quinta-feira, 1 de março de 2012

66. 礼法 REIHŌ - Etiqueta.

Tenho visto ao longo dos anos versões muito particulares a respeito da etiqueta básica dentro do Dōjō... umas versões curiosas, outras versões bastante infelizes, mas nenhuma versão tão disparatada como a recente "teoria do nariz esborrachado"! (É recente - para mim - porque até ao fim do ano passado e começo deste ano eu nunca tinha ouvido falar da mesma.)

A teoria é a seguinte:

"Na hora do Zarei (Saudação ajoelhada) colocam-se as mãos de forma que as mesma formem um triângulo a fim de que, se a nossa cabeça for empurrada, os dedos irão proteger o nariz do embate no solo".

Essa teoria é um disparate por dois motivos elementares:

1º - Se a nossa cabeça for empurrada para o solo, não há triângulo feito pelos dedos que possa safar o nosso nariz!!
Amigo, só há uma maneira de saber se isto funciona: TESTAR!! 
Apenas a experiência pessoal produz comentários válidos. Peça a alguém que empurre a sua cabeça e veja se o triângulo funciona e o nariz é defendido! 
Na realidade, na vida REAL... a nossa cara vai diretinha ao chão! "Adeus nariz!"

2º - Sejamos minimamente racionais: Quem seria estúpido o suficiente para empurrar a cabeça de outro dentro de um Dōjō? Ou o indivíduo é um anormal ou o Dōjō está entregue à bicharada, verdadeira javardice entre instrutor e alunos!

Mas vamos lá continuar com esta linha pouco provável de pensamento - que exista a possibilidade de isso acontecer na vida real. 

Mesmo que estivéssemos num Dōjō inimigo, não estaríamos atentos o suficiente para perceber o que se passa ao nosso redor?! 
Isso é básico!
Onde raio está o Zanshin? 
Para que serve o comando "Ki o tsuke" ("Atenção!") no começo de cada saudação? 
Humpf! Pelo visto não serve para nada nestes Dōjō.

Portanto, a teoria do "nariz esborrachado" não tem qualquer fundamento prático. 

Além disso, na saudação correta - deixem-me escrever novamente... "SAUDAÇÃO CORRETA" a cabeça está a aproximadamente 3 punhos fechados de distância do solo, o que nos permite um tempo de reação (se estivermos atentos) (^_^) suficiente para evitarmos dar de cara no solo.
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Agora... outro ponto interessante da etiqueta - e isso só vemos no Karate.
É quando determinados praticantes de karate sentam-se em Seiza, abrem os joelhos de tal forma que mais parecem estar a fazer espargata! (^_^) 
Isso, desculpem-me a sinceridade, é mesmo duplamente ridículo! Ridículo porque vai contra a etiqueta fundamental e formal utilizada dentro dos Dōjō e ridículo porque é incentivada por determinados instrutores que acham que ao assumir esta postura serão "mais marciais" do que outros!

Os pontos da etiqueta apresentados na figura acima (que estão traduzidos a seguir) são elementares e não trazem nenhuma explicação disparatada nas entrelinhas. São as formas de etiqueta básicas normais e formais da cultura japonesa... nada mais do que isso.

Passo, então à tradução da figura acima:

1. OS PONTOS DA ETIQUETA. Inclinação do corpo - aproximadamente 30 graus.
2. Não é só a cabeça que desce, usa-se todo o corpo. Os olhos olham direto em frente e a boca fica fechada.
3. As mãos partem do lado do corpo e descem até a parte de cima dos joelhos.
4. As mãos são colocadas aproximadamente a 1 punho fechado acima dos joelhos.
5. As pontas dos pés ficam abertas a aproximadamente 60 graus.
6. Os calcanhares ficam juntos.
7. Não se levantam as nádegas.
8. Os cotovelos não abrem para o lado de fora.
9. A distância (do rosto ao solo) é aproximadamente 3 punhos fechados.
10. Os "dedões" dos pés ficam um sobre o outro (comumente o "dedão" direito sobre o esquerdo).
11. As mãos são afastadas levemente a uma distância aproximada de 2 punhos fechados, no formato do ideograma HACHI 八 "número oito".

12. COMO FAZER O SEIZA: 
Sente-se com uma abertura de pernas de aproximadamente 2 punhos fechados.

[ Fonte das imagens: 目で見る柔道教室 / Autor:  真柄 浩 ]

(^_^) Outro exemplo:


[Fazer um "click" na imagem para visualizar em tamanho real.]


Fonte: 柔道試合における礼法(抜粋)

NOTAS SUPLEMENTARES:


1. Para não me acusarem de parcialidade na apresentação de informação, aqui vai um trecho do livro de Wagner J.Bull "Aikido - O Caminho da Sabedoria - A técnica" - onde se pode ver o "triângulo", mas nenhuma informação que fundamente a sua utilização é apresentada. Além disso, pode-se também ver algumas diferenças de posicionamento dos pés (no caso dos primeiros pododátilos, artelhos maiores ou vulgos "Dedões").




Será necessário, portanto, ouvir a opinião fundamentada de algum Aikidōka ("Especialista em Aikidō") para saber a razão da utilização do triângulo quando da saudação.
[Não posso deixar de notar, infelizmente, a falta do sistema de trancrição fonética oficial no referido livro.]


2. Para finalizar, eis um trecho do livro "Kendō: elements, rules, and philosophy" de Tokeshi Jinichi.
Aqui temos novamente o triângulo mas nenhuma informação que o fundamente. 
Mais uma vez, precisamos ouvir a opinião fundamentada de um Kendōka ("Especialista em Kendō")  para saber a razão da utilização do triângulo quando da saudação.
[Não posso deixar de notar, felizmente, o sistema de trancrição fonética oficial no referido livro.]
(^_^)

6 comentários:

  1. Joseverson San:

    Já tinha encontrado por aí algures a "teoria do nariz esborrachado". Deu para rir e nem sequer deu para comentar! Isto só nos leva a concluir que há blogues que nem vale a pena perder tempo com eles.

    A tentativa de arranjar justificações ou fundamentos para pormenores ínfimos resulta nisso...

    Pelo contrário aqui temos um post elucidativo.

    Gostaria de acrescentar só algumas pequenas coisas...

    Em Ritsurei há quem defenda que a nível da cervical não há inclinação para a frente, pois entende que coluna vertebral e cabeça devem conservar a mesma linha da posição em que estão aquando na vertical, tal como há quem defenda que as mão se devem manter no local na sua posição natural aquando da voz "Ki o tsuke".

    Em relação ao célebre triângulo ainda há a tese das mãos em frente dos joelhos, esticadas, com os dedos juntos, excepto os polegares...

    Ainda aparece outra particularidade que é a de fazer Seiza sem puxar o pé esquerdo atrás, isto é, poisa diretamento um joelho (normalmente o esquerdo) no chão e a seguir o outro... e os pés ficam no mesmo lugar...

    Portanto, há etiqueta e etiqueta, e há etiquetas para todos os gostos...

    Grande abraço!

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  2. Caro Joseverson:

    1º comentário: MIZUKAKERON 水掛論 (aprendi neste blog)!

    2º comentário: quase que me apetece dizer que foi assim que esborrachei o meu nariz...

    3º comentário: é com posts destes que aprendemos! Parabéns desnecessários!

    Por último uma interrogação: sentamos puxando o pé esquerdo para trás, levantamos com o direito e juntando depois o calcanhar deste ao esquerdo (logo recuando), o que vai criar mais espaço, mais distância que o inicial. Representa a criação deste espaço respeito pela pessoa que acabámos de cumprimentar? Lembro-me do Dr. Armando uma vez ter equacionado esta situação... Já agora gostaria de saber a sua opinião - e aproveitar também para saber se em ritsurei a coluna não dobra só (inclina para a frente) a nível lombar (como refere acima o Dr. Armando).

    Um abraço amigo
    JA Neves

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  3. José.

    Na realidade, voltamos à posição inicial quando colocamos o pé direito à frente e trazemos o pé esquerdo de trás... pelo menos foi assim que aprendi.
    Mas vou procurar mais detalhes fundamentados e volto a falar contigo sobre este assunto em breve. (^_^)

    Quanto à coluna, esta mantém-se em linha reta com a cabeça numa inclinação de aproximadamente 30º. Não há curvatura da coluna, apenas inclinação da mesma.

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  4. Inocentes Sensei. Vamos ver se entendi a sua questão.

    Quando for dado o comando "Ki o tsuke!" 気を付け ("Atenção!") realmente as mãos ficam naturalmente ao lado do corpo, porque este comando é dado pelo instrutor ou um aluno mais graduado para chamar a atenção dos demais alunos - estes, por sua vez, procedem ao alinhamento, arrumam os Dōgi e prestam atenção ao que está por vir.

    Mas se no comando seguinte - na eventualidade de ser o "Ritsurei" 立礼 ("Saudação em pé"), por exemplo - vamos fazer a saudação ao instrutor, após o comando: "Sensei ni... Rei!" 先生に……礼!("Ao intrutor... saudar!"), devemos formalmente fazer a vénia e - neste preciso momento - ambas as mãos descem para frente das pernas, sendo colocadas numa distância de um punho acima dos joelhos. Quando a vénia termina, as mãos voltam naturalmente para o lado do corpo.

    Mas se a sua questão é "as mãos ficarem ao lado do corpo no momento da vénia"... Não! Isso não é lá muito educado! Elas devem mesmo ir para frente do corpo.

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  5. João, sugiro, apenas como reforço a este tópico, uma visualização do documento que está no seguinte endereço;

    http://www.budoukan.com/irast/sidousyo.pdf

    É um pouco mais do mesmo, mas tem MUUUUUITAS figuras! (^_^)
    Gostaria que desse uma olhada, em particular, no tópico a seguir:

    第4章 技能指導の要点と練習法
    "Capítulo 4 - AS DIRETIVAS DO TREINO E OS PONTOS PRINCIPAIS DA PEDAGOGIA TÉCNICA."

    座礼の方法 - "Zarei no hōhō - O método da saudação sentada". (Pág. 57.)
    *** Diz que a cabeça fica a uma distância de 30 cm das mãos (ponto 2) ,

    正座からの立ち方 - Seiza kara no tachikata - "Levantar a partir do Seiza." (Pág. 58, os últimos dois pontos)
    *** 1º ponto diz que a ordem para levantar deve ser inversa à forma feita para sentar... ficando na posição "Ki o tsuke". (Falada anteriormente, no post que eu fiz para o Inocentes Sensei.)

    Portanto, se colocamos o pé esquerdo para trás no começo do movimento para iniciar o Seiza, este pé deverá voltar para frente no último movimento, o que nos coloca novamente na mesma posição de partida, isto é, na posição inicial antes do Seiza.

    *** Respondida a questão, João?
    (^_^)

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  6. Caro Joseverson San:

    Zarei faz-se entre duas pessoas: ou é amigável, ou não é. Em ambos os casos será sempre uma questão de respeito e de educação. Se for entre dois adversários, puxar o pé direito atrás representa ganhar uma maior distância e revela uma maior precaução em relação ao mesmo. Se for de aluno para mestre representa uma deferência dando mais "espaço" a este para melhor ensinar - mais uma vez o respeito! Onaga Sensei ensinou-me assim.

    Repare-se que a "etiqueta" é um ritual que faz parte do que existe da tradição no Karate-Do. Regressamos aos conceitos de tradição e ritual...

    um abraço!

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