Se tem algo que eu não entendo nas artes marciais ensinadas atualmente é a verdadeira veneração que algumas pessoas fazem à volta do termo "DŌ", como se este fosse "tudo" que uma arte tem a oferecer.
Falam, escrevem, teorizam e, em muitos caos, colocam em prática algumas atitudes verdadeiramente disparatadas em nome deste mesmo "DŌ".
Mas, se este "DŌ" NUNCA está isolado numa expressão japonesa (se estivesse só - como sendo uma palavra única - NUNCA seria pronunciado ou lido como "DŌ", mas "MICHI") referente às artes marciais, por que não se fala, com a mesma paixão, entusiasmo e veneração sobre os termos e expressões que antecedem este termo?
Por exemplo, Jūdō ("O Caminho da Suavidade") é composto por Jū+dō; Aikidō ("O caminho da União dos Espíritos") é composto por Ai+ki+dō; Kyūdō ("O caminho do Arco (e flechas)") é composto por Kyū+dō;, Kendō ("O Caminho da Espada") é composto por Ken+dō... e mesmo Karatedō ("O Caminho das Mãos Vazias") é composto por Kara+te+dō! (1)
Mas ninguém cria blogs, páginas na internet, livros, revistas a respeito dos termos que vem ANTES, isto é, termos como Jū-, Aiki-, Kyū-, Ken-, Karate-, etc.. Ah! Mas o "DŌ"... este é "Zen"!! Dizem.
Então, pode-se concluir que a arte como um todo vale menos do que a arte abreviada, resumida a uma palavra que significa "uma via" ou "um caminho" que - em muitos casos - chega às raias da magia e do misticismo exacerbado, sem que nada fundamente tal atitude...
Será isto "o Caminho, a Via Marcial" deixado pelos antigos mestres?
Será só este o nosso entendimento efetivo daquilo que praticamos ou entendemos como vias marciais?
Será que alguém tem algo a ganhar com isso, quero dizer, com a redução do entendimento e conhecimentos mais abrangentes?
Será que esta veneração exagerada é feita com algum propósito menos claro? (Considerada a situação atual de apego quase cego a uma "via" ou "caminho" que não se compreende bem, qualquer hipótese que possa explicar este "fenómeno" é tão válida e boa como qualquer outra.)
Não estaremos a "sobrevalorizar uma parte" em detrimento do "todo"?
Esta deturpação da real compreensão do que seja verdadeiramente "o caminho", "a via" já está tão enraizada no subconsciente dos praticantes que chega a toldar as suas visões, cegando-os para o que realmente praticam.
(In)felizmente, meus amigos, o "caminho" que escolhemos a nível de artes marciais começa com a "orientação", e esta orientação é dada palas palavras (ideogramas) que «antecedem» este mesmo ideograma "DŌ".
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(1) É verdade que há inúmeras teorias (umas mais credíveis do que outras) sobre o ideograma KARA da palavra KARATE, desde a sua origem em Okinawa até a sua posterior adaptação e utilização em território japonês, mas esta discussão não vem ao caso neste momento.
Muito interessante este pensamento!
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