提灯に釣り鐘
"Chôchin ni tsurigane." "You can't tell a book by its cover."
"Não se pode julgar um livro pela capa."
É um provérbio conhecido mundialmente, e aceite por todos, mas será que este provérbio pode ser aplicado à realidade dos livros, sites, artigos publicados a respeito de karate?
Acredito que - ao contrário do que afirma o provérbio acima - podemos, sem sombra de dúvidas, julgar uma obra, um "site", livros ou revista referente ao Karate apenas ao olhar a capa desta publicação.
Gosto particularmente de falar de experiências reais, pois elas são reais (^_^)!
Por isso vou comentar um caso que ocorreu comigo e que confirma o que eu estou a dizer a respeito de julgar um livro ao olhar a sua capa.
Há alguns anos atrás estava na casa de um organizador de um estágio internacional de Karate a conversar com o mestre japonês que havia vindo para ministrar o estágio. Como o organizador do evento é uma pessoa que tem uma biblioteca particular interessante a respeito de Karate, estávamos a ver alguns livros. De repente o mestre diz:
- Isto está errado! Apontando para a capa de um dos livros.
Realmente, um dos ideogramas que indicavam o nome do estilo estava mesmo mal escrito, faltava um traço no ideograma.
Para um autor ocidental, um traço a mais ou a menos num ideograma japonês não tem a menor importância.
Mas para uma outra pessoa que tenha mais conhecimento sobre o assunto publicado, a situação será mesmo assim?
É natural esperar que um autor que vá publicar algo sobre karate tenha - no mínimo - conhecimento efetivo sobre a matéria sobre a qual pretende expor o seu conhecimento.
Contudo, o Karate contemporâneo tem uma história complexa e um vocabulário de palavras japonesas bastante extenso.
Qualquer autor de artigos sobre Karate tem de ter os seguintes aspectos em mente:
1. Utilização (ou não) de ideogramas e silabários japoneses.
Conheço casos de editoras que se recusam a publicar obras com caracteres japoneses. Por isso é importante a qualquer autor verificar previamente com a editora a possibilidade para tal. Decidido pela publicação do artigo/livro com caracteres japoneses, o autor - após revisão - deve certificar-se de que todos os caracteres estão bem escritos.
2 - Trancrição fonética oficial dos ideogramas e silabários japoneses.
Uma coisa é usar os caracteres japoneses, outra é transcrever as palavras japonesas usando o nosso alfabeto de 26 letras. É aqui que mais de 95% do trabalhos publicados mundialmente podem ser colocados no lixo!
Existem sistemas
"oficiais" de transcrição fonética japonesa que devem ser utilizados
pelos autores para escrever palavras japonesas usando as letras do nosso
alfabeto, principalmente se o trabalho destina-se a ser lido por muitas outras
pessoas, cujo conhecimento pode ser menor ou maior do que o conhecimento do
autor da referida obra.
Contudo, alguns autores, no impulso de ver difundido o
seu “conhecimento”, não se dão ao trabalho de verificar se a informação que
está a publicar está correta e difundem aquilo que "julgam" estar
correto, o que poderá ou não ser válido em nível de transmissão do
conhecimento. E é desta forma que os erros vão passando de geração em geração.
E antes que alguém já comece a invertar desculpas... Não! Não há desculpa para a falta
de pesquisa em se tratando de publicação de trabalhos! Se não se sabe, não se
faz!
No mundo marcial são incontáveis as fontes... mas nem todas são de
confiança e muitas apresentam informações muitíssimo questionáveis. Apenas
procurando, perguntando e questionando é que podemos realmente
"aprender" as artes que praticamos.
Copiar faz bem nos primeiros
passos de qualquer arte, mas não podemos nos acomodar e manter esta postura se quisermos
realmente saber a arte que praticamos ou ensinamos.
Autores sérios fazem
trabalhos sérios, o resto... não passa disto mesmo: resto!
Assim sendo, todos os autores (e
autoras) têm apenas três escolhas possíveis:
1. Usar um sistema de
romanização (transcrição) oficial.
2. Advertir que o autor(a) não
irá utilizar intencionalmente nenhum sistema de romanização (de transcrição fonética).
3. Escrever de qualquer
jeito as palavras japonesas sem uma pesquisa prévia ou advertência aos leitores
sobre a falta de um processo de transcrição fonética.
Resultados de acordo com a escolha feita:
Primeira escolha: Este é
considerado um bom trabalho porque o autor fez um esforço e apresentou
informação correta aos leitores. Independente da qualidade geral do trabalho, o
autor definitivamente fez uma pesquisa válida e colocou-a no seu trabalho. É o tipo de esforço que é apreciado por todos que entendem o valor do "esforço" pessoal.
Segunda escolha: Neste caso
o autor escreve no início do seu trabalho a seguinte advertência aos leitores:
"Intencionalmente, nenhum sistema de romanização da escrita japonesa foi
utilizado”. Isto torna o trabalho aceitável, porque o autor informa que não irá
utilizar nenhum sistema de romanização (por alguma razão).
O autor pode não
estar muito seguro sobre a utilização de um método de romanização ou também
pode não ser culpa do autor a não inclusão das transcrições fonéticas: alguns
editores simplesmente não aceitam a inserção de "macron" ou escrita
japonesa nos títulos que irão publicar, fazendo com que o valor da obra do
autor e o conhecimento nela contido seja diminuído.
Nesta categoria nós
encontramos, por exemplo, Dō e Do.
A transcrição fonética japonesa correta
é "Dō", enquanto que a forma mais conhecida é "Do".
Vamos ver este caso em particular a fim de dar uma visão geral a respeito do assunto.
Em ideogramas, a palavra Dō é escrita da seguinte maneira: 道.
Mas os ideogramas não dão a menor referência a respeito de como deve ser a transcrição fonética, assim, devemos escrever a mesma palavra usando os silabários japoneses. neste caso, a palavra Dō é escrita da seguinte maneira: どう
Agora sim!, podemos decompor a palavra e saber como transcrevê-la com o nosso alfabeto.
Decompondo:
ど Do
う u
DOU?! Sim! Existem sistemas de transcrição fonética que fazem a transcrição desta maneira. Contudo, no sistema Hepburn de transcrição, aquele "u" excedente (usado para indicar vogal longa) passa a ser indicado através de uma barra (ou acento circunflexo) sobre a vogal anterior.
Consequentemente:
Dou = Dō "Via, Caminho".
Se não tivesse uma forma de identificar as vogais longas, a tradução da palavra DO (sem "acentuação") significa " solo, terra, graus, ocorrência, tempo" etc.. (^_^)
A pergunta agora é: "E como é que eu sei isso?"
Se não quiser aprender japonês, basta que pergunte para alguém que saiba.
Para que servem os estágios com mestres japoneses? Exatamente: para tirar dúvidas!
Voltando ao assunto... Usando uma linha de advertência, o autor diz que - mesmo sabendo a forma correta - a
fim de alcançar a todos os níveis de conhecimento dos leitores, prefere
utilizar a forma mais conhecida. O que faz com que o trabalho esteja correto.
Alguém perguntaria: "A romanização está correta?"
A resposta é "Não".
Mas
"O trabalho está tecnicamente correto?"
A resposta é "Sim".
Terceira escolha:
Independente da qualidade do trabalho (boa ou má) este trabalho será sempre
considerado "mau", porque induz o leitor a acreditar que as palavras
japonesas estão corretamente escritas quando, de fato, elas não estão.
Parece, à primeira vista,
que o autor não se deu ao trabalho de saber a forma correta de apresentar as
suas idéias aos leitores e não levou muito a sério o seu próprio trabalho.
Basicamente, para qualquer pessoa que sabe o que é "esforço", este é um daqueles trabalhos que pode ir diretamente para o lixo.
Muito bom Joseverson...
ResponderExcluirÉ bom saber que está activo.
Ainda está em Portugal?
João Ramalho
Olá, Ramalho Sensei!
ResponderExcluirCá estamos... agora com um par de filhos! (^_^)
Como ambos já estão em idade escolar, posso voltar às vias marciais e lançar uns tópicos para reflexão e debate com o pessoal aqui no blog.
押忍
Osu!
👊
ResponderExcluir✋
押
忍