Hoje vou cometar mais um ideograma japonês que, para mim, é mais um daqueles exemplos de conceitos mal interpretados no ocidente. Refiro-me ao ideograma 武 "BU", usado em palavras como BUJUTSU ou BUDŌ.
Vamos, antes de mais nada, "entender " a ideia por trás deste ideograma e, desta forma poder situar as interpretações que agora conhecemos.
No nosso dia a dia, ortograficamente falando, o ideograma BU é visto como um único caracter, é visto como "um todo" a ser escrito... Simples assim! Mas, na verdade o ideograma BU é o resultado da junção, da composição de "dois" ideogramas específicos, a partir dos quais podemos entender a ideia que este transmite.
O ideograma BU foi criado a pardir dos seguintes ideogramas:
KA 戈 - "alabardas", "lanças" e
SHI 止 - "parar".
Usando-se, então, estes significados, é criado o ideograma que já conhecemos, isto é, graficamente, fica-se com a "ideia" de que BU seria, literalmente, "parar as alabardas (lanças) (inimigas)".
BU 武 - ideia original: "parar as lanças inimigas".
Mas, na prática, o que significa "Parar as lanças inimigas"?
A nível dos clássicos militares antigos (chineses e japoneses), existem duas opções disponíveis para "parar as lanças inimigas": a via diplomática (pacífica) e a via belicista (guerra). Isto quer dizer, sem qualquer dúvida, que há formas distintas de resolução de conflitos. Há, portanto, opções claras e opostas para "parar as ações violentas dos inimigos".
De qualquer forma, esta visão de "dualidade de opções" foi sendo transformada com o passar dos tempos, de tradução em tradução, chegando ao termo "marcial", utilizado nos dias de hoje. De fato, eu não sei quem foi o primeiro autor ou primeiro indivíduo a sugerir a palavra "marcial" para o ideograma BU, mas esta tradução veio a causar muito mais inconvenientes do que oferecer uma tradução que se aproximasse a ideia original do grafismo chinês ou japonês.
E por que eu digo isso? Porque "Marcial" refere-se ao Deus Marte, o "DEUS ROMANO DA GUERRA". Como podem ver, "DEUS DA GUERRA" refere-se e indica uma opção única, isto é, a guerra em si mesma, o que não está de acordo com os ideogramas orientais originais.
Na verdade, tanto na China como no Japão, "BU" é traduzido por "militarismo" e não "marcial" e, no militarismo, as vias diplomatícas e da guerra estão presentes!
É justamente aqui que reside a diferença de "mentalidade" entre o que é praticar o BUDŌ como "Via marcial" ou praticar o BUDŌ como "Via militar".
Diferente do que é atualmente apregoado na esmagadora maioria das escolas de "artes marciais", o treino MILITAR difere consideravelmente do treino MARCIAL.
Que fique bem claro: a tradução de BUDŌ 武道 é "Vias Militares" e NÃO "vias marciais"... com tudo que isso possa implicar.
Este assunto poderia gerar um livro, explicando as razões porque a interpretação correta dos ideogramas e cultura japoneses seriam responsáveis pela mudança radical na forma de treino do BUDŌ contemporâneo.
Contudo, não é meu objetivo escrever qualquer livro explicando o que já deveria ser do conhecimento geral, uma vez que há sempre autores sempre afoitos e dispostos a difundir material sem que sejam feitas pesquisas prévias e fundamentação fidedignas das informações apresentadas.
Contudo, não é meu objetivo escrever qualquer livro explicando o que já deveria ser do conhecimento geral, uma vez que há sempre autores sempre afoitos e dispostos a difundir material sem que sejam feitas pesquisas prévias e fundamentação fidedignas das informações apresentadas.