Tenho visto ao longo dos anos versões muito particulares a respeito da etiqueta básica dentro do Dōjō... umas versões curiosas, outras versões bastante infelizes, mas nenhuma versão tão disparatada como a recente "teoria do nariz esborrachado"! (É recente - para mim - porque até ao fim do ano passado e começo deste ano eu nunca tinha ouvido falar da mesma.)
A teoria é a seguinte:
"Na hora do Zarei (Saudação ajoelhada) colocam-se as mãos de forma que as mesma formem um triângulo a fim de que, se a nossa cabeça for empurrada, os dedos irão proteger o nariz do embate no solo".
Essa teoria é um disparate por dois motivos elementares:
1º - Se a nossa cabeça for empurrada para o solo, não há triângulo feito pelos dedos que possa safar o nosso nariz!!
Amigo, só há uma maneira de saber se isto funciona: TESTAR!!
Apenas a experiência pessoal produz comentários válidos. Peça a alguém que empurre a sua cabeça e veja se o triângulo funciona e o nariz é defendido!
Na realidade, na vida REAL... a nossa cara vai diretinha ao chão! "Adeus nariz!"
2º - Sejamos minimamente racionais: Quem seria estúpido o suficiente para empurrar a cabeça de outro dentro de um Dōjō? Ou o indivíduo é um anormal ou o Dōjō está entregue à bicharada, verdadeira javardice entre instrutor e alunos!
Mas vamos lá continuar com esta linha pouco provável de pensamento - que exista a possibilidade de isso acontecer na vida real.
Mesmo que estivéssemos num Dōjō inimigo, não estaríamos atentos o suficiente para perceber o que se passa ao nosso redor?!
Isso é básico!
Onde raio está o Zanshin?
Para que serve o comando "Ki o tsuke" ("Atenção!") no começo de cada saudação?
Humpf! Pelo visto não serve para nada nestes Dōjō.
Portanto, a teoria do "nariz esborrachado" não tem qualquer fundamento prático.
Além disso, na saudação correta - deixem-me escrever novamente... "SAUDAÇÃO CORRETA" a cabeça está a aproximadamente 3 punhos fechados de distância do solo, o que nos permite um tempo de reação (se estivermos atentos) (^_^) suficiente para evitarmos dar de cara no solo.
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Agora... outro ponto interessante da etiqueta - e isso só vemos no Karate.
É quando determinados praticantes de karate sentam-se em Seiza, abrem os joelhos de tal forma que mais parecem estar a fazer espargata! (^_^)
Isso, desculpem-me a sinceridade, é mesmo duplamente ridículo! Ridículo porque vai contra a etiqueta fundamental e formal utilizada dentro dos Dōjō e ridículo porque é incentivada por determinados instrutores que acham que ao assumir esta postura serão "mais marciais" do que outros!
Os pontos da etiqueta apresentados na figura acima (que estão traduzidos a seguir) são elementares e não trazem nenhuma explicação disparatada nas entrelinhas. São as formas de etiqueta básicas normais e formais da cultura japonesa... nada mais do que isso.
Passo, então à tradução da figura acima:
1. OS PONTOS DA ETIQUETA. Inclinação do corpo - aproximadamente 30 graus.
2. Não é só a cabeça que desce, usa-se todo o corpo. Os olhos olham direto em frente e a boca fica fechada.
3. As mãos partem do lado do corpo e descem até a parte de cima dos joelhos.
4. As mãos são colocadas aproximadamente a 1 punho fechado acima dos joelhos.
5. As pontas dos pés ficam abertas a aproximadamente 60 graus.
6. Os calcanhares ficam juntos.
7. Não se levantam as nádegas.
8. Os cotovelos não abrem para o lado de fora.
9. A distância (do rosto ao solo) é aproximadamente 3 punhos fechados.
10. Os "dedões" dos pés ficam um sobre o outro (comumente o "dedão" direito sobre o esquerdo).
11. As mãos são afastadas levemente a uma distância aproximada de 2 punhos fechados, no formato do ideograma HACHI 八 "número oito".
12. COMO FAZER O SEIZA:
Sente-se com uma abertura de pernas de aproximadamente 2 punhos fechados.
[ Fonte das imagens: 目で見る柔道教室 / Autor: 真柄 浩 ]
(^_^)
Outro exemplo:
[Fazer um "click" na imagem para visualizar em tamanho real.]
Fonte: 柔道試合における礼法(抜粋)
NOTAS SUPLEMENTARES:
1. Para não me acusarem de parcialidade na apresentação de informação, aqui vai um trecho do livro de Wagner J.Bull "Aikido - O Caminho da Sabedoria - A técnica" - onde se pode ver o "triângulo", mas nenhuma informação que fundamente a sua utilização é apresentada. Além disso, pode-se também ver algumas diferenças de posicionamento dos pés (no caso dos primeiros pododátilos, artelhos maiores ou vulgos "Dedões").
Será necessário, portanto, ouvir a opinião fundamentada de algum Aikidōka ("Especialista em Aikidō") para saber a razão da utilização do triângulo quando da saudação.
[Não posso deixar de notar, infelizmente, a falta do sistema de trancrição fonética oficial no referido livro.]
2. Para finalizar, eis um trecho do livro "Kendō: elements, rules, and philosophy" de Tokeshi Jinichi.
Aqui temos novamente o triângulo mas nenhuma informação que o fundamente.
Mais uma vez, precisamos ouvir a opinião fundamentada de um Kendōka ("Especialista em Kendō") para saber a razão da utilização do triângulo quando da saudação.
[Não posso deixar de notar, felizmente, o sistema de trancrição fonética oficial no referido livro.]
(^_^)