No decorrer
desta semana, durante o treino de Aikidō, estávamos a conversar (eu e o Luís)
sobre apresentação de informação básica que o Luís estava a preparar para nos dar
(a mim e aos demais alunos do nosso clube), quando o Luís, em tom de piada disse: “Será
que o Joséverson Goulart aprova este trabalho?” Achei que, para manter o
espírito de brincadeira, deveria criar um “selo de qualidade” para fornecer ao
trabalho do Luís… e assim o fiz!
Portanto, como
brincadeira, coloquei um ”selo de qualidade” no trabalho do Luís – e,
aproveitando a ocasião – coloquei um selo no trabalho do Denis Andretta também.
(^_^) [Acreditem-me, não o fiz de ânimo leve.]
Porém, o que
eu não podia esperar era que um assunto que começou por brincadeira tomasse as
proporções que tem tomado, desde o seu começo há dois dias atrás até ao momento.
Alguns autores
de obras diversas sobre artes marciais (Karate e Jūdō na sua maioria) , amigos
no Facebook, perguntaram-me – também em tom de brincadeira – se os trabalhos
deles também levavam um “selo de qualidade Joséverson Goulart”…
Caros amigos,
gostaria de deixar uma coisa bastante clara a respeito da “brincadeira” com o
Luís e o modo como eu vejo as publicações, blogs, sites etc. a respeito da
cultura japonesa (da qual eu gosto mesmo MUITO): mesmo que seja uma brincadeira despropositada (naquele
momento), o Luís e o Denis SÓ receberam o selo porque os trabalhos deles
preenchem TODOS os requisitos que eu considero importantes em trabalhos sobre a
cultura japonesa e, neste ponto, eu não brinco!
Deixem-me,
então, “explicar” a brincadeira e, só então, poderão entender que de “brincadeira”
só tem o contexto.
Pois bem… os
requisitos para receber o “Selo de Qualidade Joséverson Goulart” (indicados na
figura do próprio selo) têm dois aspectos essenciais:
- 1 - A exatidão cultural japonesa. (Dos pontos 1 ao 5 nos requisitos.)
- 2 - A exatidão do conteúdo da informação. (Ponto 6 nos requisitos.)
Se não
satisfeitos TODOS os requisitos, mesmo a brincar, eu não considero o trabalho
como sendo BOM e, portanto, não vou mentir ou validar algo que eu mesmo não
acredito, nem indicaria tal trabalho como fonte de pesquisa efetiva ou fidedigna (porque na realidade não o é).
Consequentemente,
dado o meu compromisso com aquilo que eu acredito e com os princípios que eu defendo, cumpre-me lembrar algo que
também encontrei no Facebook há alguns dias (^_^):
“O errado é errado, mesmo quando todos o
estiverem fazendo, o certo é certo, mesmo quando ninguém o estiver fazendo.”
Nada podia
estar mais dentro do que eu penso!
Neste sentido,
apesar de eu não gostar de mostrar trabalhos mal feitos (por uma mera questão
de educação) é necessário – dado o pouco crédito que algumas pessoas dão ao que
eu digo (^_^) – dar um exemplo de vida real às pessoas que gostam de escrever
livros, publicar artigos, criar blogs e sites sobre assuntos que dizem respeito
à cultura japonesa para que as mesmas tenham em mente constantemente que os
seus trabalhos estão sempre a ser vistos por quem sabe menos, o mesmo ou mais
do que elas.
Há alguns anos
atrás, houve aqui em Portugal um estágio Internacional de Shitō-Ryū, para o
qual eu fui convidado. O convidado principal era um Mestre japonês – não vou citar
nomes dos intervenientes por questões óbvias (a não ser que os mesmos queiram
que eu os identifique).
Estávamos na casa do organizador do evento momentos
depois do estágio, entre uma conversa e outra, o Mestre e eu estávamos
a ver os imensos livros sobre artes marciais na biblioteca do organizador do
estágio. Entre tantos livros, de repente, o mestre japonês paga o seguinte
livro...
E diz (suas
palavras EXATAS foram): “Isso está errado!”
(É fácil lembrar uma frase tão curta e tão acertada! (^_^) )
Passa-me o
livro e continua: “Este Kanji está errado!”
Para quem escreve artigos, livros, etc. sobre este estilo de Karate, o erro é - ou deveria ser - evidente!
De fato, falta um traço no ideograma! O Ryū 流 da palavra Shitō-Ryū 糸東流 é composto por 10 traços, este que está na capa do livro tem apenas 9 traços!
O Kanji apontado pelo Mestre está MESMO errado! E não há voltas a dar! Não há
desculpas, não há palavrinhas mansas para encobrir um trabalho mal feito! E, podem ter
certeza, este não é um caso isolado! Há muuuuuuuuuitos mais!
Se cobramos, exigimos a
correção dos movimentos a respeito dos Kata, das técnicas… porque também não somos rígidos na apresentação da informação correta?
Alguém agora
vai dizer:
- “Mas eu não sei japonês!”
Se vai
publicar um livro, escrever um artigo, criar um site, ou difundir um Blog sobre cultura japonesa, não
precisa - necessariamente - saber japonês! Basta perguntar para quem sabe!
Nesta altura da evolução
onde estamos ligados por redes sociais, basta procurar o nome de alguém e fazer
a pergunta diretamente!
Não se justifica apresentar trabalhos com erros
grosseiros por causa de pouca informação e da falta de verificação da mesma.
- “Mas eu não quero perguntar! Eu já sei
isso!”
O fato de “não
perguntar”, talvez apenas comprove que quem diz tal disparate não sabe mesmo
nada a respeito do que supostamente está a difundir... Não é de admirar, pois, a quantidade de trabalhos medíocres difundidos por todo o mundo!
Voltemos aos
trabalhos sérios e vejamos cada um dos requisitos (Ah! Não é necessário perguntar-me
o que é necessário para receber o “Selinho”, basta ler os requisitos e ver se o
seu trabalho se enquadra em cada um dos os pontos):
1 - Apresentar sistema de transcrição fonética
oficial.
2 - Palavras japonesas sem terminação “S”
no plural.
3 - KANJI (ideogramas japoneses) corretos.
4 - KANA (caracteres japoneses) corretos.
5 - Tradução correta das palavras e
expressões japonesas.
6 - Informação fundamentada em pesquisa
efetiva.
Como
eu disse anteriormente, dos pontos 1 ao 5 são "o respeito pela cultura japonesa e
a forma correta de expressar o idioma".
Novamente:
se não sabe japonês, pergunte para quem sabe! O que não pode é apresentar
informação “ao calhas”, sem qualquer fundamentação válida.
O
ponto 1: existem três sistemas oficiais para passar os ideogramas e caracteres
japoneses para as letras do nosso alfabeto, a saber: KUNREI, NIHON e HEPBURN.
Basta escolher aquele que mais gostar!
O ponto 2: não
há coisa mais frustrante do que ver as regras ortográficas portuguesas sendo
aplicadas à língua japonesa! Nenhuma palavra japonesa tem plural acabado pela
consoante “S”… Nenhuma!
Os pontos 3 e
4: Estes dois pontos são opcionais, porque não há, em se tratando de
publicações ocidentais, a obrigação de se apresentar ideogramas ou caracteres
japoneses – DESDE QUE o sistema de transcrição fonética seja obedecido!
Contactou-me
um autor dizendo que a sua editora não permitia a inserção de ideogramas e
caracteres japoneses porque isso iria aumentar os custos da edição. Exposto
isto, nestes termos, nada mais natural do que manter apenas a transcrição das
palavras e expressões japonesas.
O ponto 5:
neste ponto há muita coisa “convenientemente inventada” a ser partilhada como sendo
informação correta. Vou dar apenas um outro mal exemplo, onde uma única
expressão foi colocada num livro de Karate representando um significado
completamente “estranho” ao significado original. Eis o que estava no livro:
気本 Kihon
– “Espírito fundamental”.
Eis o que
deveria estar no livro:
基本 Kihon
– “Fundamento(s), Base(s)”.
A explicação
para o número de problemas que este livro levantou daria para escrever outro
livro, porque, em primeiro lugar, o autor não se deu ao trabalho de verificar
se o ideograma era o correto (o que definitivamente não o fez); em segundo
lugar, lançou uma tradução que partindo de ideogramas isolados (e errados) fez
com que o próprio autor entrasse em divagações (acredito que, se no preciso
momento em que estivesse a escrever Kihon, tivesse perguntado a si mesmo: “Eu
sei o significado disso?” e feito uma pesquisa breve, esse problema teria sido
resolvido!) ; em terceiro lugar, lançou o assunto para o mundo da
espiritualidade (coisa que apaixona os amantes das artes marciais) e tantas
outras coisas que advém de um erro básico… o que nos leva, por fim, ao…
Ponto 6:
Pesquisa! Eis a “pedra no sapato” de todo autor sério! (Porque também há
autores pouco sérios.)
Atirar
informação na internet, qualquer um faz! Eu digo “qualquer um” MESMO!
Contudo, questionemo-nos:
“o que de fato pode ser fundamentado nas publicações que encontramos difundidas
pelos meios de comunicação, os “media”, livros, revistas, jornais, blogs e
sites?”
(^_^)
Assim, para
concluir esta abordagem ao “Selo de Qualidade Joséverson Goulart” (^_^) uma
coisa que inicialmente era uma brincadeira a nível do clube onde pratico Aikidō,
está profundamente baseada em requisitos válidos para TUDO que se difunda como
informação fundamentada e correta sobre a cultura japonesa, quer sejam artes
marciais, cerimônias do chá, criação de carpas, cultivo de bonsai, manufatura de armaduras, pinturas em blocos de madeira, religiões, danças etc..
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