Não
há escola de artes marciais japonesas – a nível mundial – que não tenham exames
de graduação. E esta afirmação é válida para diversas artes, tais como: o
Karate-dō 空手道,
Jūdō 柔道,
Aikidō 合氣道,
Kenpō 拳法,
Ninpō 忍法
(superficialmente chamado de Nin-jutsu), Shin-jūjutsu 新柔術 (“o
Neo-jūjutsu”) etc..
Independente
das razões – plausíveis ou não – a realidade dos exames de graduação parece ser
a mesma nos quatro cantos do planeta, isto é, os resultados são normalmente bastante
previsíveis.
Assim sendo,
para esta “breve” reflexão, vou dividir o assunto da seguinte maneira:
1. Os
requisitos mínimos para o exame.
2. O programa
do exame.
3. O exame
propriamente dito.
4. O resultado
do exame.
Portanto,
vamos ao que interessa:
1. OS REQUISITOS MÍNIMOS PARA O EXAME.
Os problemas
começam aqui…
O que se entende REALMENTE por “requisitos
mínimos”?
Vamos começar
pelo “elementar”: não existe duas pessoas iguais, portanto, o que pode ser
mínimo para um pode ser o máximo para outro (em termos bastante exagerados).
Contudo, é indiscutível que as pessoas não têm a mesma velocidade de
aprendizado e, por isso, dificilmente se conseguiria um “requisito mínimo” que
satisfizesse todas as condições existentes em um determinado Dōjō.
Alguém agora
vai contrapor:
“Os requisitos mínimos foram feitos com
base em uma média ponderada do número de alunos existentes dentro de
determinada modalidade!”
Ao que eu vou
responder:
Isso é uma explicação estúpida!!
E por que eu
digo isso? Basicamente, a ser verdade essa treta da “média ponderada” (eu já
ouvi tal desculpa algumas vezes), a estatística a respeito dos requisitos
mínimos deveria ser feita de forma dinâmica, isto é, alterada periodicamente a
fim de refletir os alunos novos que entram e alguns alunos que saem.
Sejamos
honestos: isso NUNCA é feito!
No decorrer da
linha temporal de um determinado estilo, alguém determinou os requisitos
mínimos e estes vieram para ficar, sem que tenham qualquer fundamentação lógica.
Assim, dizer que os requisitos mínimos refletem alguma “média geral” é um
disparate completo!
Mas, quer
gostemos ou não, os requisitos mínimos existem (em algumas escolas). Portanto,
o que vem a seguir é:
“Para que servem tais requisitos mínimos?”
«Teoricamente»
os requisitos mínimos seriam aquelas condições limites que, se não satisfeitas,
impediriam ao candidato o acesso ao exame de graduação.
Isso é
bastante questionável tendo como base o fato de as pessoas serem diferentes
entre si e, portanto, seria necessária uma tabela de requisitos flexível…
Mas, na vida
real, estas condições são “obedecidas” com base no que está definido e pronto.
Assim, mesmo que pouco racionais, os requisitos servem para impedir
determinados embaraços em se tratando de nivelar os candidatos a determinada
graduação.
2. O PROGRMA DO EXAME.
A situação
continua a deteriorar a cada instante que avançamos neste assunto, porque, por
incrível que isso possa parecer, o assunto “PROGRAMA DO EXAME” ainda é tabu em
algumas escolas! A falta de transparência e mistério que apresentam algumas
escolas e instrutores a respeito do programa de exame é, por si só, um sinal alarmante
de que algo não está bem.
E qual é o
motivo deste “véu de mistério” que envolve o programa do exame? Isso é simples:
porque muitas escolas realmente não têm um programa de graduações definido!
Nestes casos, o exame é uma mistura de coisas feitas às pressas (nas coxas) com
um punhado de coisas pedidas ao acaso… onde aqueles alunos que são “mais
amiguinhos” do instrutor (ou submetidos a outras situações mais obscuras) sempre
saem com a graduação pretendida, infelizmente.
Novamente,
vamos começar pelo princípio respondendo à pergunta:
“O que é um programa de exame?”
«Teoricamente»
um programa de exame é a descrição do conhecimento e técnicas fundamentais que um
candidato à determinada graduação deve saber. Sendo progressivo e acumulativo,
isto é, o programa indica de forma sequencial todo o conhecimento que deve
possuir o candidato para o exame a que se propõe sendo que este sempre irá acumular
os programas precedentes.
Até aqui, nada
de novidade…
A questão
agora é:
“A respeito de que «conhecimento» estamos a
falar?”
Eis um dos
pontos fulcrais dos exames de graduação!
Na esmagadora
maioria das escolas de artes marciais japonesas a nível MUNDIAL, quando falamos
de «conhecimento» referimo-nos apenas às questões “práticas” de determinada
arte, sendo que as questões “teóricas” são apenas raramente mencionadas ou não
existem de todo (e, quando existem, apenas aparecem nos exames para faixas
pretas)!
Nas boas
escolas, aquelas que seguem uma linha tradicional de ensino japonês, o programa
inclui «conhecimento» teórico e prático, pois é a teoria fundamenta a prática.
Nas “outras” escolas, o aspecto “prático” dita 100% do exame.
Não quero
dizer que as “outras” escolas estejam “erradas”, apenas contemplam 50% daquilo
que deveria ser ensinado a respeito de determinada arte marcial, mas isto já é
uma questão de escolha de cada instrutor em particular. Como tudo, é minha opinião
pessoal que há bons instrutores e que existem os “outros”.
Não vou
comentar sobre isso, porque é um assunto que pode ser amplamente visto aqui no
meu blog na parte de Bunbu-ichi e a sua respectiva fundamentação.
3. O EXAME PROPRIAMENTE DITO.
Bem. Sem blá
blá blá inútil e tretas transcendentais:
“O que vemos na realidade (excetuando as
boas escolas)?”
Marca-se um
final de semana para serem verificados apenas os aspectos “práticos” de uma determinada
arte e... fim!
Mesmo que
pareça «só isso», há de se saber ler nas “entrelinhas” do que acabou de
ocorrer! Para começar, existem três tipos de exames identificáveis à partida:
1.
O exame de Kyū (faixas coloridas). **
2.
O exame de Shodan (faixa preta inicial). **********
3.
O exame de Dan (faixas pretas subsequentes). *****
(Os asteriscos
são os graus de dificuldade de 0 a 10.)
Observem que
eu nem vou entrar no assunto sobre as diferenças entre “graduações de faixas pretas" e as “graduações de instrutor”… (^_^)
Pois bem, em «regra geral», os exames das graduações
coloridas são bastante flexíveis e, em certa medida, bastante adaptáveis. O
grau de exigência é baixo ou baixíssimo e não se dá a importância aos detalhes.
Quando o
candidato chega à faixa marrom/castanha deverá ser submetido ao exame para a
faixa preta inicial… aqui as coisas ficam mesmo feias! Deixa-se um período de
uma certa liberdade e facilitismo e entra-se no “ritual de passagem”, quando o
aluno deixa as faixas coloridas para trás (literalmente) e passa a ser um
Sensei (sem saber o que isso significa realmente). Ao faixa marrom é exigido
tudo e mais além.
Por fim, chega-se
aos exames de Dan, novamente o grau de exigência cai consideravelmente e assim
será até ao final da vida de praticante.
Estas são «regras
gerais», ou seja, aquilo que é mais fácil de encontrar quando se assiste a um
exame de artes marciais japonesas. Naturalmente, as exceções confirmam as
regras, portanto, não é algo “absoluto” (piores e melhores exemplos são
encontrados).
4. O RESULTADO DO EXAME.
Considerando-se
todo o universo dos praticantes de artes marciais japonesas a nível mundial,
pode-se afirmar – com certeza – que estatisticamente, o número de reprovações num
exame de graduações tende à inexistência. Mesmo que reprovações ocorram, elas
não são – nem de longe – um número a ser considerado em comparação ao número de
aprovações.
Sendo isto
verdade, analisemos os casos de reprovação.
Tenho visto, em
exames de diversas artes marciais japonesas, os instrutores chegarem perto do candidato e dizerem: “falta-te isto,
falta-te aquilo…”. Mas até hoje, eu NUNCA ouvi um instrutor dizer: “faltou-me ensinar-te isto,
faltou-me treinar-te mais naquilo.” no final de um exame...
Atribuem-se
más notas, maus desempenhos aos alunos, mas sendo uma dinâmica conjunta, o duo
instrutor/aluno são, ou deveriam ser, ambos avaliados... por ser esta a forma mais justa!
Quando alguém
vai a exame, as coisas que se esperam são. “nervosismo” (por saber (ou não) o
que está em jogo), precipitação e pressa em fazer as técnicas ou responder às
questões teóricas. Coisas pelas quais todos nós passamos. Quando fazemos exame com
instrutores que nos conhecem, alguns levam em consideração tais fatores, outros
instrutores (para passar uma imagem de "duros"), nem por isso. Mas pode-se contar sempre com pessoas "estranhas" nos exames
para faixas pretas e, nestes casos, a compreensão do instrutor de nada irá
valer e, portanto, apenas o conhecimento e treinos efetivos serão realmente úteis.
Agora vem a
minha opinião pessoal, aquilo que eu "acho" que deveria ser feito (^_^)… Quando de um exame, tanto o aluno como o instrutor respectivo deveriam ser chamados ao centro do Dōjō, sendo que o "examinado" seria o aluno e
o resultado do exame seria atribuído a ambos (aluno e instrutor), porque o aluno é o produto do (bom
ou mau) ensino de determinado instrutor em particular.
Isso lembra-me
o caso de Ōyama Masutatsu, no campeonato mundial aberto de artes marciais
em 1973, onde ele disse que cometia seppuku (matava-se) se o seu estilo não
vencesse a competição. Retirou a espada da bainha, colocou ao seu lado e ficou sentado à espera do resultado final. Naturalmente,
os seus alunos venceram a competição porque ele sabia o que ele tinha ensinado!
Foi como um tapa com luvas de pelica na esmagadora maioria dos instrutores de hoje em dia (ocidentais ou orientais): “Eu sei o que eu ensinei e garanto o
resultado dos alunos que formei!”
Face o exposto acima, para
concluir esta breve reflexão, resta-me apenas lembrar que o produto, o bom ou mau
aluno também depende do bom ou mau instrutor e o desempenho ou resultado de um candidato
a um exame de graduação (seja a graduação que for) está na razão direta do ensino recebido e determinação em fazer um bom exame demonstrada pelo aluno.
Concluo, portanto, que não ensinar e cobrar é estupidez (pura e dura)!