porque a palavra em japonês atua no ouvinte como um “símbolo”, do qual os receptores conhecem a definição ou significado próprio em seu idioma, caso contrário o Sensei teria que explicar a “palavra” ou “conceito” em tantos idiomas quanto fossem as diferentes nacionalidades presentes, como por exemplo, em um Seminário Internacional.
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Artigo original: Revista "Cinturón Negro".
Tradução: Andretta, Denis.
<Critica postada por Joséverson Goulart em 25/11/2007 no Grupo MSN:>
De acordo com o artigo publicado acima, as razões para utilizarmos termos japoneses no Karatedō são as seguintes: preservar tradição da Arte, "Halo místico" incompatível com a Arte e padronização universal dos comandos e nomenclaturas da Arte.
Todas as razões são completamente válidas e inquestionáveis... mas o que o artigo não aborda é a questão:
"Sabemos REALMENTE o que significam os termos japoneses que utilizamos no Karatedō?"
Como sou muito pragmático em se tratando do ensino e aprendizagem de artes marciais japonesas, vou comentar um fato verídico - pois eu estava presente quando ocorreu - que demonstra que a utilização de termos japoneses nas artes marciais, mesmo que tenha boas intenções, na maioria dos casos não passa de demagogia.
Passemos, então, ao fato verídico:
Estava num estágio de Karatedō quando um 5º Kyū perguntou ao seu Sensei (não vou indicar a graduação, por motivos óbvios) o que significava ZENKUTSU-DACHI. Como eu estava muito próximo do aluno e instrutor, fiquei para ouvir a explicação.
O Sensei responde: "Zenkutsu-dachi faz-se assim..." E assim o aluno ficou "esclarecido", mas permaneceu com aquele "ar" de que não era bem esta a resposta que ele procurava.
De fato, é isso que ocorre na vida real, sem blá blá blá teórico.
Os termos japoneses têm realmente as qualidades indicadas nos pontos anteriores, mas só se soubermos o que eles significam de verdade, caso contrário tudo que diz respeito a estes mesmos termos caem na razão número dois do artigo publicado acima, ou seja, aquelas "tretas místicas", que são pateticamente visíveis quando um instrutor não sabe do que está a falar.
Há muito tempo atrás o mestre Aragão de Lisboa disse algo que faz todo o sentido: "Em Karatedō não há enganos: ou é ou não é, ou se sabe ou não se sabe!"
E é por isso que TODOS os instrutores, os "sensei" são OBRIGADOS a pesquisar e saber o que ensinam... copiar e imitar faz bem nos primeiros passos de qualquer arte, mas saber realmente é obrigação daqueles mais avançados, daqueles que estão a ensinar!
Eu penso que não saber não é vergonha, vergonha é contentarmo-nos com o pouco que sabemos.
前 ZEN - Para frente, frontal
屈 KUTSU - Inclinada, pender para
立 DACHI - Posição, postura, base
Choku-zuki [直突];
Gedan-barai [下段払];
Jōdan Age-uke [上段揚受];
Shutō-uchi [手刀打];
etc...
屈 KUTSU - Inclinada, pender para
立 DACHI - Posição, postura, base
Nas artes marciais japonesas tudo é facilmente explicável, desde que saibamos do que estamos a falar.
Se vale mesmo a pena utilizar termos japoneses no Karatedō, então este problema seria resolvido facilmente com testes teóricos sobre toda nomenclatura japonesa necessária para cada graduação.
Mas aqui apresenta-se o primeiro problema: o teste teórico faz com que os instrutores tenham de saber, e no caso de não saberem, serem "forçados" a pesquisar e estudar o Karatedō... o que é, para uma grande maioria dos instrutores, uma verdadeira "perda de tempo" ("...pois o que nós queremos é combater").
Para esta vertente "belicista" que não quer estudar o Karatedō, vou apenas dar um exemplo de "problema" que um 5º Kyū enfrenta em se tratando de nomenclatura japonesa ensinada pelos mesmos no caso do HEIAN NIDAN.
Neste Kata surgem:
Uchi-Otoshi [打落し];Choku-zuki [直突];
Gedan-barai [下段払];
Jōdan Age-uke [上段揚受];
Shutō-uchi [手刀打];
etc...
Os seus 5º Kyū realmente sabem o que estes termos significam?
Se o instrutor responder que "sim" a esta pergunta, então este instrutor sabe o que está a ensinar e está a criar futuros excelentes instrutores.
Se a resposta do instrutor for "não", então talvez seja necessária uma "reciclagem" ao instrutor em questão a respeito dos termos japoneses.
O que nos leva à questão de avaliação do conhecimento de quem ensina e o que ensina...
O que poderia ser uma simples questão de termos japoneses, transforma- se numa avaliação aprofundada do sistema de ensino das Artes Marciais... e observem que eu nem abordei a situação do Karatedō como "Caminho de vida".
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